quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Chega

Manhã de desenhos animados
(sem a menor graça)
e eu desanimado
tentando melhorar.

Mal estive
mal-estar
mal estou
(que eu não esqueça deste dia).

Mas chega!
Enquanto o fim do ano não chega
algo tem de começar
ou mudar.



Ígor Andrade

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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Que dia?

Quando percebo
que o dia passou
e nem vi
me pego pensando
no que não lembro.



Ígor Andrade

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Acorde

Acordo
de acordo com o sonho...
Descoordenado
desorientado
desiludido
decepcionado
comigo mesmo.

Que vida é esta
que levo
e não me leva
a lugar algum?

Acabo sempre
sendo
o que não me tornei.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Chove (04:44)

Este céu preso
não chora mais que eu
livre.



Ígor Andrade

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O valor é relativo

Uma mulher maravilhosa
disse que eu era um lixo.
Logo reciclei meus pensamentos.



Ígor Andrade

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Mentimos

Eu menti!
Nunca tive ninguém
que mentisse tão bem.



Ígor Andrade

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Não prometa

Promessa é dívida.
Promessa é dúvida.
Promessa é dádiva.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Somos o que somos

Para meu amigo
Fabio Rocha.

Um poeta
precisa de paixão
precisa de pai
precisa de paz
precisa de papel.

Ser humano
é inspiração demais
para nossos devaneios.

Um poeta
precisa de pontes
portas
janelas.

Olhar o céu todo dia
e não se cansar.

Precisa de nada e tudo
precisa de antes e depois
precisa de nunca e sempre.

Existir e escrever
porque a vida é um texto raro
de linhas tortas.

"A poesia
não leva a nada.
Leva a tudo."


A poesia nos levou
e nos trouxe
para este mundo
que é o mesmo e diferente.

Quanto mais penso
que somos poetas
mais sou
um poeta que não pensa.
Só sinto.
Sentir é pensar quieto
ou preocupado
gritar no silêncio
a loucura mais pura.

Sincronicidades à parte
a nossa vida é poesia
sem limite
sem data
sem dia
e sem fim.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Desarmonia universal

Pensando no cosmos
pensando no como
pensando em tentar
não pensar.

(Me sinto preparado
e não sei bem pra quê.
Me sinto esquecido
e não sei bem por quem.)

Não há uma lei
neste momento
neste maldito mundo
que me condene
a parar de pensar
neste universo.

Preciso
de um novo verso
não muito preciso
embora precioso
que me afete
neste dia
que começou diferente.



Ígor Andrade

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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Discutindo a relação...

Para minha amiga
Déa Paulino.

Devemos juntar os cacos
nos levantar da queda
e sermos o que somos
outra vez.

Costumava ser importante
pro sujeito (sem jeito) aqui
ser bom pra você.

Ainda te vejo com os mesmos olhos
(míopes e cansados):
a mesma grandiosa mulher.
Ainda te leio...
Ainda me vejo melhor
porque sou menos pior
quando falo contigo.

Devemos dançar
ou devemos nos aleijar
como amigos
sem música?



Ígor Andrade

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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ruim

Algo me leva pro passado
alguém me leva
sou passado.

Algo que passa me leva
alguém que passa
estou atrasado.

Presente de antes
sou algo perdido
estou durante o fim.



Ígor Andrade

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domingo, 13 de dezembro de 2009

ContemplaDOR

Observar o nada
e aprender
a perder
qualquer tudo
que nunca tive
nesta manhã
de poesia quieta
e saudade falante.



Ígor Andrade

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sábado, 12 de dezembro de 2009

Cores

Inspiro poesia
em noite sufocante
enquanto respiro um ar que não é meu.

Minha paz é branca
toda lembrança, rosada
e a madrugada é azul.



Igor Andrade

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Sem jeito

O que fazer
do que fizeram
quando não se sabe
o que se tem feito?



Ígor Andrade

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Pronuncio a renúncia

Que assim seja:
a boca que cospe
não beija.



Ígor Andrade

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Poema-besta

A vida é burra
a vida me empurra
e eu deixo.

A vida não é burra
a vida não me empurra
e eu me queixo.

A vida sabe
a vida é saber.
Burros somos eu e você.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Fico (ao contrário).

Não consigo dormir
com medo.

Não consigo sentir
sem fome.

Não consigo admitir
o erro.

Não consigo partir.
Que se dane!

É incontestável
toda vontade que tenho
de apenas ter
a tranquilidade
que não chega nunca.

Que se dane!
Não consigo partir.

O erro
não consigo admitir.

Sem fome
não consigo sentir.

Com medo
não consigo dormir.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Óbice

Devo merecer cada palavra que escrevo.
Devo esquecer qualquer plano que não segui.
Devo amanhecer da mesma forma e diferente.
Devo amadurecer, não dever nada e sorrir?


obs: A rima de hoje não importa mais do que dever este poema para minha inquietação.



Ígor Andrade

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Olhos miúdos (este título pode e deve mudar).

Nesta cama
que é um deserto
a sede me ama
e me amo incerto.

Olhando do teto
o quanto sou pequeno
diante do que sinto (grande)
para continuar sozinho
seguindo seguindo
fugindo fugindo
mentindo mentindo.

Daqui de cima
toda paisagem
é uma passagem
de lembrança boa
que não posso suportar.

Inóspito deitar
há de se esperar
eu dono de mim.



Ígor Andrade

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Direito

Para meu irmão, Thiago Andrade.


Justiça seja feita
se a terra foi fértil
a hora é da colheita.



Ígor Andrade

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Feliz idade

Para meu irmão, Thiago Andrade. (Parabéns, meu grande amigo!)


Metade de mim
quer ser como você
crescer como você
viver como você
sem metades.

Seguir sem medos
mover o mundo
fazer de cada dia
o pouco do tudo
ser um sujeito bom.

A outra metade de mim
diz que nunca serei assim
e, sinceramente, acho melhor
porque tenho você
diferente de mim
do meu lado.

Essa vontade viva
de ser o que você é
move minha metade morta
que só ressuscita quando quero
quando espero ser como você
o melhor homem que conheço
com as melhores qualidades
que já conheci.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A festa de ontem

Todos sorriem
todos conversam
todos dançam
todos todos
fazem de tudo
para mostrar o que não são.

Eu não!
Distante de todos
pensando em tudo
calado e profundo
eu e eu
não estou feliz.



Ígor Andrade

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To Be Atriz

Ser esta beleza
do mais simples
me deixa feliz.



Ígor Andrade

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A ausência

Saudade de ti
sede de ti
ser-te enquanto estou só
(e quando estou contigo
também
tão bem).

Só mais um dia
e eu consigo
te trazer a noite.



Ígor Andrade

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Pausa pro lanche

Domingo de sede
dormindo às sete
domina a preguiça.
Que preguiça!

Dor nas pernas
e na barriga cheia
o vazio filosófico
de comer as sobras de ontem
para esquecer a falta de amanhã.



Ígor Andrade

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sábado, 5 de dezembro de 2009

Releitura - 6 kms

Corri outro
segui só
cheguei eu.

Todos juntos
somos o caminho.



Ígor Andrade

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6 kms (passos dados, versos chegados)

Corri
porque queria fugir
do que não sou.

E cheguei
me encontrando
em cada passada.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Com modos

Nunca tive o pavor de perder
sinto a dor
desde que nasci
de ganhar
(sem medos).



Ígor Andrade

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Cri ar

Para a amiga Cris de Souza.

A crise de Cris
me deixa mais crítico
e a criação me deixa anestesiado.

Cris critica
tudo que é critério.
Cris está certa.

Confrontar o óbvio é preciso
preciso de sua falta de juízo.

Cris
crisálida
cristal.

Cris boa
Cris alta
Cris mau.

Crio coragem
porque creio em Cris
e Cris cria asas
no céu que não é mais meu.



Ígor Andrade

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Uma vida em um minuto

Sensação de peso
sem ação eu peso
o quarto vazio
um quadro frio
uma tonelada ou mais
de revolta
o erro volta
e tudo em volta
tanta falta me faz.



Ígor Andrade

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O sentido da vida (ou da vista).

Olhos verdes
que nem são meus
amadurecem minha visão.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Todo

Um céu limpo
uma lembrança imaculada
me sinto sujo.



Ígor Andrade

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Canon

Não fui vencedor.

Um concurso
muda o curso
de um dia.

Se um dia
cheguei a pensar
em qualquer surpresa literária
me enganei.

Cheguei num ponto
que não sei escrever um conto
e minha poesia não me surpreende mais.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Rodízio

Para Rodrigo e Synthia.


Discutem sobre relacionamento
e concluo que não sei me relacionar.
Me dou pouco ou peço muito
ou peço ainda mais e me dou ainda menos.
Pelo menos descobri o problema
ele está em mim.

Discutem sobre relacionamento
minha cabeça longe
tentando mostrar que estou entendendo
que sou bom ouvinte
que estou realmente ali.

Discutem sobre relacionamento
me sinto mal em perder tempo
preciso estudar mais
aprender mais
ler mais
viver mais
quem sabe dormir menos.

Discutem sobre relacionamento
pensamento no universo
pensando no fim de tudo
apesar de não acreditar
(em casa um documentário pausado
sobre as profecias Maia).

Discutem sobre relacionamento
continuo longe
agora calado
parado no tempo.
Lembro de quando não tinha quem amar
por isso me amava menos.
Hoje amo e sofro.

Discutem sobre relacionamento
como pizza
(que não tem gosto bom)
comemos pizza
(eles parecem gostar)
nos empanturramos
de carboidrato e gordura
e esvaziamos as mentes
discutindo relacionamentos
que provavelmente acabaram
ou acabarão
antes do próximo rodízio
ou antes da vida deste garçom infeliz desatencioso
que não traz a conta.

Discutem sobre relacionamento
e a noite me diverte
cada momento estou num lugar diferente
e agora penso diferente
sobre o meu relacionamento
sobre o que é se relacionar.

Eles discutem
e eu de barriga cheia
penso melhor...



Ígor Andrade

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eu sabia 5

A saudade
me inspira
o dia.



Ígor Andrade

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The Observer

Para
Jean Charles de Menezes.

Observo atento
tudo nesta manhã...

O céu é dos pássaros
(tento não voar)
e toda vida é a mesma.
Viva e pura.

Ao som dos cantos
e do vento
imagino que entre o início e o fim
existe um alguém aqui dentro
como havia no Reino Unido
cuja maior qualidade
era observar.



Ígor Andrade

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Do movimento

Minha vida
precisa de expansão
expressão
algo mais que só ver
muito menos que contração.

Preciso muito ler
o que a vida me escreve
sem culpa
sem medo
sem desespero.
Agora eu espero.

Esta vida
é outra vida
que me inventa
e me atenta.

O que mais me orienta
é a pulsação.

Vida
eu também a invento
neste caminhar lento
distração.



Ígor Andrade

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

(A)corda

Equilíbrio
é aprender
a sustentar o lado pesado
para não perder o lado leve.

(Este poema está desequilibrado.)




Ígor Andrade

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

(R)adiante

Amanheci bem
muito além
de mim.



Ígor Andrade

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Separação (outro poema que não é meu)

E agora?

Para quem vou mostrar os poemas
que escrevi pensando em ti?

Não penso mais em escrever
mas ainda penso em você me lendo.

E agora?



Ígor Andrade

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Unidos perderemos (um poema que não é meu)

De mãos dadas
nós partimos
nos partimos
e parte do que era
essa caminhada
nossa caminhada
parou.



Ígor Andrade

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sábado, 21 de novembro de 2009

Vigília

O meu caos
é um cão
cuidadoso.



Ígor Andrade

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Vivente

Levo uma vida
dessa vida que vivo.
Estou vivo
como nunca.

Não procuro entender as pessoas
procuro as pessoas que me entendam.
Isto me faz entender este universo
de compreensão complicada.

Numa hora
sou princípio tranquilo
no minuto seguinte
alma agoniada.

Sou o ser que é
e que deseja ser
o que nunca será.
Isso sempre foi a minha verdadeira força criadora!

Vida minha
que parece cinema mudo
e eu faço de tudo
no silêncio engraçado e libertador.

Eu sei que existe uma Pasárgada
próxima daqui
e eu vou conseguir
porque algo acaba sempre
dando certo no final.



Ígor Andrade

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Largada

Tenho pressa
porque o tempo passa
e eu não passo
de falta de calma
que pára
na vontade de correr.



Ígor Andrade

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A última confissão ou o primeiro desabafo.

Eu preciso dizer que te amo
antes que você precise dizer
que não me ama mais.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Atravesso

Rua vazia
do eu cheio
sorrir.



Ígor Andrade

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Amanhã seu

A manhã é minha
enquanto meu sonho é grande
porque o meu sono é curto
e antes que acabe o mundo
tudo é meu.

A manhã é minha
não quero mais nada.



Ígor Andrade

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domingo, 15 de novembro de 2009

Conflito

Sem a paz do ovo
um bem-te-vi me visita
na janela de novo.



Ígor Andrade

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Acontecer

Estou bem
não como antes
mas com uma paz estranha
que arranha o silêncio.

Estou além
do que imaginava
como se imaginação fosse tudo
para eu não enlouquecer.



Ígor Andrade

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sábado, 14 de novembro de 2009

Agridoce

Me leram no Iraque!

Meus poemas meio desorientados
no oriente médio...

(Minha poesia mediterrânea
salva tanto quanto Alá.)

Sou um deserto invadido agora
de certo pela paz
dos versos áridos
em terra prometida.

Sem arma, sem petróleo e sem guerra
sinto o gosto das tâmaras
numa tarde calma
que não vivi.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Avenida Beira-Mar


Na beira-mar
reaprendi a andar
(reaprendi a amar)
beiro a serenidade
no salgado cheiro do ar.

As pernas doem mais que o peito
e vejo muito mais além da minha miopia.

Meu estado
é um litoral calmo
de vida preservada
de ida e volta
alimentada por um desejo único
de conseguir.

As ondas que quebram perto
sou eu longe daqui.



Ígor Andrade

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Corrida

Corro
corro
corro

(não mato
e nem morro)

estou vivo
uma hora dessa
eu chego lá.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Eu sabia 4

Na confusão
vejo
harmonia.



Ígor Andrade

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Qualquer sonata

Danço sozinho
nesta noite sem música
com a fantasia de ser
amado
ou
abraçado
ou
esquecido
pela mulher que não existiu.

O piano da sala
não toca
mas continua lá.



Ígor Andrade

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Administrativo (um poema desconcentrado)

Estudo para ser
uma droga de agente
e a gente
não se entende
para que eu possa
estudar direito
e para que eu passe
a entender
o que é administração.



Ígor Andrade

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Princípio da utilidade

A princípio
não sou útil
e nem quero.



Ígor Andrade

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Regra de ouro

Estudando ética
vi que não tenho lógica
e para minha vida prática
é melhor mudar a ótica.



Ígor Andrade

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Morra

Segue a vida
sigo a vida
quem vive me segue.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Repouso

Quanto mais descanso
mais
me canso.



Ígor Andrade

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domingo, 8 de novembro de 2009

3

Para que prometer, se não vai cumprir?
Para quem prometer, se não há alguém?
Afinal, o que é, e para que serve uma promessa?



Ígor Andrade

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Rua

As folhas voando
esse chão parado
e eu
tocado por verdades secas.



Ígor Andrade

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Retardado

Venta leve
um leve vento
e eu pesado.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Talvez hoje

Minha poesia
quer morrer
por não te merecer.



Ígor Andrade

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domingo, 25 de outubro de 2009

Acordo

Acordo
no meio do nada
sem o peso de nada
e estou leve
ou livre
(que o vento não me leve esta sensação).

De braços abertos
procuro
no escuro
os abraços que eu perdi.



Ígor Andrade

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Acelero

O amor é taquicardia
e eu lerdo
não sabia.



Ígor Andrade

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Today

Te dei
o que não tinha
sob a lua cheia que não vi
e sorri
com o sorriso que não é meu.

Eu não mais me pertenço
eu me venço
se não me perco nos poemas
que te dei.



Ígor Andrade

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Céu limpo

E a paz
que eu nem lembrava mais
fez o que ninguém faz:
lembrou de mim.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Visão

Diante de mim
o mundo se abre
quando não me fecho
para pensar
no que eu era antes.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Eu sabia 3

A minha realidade
é
fantasia.



Ígor Andrade

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Quem diria 2

Tudo que eu sei
é que ela
não sabia.



Ígor Andrade

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Por tanto

Tarde fria
que nem parecia tarde
mas que não era tarde
eu pensei que era tarde
só que a tarde ainda era cedo.
Antes da noite
às vezes
sinto medo...
Porque demora o escurecer.

Eu apenas sei que a tarde foi fria
no entardecer da dúvida
que sorria
e me fez bem.
Algumas horas no meio do dia
em que meus olhos paravam
o céu se movia
nas perguntas que eu ventilava
de um teimoso porém.



Ígor Andrade

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domingo, 18 de outubro de 2009

Quem diria

A grande verdade
dessa história
é que ela mentia.



Ígor Andrade

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Há um verbo também

Há um verso agora
(como sempre houve)
na minha boca
que vai secar com o tempo
para não cuspir a mágoa
e não virar lamento.

Há um verso molhado
que chora
e não sai.

Há um verso morto
que ainda morre.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Na verdade foram 3

Sem drama
um dramin
uma cama.



Ígor Andrade

(obs: não tinha nada mais forte em casa, só uma cartela de dramin 100mg)
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Da necessidade

Preciso
de algo mais
que não seja esse menos.



Ígor Andrade

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Eu que me lasque

Eu exijo demais dos outros
eu exijo demais de mim.

Eu afasto todos
eu me afasto também.

Eu vou ficar sozinho
eu vou ficar melhor.



Ígor Andrade

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Porque a falácia me irrita

Vendo caro o meu silêncio
que em bocas vadias
se perturba.

(Sou um cara barato
que ama de graça
e ama a desgraça.)

Não sou de discursos
e duvido dos milagres
e não vejo graça em falar qualquer coisa em qualquer hora
só por falar.

Sempre preferi observar
e mesmo assim
ainda sinto ciúme
de todas as palavras
que não falei.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Eu sabia 2

Tempo parado
pra mim
é ventania.



Ígor Andrade

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Eu preciso mudar

Eu preciso mudar minha vida
antes que ela não me mude.
Preciso mudar a mudança
sem ter de andar tanto
no sentido contrário.

Eu preciso mudar
esse tal hábito de sofrer...
para não ficar como meu pai
imaginando conspiração em tudo
ou como minha mãe
com todos os medos do mundo
até de si mesma.

Quanto mais vivo, menos acredito nas pessoas
e isso não é ruim, pelo menos pra mim.
Talvez precise mudar isso também.

Eu preciso mudar todo dia
de idéia e de lugar.
O que eu penso é transformação
e onde estou é sempre onde não quero estar.
Eu preciso mesmo
e sempre
sair de todo o mesmo
sempre
e mudar.



Ígor Andrade

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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Hoje sou dois

Converso comigo
logo
não sinto solidão.



Ígor Andrade

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sábado, 10 de outubro de 2009

Cresço

Fim de noite
depois da calmaria
enlouqueço.



Ígor Andrade

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Indefeso

A mão que treme
escreve e geme
depois da porta
o desejo entorta
e tudo passa
e haja graça.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Rembrandt - Philosopher in Meditation

Não preciso

Não preciso desse agora
que nem é
e se pensar bem
nem foi.

Não preciso!

Esse agora
é uma hora
que passa sem existir.



Ígor Andrade

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Grave

Voz que marca
meu silêncio
-morada tranquila e selvagem
do homem primata
que não mata
mas vive
na caverna imaginária
que ecoa solidão.



Ígor Andrade

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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Eu sabia

Antes do sol
em mim
nasce a poesia.



Ígor Andrade

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Procuro

Procuro o que fazer
procuro escrever
procuro esquecer.

Já quase amanhecendo
já quase me perdendo
já quase resolvendo
dormir pra não enlouquecer.

Falta alguma coisa
em algum lugar
onde ganhar é pior que perder.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Diria

O sol sobe
o sono desce
o medo cresce
e o nervo que move
tudo que não pode se mover
parece novo
e de novo
me faz raiar o dia.



Ígor Andrade

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domingo, 4 de outubro de 2009

Para Carl Sagan

Pouco me interessa
aonde vou me decompor.
Mas minha composição
agradece a ciência simples
de suas bilhões e bilhões
de sábias palavras.



Ígor Andrade

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Imagem e ação

Toda palavra não dita
que quero falar
nasce de uma boca rosada
que cansei de beijar.

Minhas frases mais bonitas
ganham composição no teu corpo
seu pescoço, reticências
tua barriga, ponto final
entre tuas pernas, eu morto.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Atenho

Enquanto ela perguntava pro seu deus
por que tinha me perdido
eu perguntava pro meu amor
por que não encontrava deus nenhum
nessa história.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A cura

Para o amigo Fabio Rocha.


A poesia
me mantém vivo
até quando morro aos pouquinhos.
Me mantém lúcido
e me sintoniza com o tempo.

Estou de pé
decidindo para que horizonte
seguir.

Que o sol continue nascendo
ou se pondo
e que os mosquitos
não me roubem o silêncio.



Ígor Andrade

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Porque sério não posso

Busco o sorriso
que antes era só meu
e nosso.



Ígor Andrade

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Quanto de mim?

Quanto de mim
espera uma lógica de tudo
e se faz em pensamento
a ótica de um mundo
em que o mais absurdo sofrimento
me faz sorrir?



Ígor Andrade

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Sem ar, eu me engano.

A madrugada sorri
com as piadas que escutei.

Esqueci do dinheiro
que não tenho.
Esqueci dos problemas
que são muitos.
Esqueci até que esquecer faz bem
(depende do que se esquece).

Com a vista cansada
a costela quebrada
e um leve sorriso
tentarei dormir.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Olhando com outros olhos

Os outros são felizes
e eu mal
sou.



Ígor Andrade

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A ressaca

A ressaca do mar
não é pior que a minha.
A minha ressaca é o fim.

Me choco com as ondas
do mal-estar
de mal estar
acordado
num estado decadente
de inconstância agitada.

A ressaca do mar
não é pior que a minha.
Mas o mar é forte
e eu não.

A ressaca do mar
não é pior que a minha.
Mas amar o que tenho
sem juízo algum
também me dói a cabeça.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Há muitos

Há outro de mim
distante
que não sou...



Ígor Andrade

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Do abuso

Madrugada vazia
casa vazia
quarto vazio
cabeça vazia
saco cheio.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Queda livre

Chão ficando perto
o vão do medo forte
na mão o olho certo
diz não pra minha morte.



Ígor Andrade

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Defeito

Tentei e não deu certo
de certo
não tentei direito.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

^Asas^

A manhã
canta suave
o amor.
Sou a ave
e a cor
do que não será
amanhã.



Ígor Andrade

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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ou o poeta

O ogro pede socorro
vendo o balé dos pássaros
ao amanhecer.
Me conhecer
porque saudade é ser
e sou
a falta agora
de uma amiga do interior.

Volta e dança pra mim...



Ígor Andrade

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Teria

A noite me olha
de canto
e eu sem encanto algum
fecho os olhos
pro sonho de hoje
que sei que ainda teria.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O porre

Minha mente relampeja
troveja verdades e mente.

Lembro de tudo, mas quero esquecer.

Tempestuoso é o dia seguinte
que segue em dor de cabeça
e eu sem paciência.

Procuro uma ciência que me tire
desse vício.
Nunca mais eu bebo
pelo menos hoje
(só por hoje?).



Ígor Andrade

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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dura(dor)

O que nasce
dessa minha loucura silenciosa
só tem sentido
no barulho da sanidade alheia.

O que nasce
e cresce
não morre.



Ígor Andrade

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De(s)contentamento

Leio muito e escrevo pouco
mas quando leio pouco, escrevo muito.
Ler e escrever, muito ou pouco
me salva.

Tudo me incomoda
quando algo me acomoda.
A insatisfação não é desgosto
é minha melhor percepção gustativa.

O gosto do café amargo
o rosto magro da fome
uma qualquer coisa
que me agonia e não tem nome.

Meu quarto desfila
um branco nas paredes
e é insuportável.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ali

Longe de onde estou
me sinto mais perto
de ser
o que sou
e o que fui
aqui.



Ígor Andrade

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domingo, 13 de setembro de 2009

Sonho libidinoso (recorrente)

Roubaram o meu juízo
enquanto eu dormia.
Levaram minha sanidade
que eu não tinha.

Louco e cheio de predicados
o sujeito confuso
com a libido nas alturas
abre os olhos (verdes)
que não os pertence
e aprende
a enxergar
um desejo de possuir outro corpo
através de uma ladra
que insiste em roubar
a normalidade
todos os dias.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Faz sol na rua

Faz sol na rua.

Mas chove aqui dentro.
O céu, meu teto
e o vento.
Eu tento.
E a lembrança nua e crua.

Vejo o cinza
e o que precede
a tempestade.
Melhor idade
maior saudade.

Todo problema que é meu
eu posso resolver
independente do clima.

Olho pra fora
e está tudo claro.

Faz sol na rua.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Meu Pecém

Aqui
vivo descalço
e não tenho medo do sol
(nem de tempo algum).
Cada passo meu
nesse calor
me leva além
dos sorrisos que não vi.
Aqui
caminho com os olhos
de toda criança nativa
que mal sabe falar.
Aqui
me calo
pra ver a vida passar.



Ígor Andrade

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Praia alguma

Em que praia
eu perdi meu mar?



Ígor Andrade

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Salvação

Amar o mar
na perdição
de toda a terra.



Ígor Andrade

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Praia minha

Beira leve
um oceano.
Outro ano
que tudo leva
e nada traz.

Minha vida é
uma onda interminável.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Juízo (a)final

Ressurreição é comédia
viver em vida é o que importa
não na média medíocre torta
mas na cômica tragédia.



Ígor Andrade

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Desista você

Até que tudo pare
ou acabe
eu não caibo
e não paro
em mim.

Sou nós
em movimento
incansável indiscutível iminente inconstante
nesta estrada invisível e sofrida.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

É gosto

Eu gosto
de todas as mulheres
mas as brancas
de alma negra
me trazem paz.



Ígor Andrade

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domingo, 30 de agosto de 2009

Ronco

Domingo é depressão!
Minguo as horas
por horas
com a cabeça cheia
e estômago vazio
e sinto a falta
de sentir falta
de algo que me fazia feliz.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Linfa

Dia aquoso
que escorre lentamente
seiva sem graça e sem gosto
numa selva concreta
de espera das coisas que não acontecem.

Dia besta
que parece outros
dias ou noites
tudo numa tarde
que não tem pressa
nem sorrisos
e nem sorrir.

Dia triste
que insiste
em me abrir os olhos
pois ando desejando coisas demais
e isso não é felicidade.



Ígor Andrade

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sábado, 22 de agosto de 2009

Preciso

Preciso de um teorema
pra minha indisposição.
Fase nova, novo tema
eu e meu dilema:
a pasárgada
e a contramão.



Ígor Andrade

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domingo, 16 de agosto de 2009

Balanço

Noite é sede
vento na rede
e lembrança.

Dor de medo
o teto é cedo
e balança.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

bios theoretikos

Minha vida é a poesia
é a busca nos olhos distantes
é o caminhar meu de cada dia
é o não chegar nunca
é o instante.



Ígor Andrade

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Somos bobos

Posso sentir um coração
que não é meu
pulsando bobagens
e tentando me enganar.

Posso dançar nesse escuro
no silêncio
e ainda sim
fazer música
quando ela vai embora.

Eu posso tudo
porque ela pode me amar.
Pode até negar
mas eu sei que ela pode
além disso.

Só não posso explicar
como nascem essas coisas
em que me perco
ou como morrem
os encontros.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Permissivo

Hoje não sei o que quero
(o dia nasce simples)
se é que eu sabia
antes.

Isso me liberta
o não saber.
Só é pior do que não querer saber.

Eu não sei, hoje
e até sorri olhando as nuvens
me atravessar.

Talvez dormir
talvez crescer
talvez sumir
talvez escrever.
Morrer
pra ver a vida passar.

Estou livre
e tenho asas
hoje.
Sem pena, vou caminhar.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"Sol i dão"

Penso ser um eu consciente
que para cada vazio existe uma dor
pensar é coisa de gente carente
eu estou cheio de poemas de amor.



Ígor Andrade

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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Incompletude

Madruguei
e não achei a palavra
amanheci
e a busca não finda
o dia segue
quando a noite me cega...
Seria a saudade
a palavra ainda?



Ígor Andrade

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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Imaginação

Levo comigo
o cheiro e o desejo
da noite que não tive
(ontem).

Na brisa fria
que tudo arrepia.
De salto alto
e ousadia.

No corpo da mulher branca
de boca vermelha
e jeito de flor.

Desconfiado amor
que nasceu só pra mim
que nasceu para eu cheirar e olhar dormir
sob o céu de lua cheia na palma da mão.


Ígor Andrade

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sábado, 1 de agosto de 2009

Advertência

Com o peso de tanta saudade
no peito
teus passos vão infartar
o caminho.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Gota

Tudo tem gosto de lágrima
mas a lágrima, não.
Ela é lâmina afiada
que corta o sabor
da lembrança incolor
que eu ainda teria.



Ígor Andrade

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Maré

De frente pro mar
sentados na areia
sonhávamos
continuarmos ali
VIVOS.

Uma onda
e o sonho se apagou.



Ígor Andrade

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A(u)migo

Ainda late
no meu portão
a saudade
de um amigo.

Não mais o mesmo
eu sou
assim como não era
antes dele.

O portão pode
ficar aberto agora.



Ígor Andrade

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Bolsa de sangue

A luta pela sobrevivência é a coisa mais triste e bonita que já vi. Lutar é preciso, e sobreviver também ( ou não?). A morte é que quase ninguém entende, porque entender a razão das coisas não é inteligência.
Hoje rascunho toda a minha dor num hemograma do meu amigo-cão. Não suporto mais a contagem das plaquetas, de glóbulos vermelhos e brancos. Está tudo sem cor com uma placa escrita fim. Minha poesia está coagulada, e é sólida a solidão.
Perdi um grande amigo e essas palavras sanguíneas querem me matar. Pior que isso, morro. Morri quando ele morreu. Deixa de existir duas existências agora.
Mudamos e crescemos juntos, e nos separamos por terra. Lembranças serão lembradas até a exaustão, e confesso estar exausto para escrever mais.
A vida segue, aliás, seguimos com ela.
A vida se vive e a morte se morre, o resto está entre isso.



Ígor Andrade

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sábado, 25 de julho de 2009

Liberty (o edifício)

No subsolo da liberdade
algo preso dentro é saudade
algo livre fora é vaidade.

Pensa a cabeça que pensa
no peso do corpo que pesa.

Há um mundo embaixo de outro
que nem é outro
que nem é um
nenhum.
Nenhum de nós sabemos da prisão que imaginamos nos libertar.



Ígor Andrade

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Tudo é caminho

Chega de pensar
em morte.
Um dia penso
que cheguei
no norte.

Tudo é caminho...



Ígor Andrade

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segunda-feira, 13 de julho de 2009

A pressa

Sinto antes
a urgência
do dia seguinte
seguindo
em textos longos
de choro preso
na palma da mão.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Acabamento

A madrugada é minha oficina
onde cada segundo bate
o martelo pesado
de tempo perdido
de tempo vivido
e machucado por nada.

Trabalho no escuro
as formas
de uma peça-vida
que não quero terminar
nunca.



Ígor Andrade

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terça-feira, 7 de julho de 2009

Sem acordo

Acordei e não quero falar
acordei pra discordar
acordei sem acordar.

Hoje será o dia que não acordei
na confusão de em ninguém confiar.

Tanta misantropia
tanta miopia
até nublado acordou o dia.

Cansei de tanta coisa.
Cansei de me cansar.
Cansei do ócio, do óbvio
e de estar cheio
e com fome.
Cansei da dieta
que tudo seja
com tanta soja.

É... eu não estou bem
eu não estava bem antes
e nem sei se acordei.

Acorde descoordenado
da harmonia
que pra trás deixei.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Invisível?

Procuro um herói hoje
que não foi meu pai ontem
e que não serei eu amanhã.
Um herói de todos os tempos
que não existe.
Por isso procuro.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Suporte

A mídia é média
e a média é um meio
de medir o medo
de não ser
outra coisa
senão metade
senão o pouco
que a mídia
ou a média
te fazem.



Ígor Andrade

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Há ser teu

Vazio de vento frio
é quando tudo pára
até que apenas eu volte.
Volte no tempo
volte no próprio vento
volte a ser eu
volte a ser teu.



Ígor Andrade

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Ver-de perto

Tudo fora
é tudo quase
do não
ou do nada
que tem um fim.
E no final
é o que somos:
fantasia fantasiada de sensatez.



Ígor Andrade

(escrito depois de ler este poema, do blog de minha amiga: http://rangonamadrugada.blogger.com.br/)

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sexta-feira, 26 de junho de 2009

A volta escrita na estrada

Vou na volta
de casa pra casa
da praia pra cidade
(e nem vi o mar)
da tarde pra noite
do perto pra longe
vagando em chuvisco
chovendo nos olhos
vago, vazio, altívago, tardio
entardecendo o que não tenho
e não vou só
vaga-lumes
vagas lembranças
vagões de desejos
bendita estrada que dita
uma volta
e outra.



Ígor Andrade

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terça-feira, 23 de junho de 2009

Ainda voa, Dona Iride. (Um poema de luto.)

Borboleta azul
borda a letra anil
no céu da solidão
no sol que não se viu.

Falta uma asa!



Ígor Andrade

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O temporal da não viagem

O vento grita
na minha janela entreaberta
e meu quarto fechado
silencia o meu mal estar.

Estar
em algum lugar
(que não seja esse)
era o que eu queria agora
querer é a questão
ficar aqui
ou ir embora.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chão

Pedaço do eu
no meio do chão
que seca no seco
que cega razão.

Chão.

Pedaço que piso
no meio do não
que é quase tudo
coração na mão.


Ígor Andrade

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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Céu

Tenho me sentido
(sem ter tido)
pássaro sem asas
e continuo voando
porque acredito.


Ígor Andrade

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domingo, 7 de junho de 2009

Processando a trama

Computador é tela fria
com muita dor a teia espia
a aranha longe
arranha saudade.

Desculpas cheias de pernas
caminham pelos cantos
de paredes
que não quero enxergar.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 4 de junho de 2009

Alta

A vida banha
minhas memórias
de tempo
e seca
minhas loucuras
de falta.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ma belle inconnue

Minha bela
desconhecida.
Conheci algo
que não é meu.

O que era belo
e adormecido
nasceu dela
e feneceu.



Ígor Andrade

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domingo, 31 de maio de 2009

Não outro

O domingo me empurra
para o mesmo
e eu mesmo
não sou o mesmo.
Não sei o que é esse mesmo
senão um domingo diferente
mas com a mesma cara
da minha mesmice qualquer.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Meu mar

A madrugada
pisca pra mim.

Lua cheia
de eu vazio.
Pesco um fim.


Ígor Andrade

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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mata dor


Acordo...
com o olhar calmo
de um assassino.

Estou frio
como o tempo molhado
e rio.

O sol, que eu cego, não vi
já se foi
com o meu calor.

A rua vazia provoca
cores no escuro
dentro de mim.

Parece que estou morto
sobre a terra que vai acabar.
Ou acabou.

Espero que a calma permaneça
mas, acima de tudo
que algo nasça e cresça
e que eu não mate ninguém.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Senso íntimo


Me desculpo com a razão
sempre que entardeço.

Triste não é viver
nem saber que se morre
a cada hora.
Triste e longe
é ter a consciência
que meus sonhos
também anoitecem.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vinte e oito


Desejo pra mim...

Mais paciência no ser
enquanto o quando não vem.
Menos um mundo e menos ter
meio passo de sentir um quem.

Mais beleza e leitura
riscos e sorrisos
fins e inícios
leveza e altura.

Mais percepção no que é à toa
e alguma momentânea surdez.
Vida minha que não anda, voa
flutua lisa em um certo talvez.

Mais sabedoria na tristeza
e ignorância na felicidade.
Amar, o mar.
O mar, amar.
Simplicidade.

Mais
unir
versos
nos detalhes e nas diferenças.
Punir
o que não peço.
Discutir todas as descrenças.

O peso do nada que já tenho
apenas no tudo mais, viver
poesia e consequência
pó do dia, consciência
por uma noite, crescer.




Ígor Andrade

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terça-feira, 12 de maio de 2009

Despedida


Perdi tanta coisa
por deixar a porta aberta
mas existe uma janela
entre tudo
e uma descoberta.

A partir de hoje
no ontem que some
deixei de ser gente
deixei de ser homem
me tornei um poeta.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Alicerces

Lá fora
o barulho da obra de uma construção
o silêncio de uma obra desconstruindo
aqui dentro.



Ígor Andrade

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domingo, 3 de maio de 2009

Dor mente

Não sinto
o gosto
de nada.

Garganta seca
língua inflamada.

Sinto
um cinto
me apertar.

Asfixiado
só penso em deitar.

Paladar para amar
não tenho
ou é dormência apurada.

Para cada dez mulheres
deste infeliz mundo
uma é desalmada.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dia do trabalho

Dia do trabalho
ninguém trabalha
nem eu
nem dia nenhum.

O conjunto de atividades, produtivas, criativas ou lucrativas, que exerço, determinam um fim que não quero atingir.



Ígor Andrade

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Não trabalho nem no sono

Depois de dormir o dia todo
acordo (às sete da noite)
não mais dia
com a mente inquieta
com muita raiva de não sei quem
e triste com alguma coisa.
Será um daqueles dias
(ou fim do mesmo)
que vou me entupir
de açúcar
e café
digerindo poesia
vomitando impaciência.




Ígor Andrade

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quinta-feira, 30 de abril de 2009

Media dor

Para Thiago Andrade
e Samuel Portela

Não tenho gravatas
e não falo bonito
mas ando procurando
causas
para minhas testemunhas.



Ígor Andrade

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terça-feira, 28 de abril de 2009

Quanto de hoje?

Quanto de mim
está disposto?

Quanto de mim
quer sorrir?

Quanto de tudo
não tem rosto?

Quanto de tudo
quer dormir?



Ígor Andrade

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sábado, 25 de abril de 2009

Estrada do sol poente

Estrada ruim...
Cada buraco
caía em mim
cada curva molhada
dobrava em qualquer dor.
Voltava pra esse mundo
que parece não ter fim nem fundo
voltava em um segundo
pra não faltar amor.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

O Mágico Magela

Além de magro
é forte.
Além de reclamar
tem sorte.
Além de mágico
é repentista.
Além do trágico
é humorista.



Ígor Andrade

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Sem lua

Tenho um lobo
no peito
faminto
não minto
uivando selvagem
sem dono
sem sono
de passagem
querendo morrer.



Ígor Andrade

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terça-feira, 21 de abril de 2009

Na paz irresoluta

Tento acreditar
que acredito.
Cri?


Ígor Andrade

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Poema fútil

Minha mulher não é normal
e eu sou louco.
Queremos pouco
brigamos muito
somos tudo
e não temos nada.

(off
line)

Pra que mais? Ou menos?
Isso basta
pra ela...



Ígor Andrade

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Click (o filme)

Começou a vida.

Click!
Já me enchi.

Click!
Vou pular a cena.

Click!
Estou no final.

Click!
Me arrependi.

Click!
Não tem volta.

Click!
Perdi a vida
tentando ter
perdi a vida
não sendo.



Ígor Andrade

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domingo, 19 de abril de 2009

É Fantástico!

20:53


O Fantástico vai entrar
no ar
e o imbecil vai sair
do mesmo.

Mesmo.



Ígor Andrade

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Eu-animal feroz

Sinto-me preso
(sinto-me?).
Algo selvagem quer
desgraçar outro algo
como algo por instinto
algo extinto.

Sinto-me ameaçado
(ainda me sinto?).
Como se fosse (e é)
questão de sobrevivência
sobre a vivência.

Sinto-me bicho
e sou
(além disso, sinto?)
um corpo de sentidos
faro, garras, dentes...
camuflagem!
Bem longe da racionalidade.

Sinto-me sem sentir
(sinto!)
e sou.



Ígor Andrade

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sábado, 18 de abril de 2009

Desestimulante

Hoje não tem café
hoje não tem acordar
descafeinado
voltei a deitar.


Ígor Andrade

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Poema-onde (que não está)

Queria um poema-abraço
que me deitasse na cama
que me fizesse dormir.
Eu queria...
mas ele não vem
e eu não deito
nem deixo
um poema-dor
aqui.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Vidas de Rejane


A barriga de Rejane
é vida
são vidas
vidas vivas que vivem dentro
que terão vozes
e ouvidos
e olhos
sentidos
e que trarão paz.

A barriga de Rejane
é um outro mundo
um novo mundo
que desde sempre
nasce
de um velho mundo
que ficou pra trás.

Ígor Andrade

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quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vivo (?)

Minha arte
é pensar.
O que vem depois
no papel
não é arte
é morte.



Ígor Andrade

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Este lamento é lamentável

Este mundo tem cruzes demais.
Este mundo tem deuses demais.

Estas frases têm mundo de menos.



Ígor Andrade

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terça-feira, 14 de abril de 2009

Los hermanos

Nas tacadas
de filosofia sóbria
depois de tanto
vinho tinto seco
pintamos às cegas
um quadro de noite-chuva
e brindamos
o embriagado amanhã.



Ígor Andrade

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De frente

Abril me abriu o mar
passeio no seio do tempo
atravesso um verso-lar
me despeço na praia-vento.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 9 de abril de 2009

Dos engasgos

O grito na garganta
que não sai
o frio da rua
e o que queima no peito
essas coisas que não têm sentido
e eu tenho sentido
que são causas, não efeito.



Ígor Andrade

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E sufoca... e sufoca... e sufoca...

Noite estranha
de lágrima engasgada
que é doce
mas arranha
e adentra a madrugada.
E sufoca
e tem força
e me empurra pra minha burra solidão.
E me sufoca
numa poça
golpe forte que esmurra o maior valentão.




Ígor Andrade

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quarta-feira, 8 de abril de 2009

(Des)cobrir

Algo em mim
morre de medo
e vive de
insistir
existir
é um modo que tenho
de estar sempre
cheio de algos.



Ígor Andrade

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terça-feira, 7 de abril de 2009

Opaco

Começo de semana
é chato
não meço minhas palavras
é fato
troco a parede branca
por um retrato.



Ígor Andrade

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domingo, 5 de abril de 2009

Releitura - I m e d i a t o

Incólume
quero colo.

Insatisfeito
o abraço imperfeito.

Saudoso
qualquer verbo vagaroso.



Ígor Andrade

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I m e d i a t o

Amanheci urgente
o domingo é quente
mas estou frio.
Na soma de tudo que penso
dispenso o que não for intenso
e assumo que estou arredio.

O meu ombro está dormente.
O meu bom dia está vazio.
Vazio vazio.



Ígor Andrade

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sábado, 4 de abril de 2009

Meu poema em linha reta

Meu poema em linha reta
é pôr no sol seu nome
até o infinito da fome
onde nem céu me aquieta.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Minha casa tem nome de gente

Enquanto as telas se apagam
e as teias se enrolam
as bocas secam
de sono e cansaço.

A noite vira dia
assim como eu quero
assim como eu queria.

E eu apaixonadamente
(apaixonado mente?)
acabo voltando pro mesmo lugar.
Minha casa.



Ígor Andrade

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Velha paz de um dia

Para meu pai, Plácido Andrade.



O que me é plácido
evolui solvente
contente
me dilui num encontro ácido
e ao máximo
num trânsito intransigente.

Meu mundo-sossego
não é cego
nem cedo
sou filho do medo
e do sereno menor.

Sou só
da semente ao pó
e meu pai é um Plácido
de uma guerra-enredo
de uma terra sem credo
e de nome maior.




Ígor Andrade

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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Arquétipo

Sem formas definidas
nem prazo
nem peito de ser
sou o que a maioria é e nem sabe.
Modelo de algo
que muda com o tempo
e se renova com o tato.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 30 de março de 2009

Pronto desabafo

Atualmente
neste mundo destrutivo
eu construo
me desatualizando.

Se falta amor alheio
eu alheio a falta
amo.

Enquanto tudo explode
ou implode
eu sou o todo que arde.

As sementes que planto
na terra e no ar
se multiplicam
me dividindo.

Eu sei
mudei
eu hei
de ver frutos.




Ígor Andrade

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domingo, 29 de março de 2009

Senhor Ludgero (meu avô)

O silêncio do velho me faz silêncio
e quando ele fala me cala
e me traz poesia.

Oitenta e oito lições numa hora só
oitenta e oito maneiras de desatar um nó
oitenta e oito noites num dia.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 26 de março de 2009

Mergulho

Em tudo que é raso
me afogo.
A superfície é muito mentirosa.

Em tudo que é profundo
me afago.
O útero é o mais vivo pensamento.



Ígor Andrade

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terça-feira, 24 de março de 2009

Floresta

Ao som de pássaros gigantes
e vozes amigas
distante
caminho sobre folhas secas
ouvindo o barulho da água
caindo.

Não há cor que eu não veja na luz
nem dimensão que tenha sentido.

O sentido se faz
quando me encontro.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 23 de março de 2009

Bem te vi

Já ia deitar
sem te ver
e de repente
um bem-te-vi
te trouxe aqui.


Ígor Andrade

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Aquilo que se vê

Dos vultos e vozes
de muitos e voltas
sem razão alguma
ou face
fecho as portas
e sou assim.

Sou defensivo e assustado
assombro o ombro passado
e me sinto bem mais aliviado
quando me sufoco de dor.

Eu me fecho pro mundo
me defendo dos outros
(e dos outros que existem em mim)
porque também sou egoísta
e louco.

Resta pouco
entre outros
o pouco
(resta pouco)
tempo
e luz.



Ígor Andrade

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domingo, 22 de março de 2009

Os ceticistas

Hoje eu tive talvez
um dos melhores sonhos.
Num domingo chuvoso
um pequeno grupo de ateus se reúne
discute a filosofia do tempo
a poesia do mundo
e arquiteta planos de paz.
O futuro da humanidade
com esse humanismo secular
certamente
seria outro
melhor.
Um sonho apaziguador!
Tão lindo quanto
o desenho das lágrimas
que derramei
ao acordar.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 18 de março de 2009

Janela novamente

Meu corpo está cansado
e não tenho coragem de pular.
Sem asa alguma
apenas olho
e de peito aberto
vôo
sem sair daqui.



Ígor Andrade

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Janela

Para o amigo, Fabio Rocha



A janela negra
do meu quarto branco
está aberta
e o que vejo
é cinza.
Sem nuvens, nem céu
porque hoje chove
os atrasos do meu Nordeste.

Assim como você, meu amigo
sou fascinado pelo mundo lá fora
desde que aprendi
a me fascinar pelo mundo aqui dentro.
Tanta liberdade me liberta
e me prende.
Nada nesse quarto me limita
os olhos.

Esses vazios em paisagens
são passagens
cheias de vida
que não cansaremos
de descobrir.




Ígor Andrade

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terça-feira, 17 de março de 2009

Poderia não ter dito isso

Tristeza não é ser só
porque a poesia me acompanha
e me faz livre.

Tristeza não é ser esquecido
ou não ser lido
não ser sentido.

Tristeza é escrever
para uma pessoa
que não se importa.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 16 de março de 2009

Criação

Eu inventei uma pessoa.
Essa pessoa inventou uma história.
Essa história inventou um fim.
Esse fim inventou um novo começo.
E esse novo começo inventou
outra pessoa
com outra história
que me inventou sem fim.



Ígor Andrade

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Virótico

Para isso além do normal
para o bem e para o mal.
Para onde foi o sol?
Paracetamol!


Ígor Andrade

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Superdosagem

A pior constipação de um dia febril.
Tudo que descolore em saudade, na sanidade.
A dor que se mistura com outra dor.
O olcadil e o rivotril.
Cada comprimido, deprimido.
Ansiedade.



Ígor Andrade

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domingo, 15 de março de 2009

Piscina

Céu claro
em noite quente.
Raras são as vezes que reparo
que nunca estou de mim ausente.

Lua cheia ilumina
o que a cabeça mente.

Lá no alto
apenas uma estrela
a brilhar.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 11 de março de 2009

O que vegeta

Um tudo que não é muito
numa manhã sem amanhã.

Aqui dentro, um vaso sem planta.
Lá fora, chuva cinzenta espanta
calor
de calar a dor.

O altar sem deusa
e sem graça
e a insônia sagrada que passa.

Reticências
antes do ponto final.



Ígor Andrade

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terça-feira, 10 de março de 2009

A praça de Campo Grande

Vai e vem
balanço bobo
no parque besta
da praça feia.

Vem e vai
do balanço cai
nada mais de parque
nesta praça desequilibrada.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 6 de março de 2009

Espelho

Estou só
de estar e ser só
e não tenho ninguém.
Não tenho muitos amigos
e os poucos que sobram não são lúcidos
(isso me incomoda).

Tudo nesse quarto é sem razão
enquanto eu, sem sentido.
Meus bolsos estão vazios
e as gavetas cheias de coisas inúteis.
Acho que falta outra janela aqui.

Preciso praticar o verbo acontecer
aliás, preciso de mais verbos
menos adjetivos
e alguns parênteses.
Preciso não ter que precisar.
É isso!

Meu reflexo vai embaçando
e aumentando o espaço.
Sou um intervalo temporal
de passos.
Estou mais só estando comigo
e ainda
não sei pra onde vou.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 5 de março de 2009

Eu oceânico

Numa praia deserta
de mar tranquilo
e vento leve
só o tempo me leva.

Cem anos de solidão passam na minha cabeça.
Ontem e amanhã
(foi e será)
um
único presente.

E uma frase martela minha calma:
Ter você pra mim.


Ígor Andrade

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terça-feira, 3 de março de 2009

Bradicardia

Todas essas janelas
tantas vias pulsando sangue
toda essa cidade molhada
e tudo tudo
com toda essa beleza.
Toda. Beleza.
E os corações querendo parar.


Ígor Andrade

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Caminho das Águas



Ensina-me
a esquecer este mundo
que eu te ensino

a caminhar sobre as águas.





Ígor Andrade


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segunda-feira, 2 de março de 2009

(Per)feito

Quem me dera
um pretérito
mais que perfeito.


Ígor Andrade

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Segunda, dia dois

Começo de março
morto
comércio de mortos
marco
tudo igual
e nada diferente
involuimos na evolução
nos agredimos em regressão.

Março mal começou
minha ressaca passou.
E agora?
O que esperar?



Ígor Andrade

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Corrente

Uma tristeza torrencial
(do que já não é meu
nem tem morada)
é como uma manhã
sem brisa
e uma noite
sem prosa
passa como o passado
pesa como um pesadelo
e desaparece
porque um dia volta.



Ígor Andrade



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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Atravesso mapas e oceanos

Às vezes me sinto continente
mesmo que ao redor seja água
porque também me sinto ilha
e quando não, me sinto mar.

Minhas palavras (é vida)
são vidas em vôos.
Meus poemas
são asas
nunca pouso.


Ígor Andrade

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O vôo sonhador

Não se explica o inexplicável
não se muda os cheiros que sinto nos sonhos.
Tudo agora foi jardim.
Tudo que foi nesse instante
não foi distante
está aqui
dorme e acorda em mim.
E eu dormi e acordei
com o vôo brilhante de uma borboleta
que quer pousar no meu quintal
mas não deve
que quer continuar voando
mas não pode.


Ígor Andrade

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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Como anestésico

Nem aqui
nem ali
nada além
do além
e do muito.

Minha mente
que mente
não tem lugar certo
de tão inquieta.
Parei!


Ígor Andrade

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Fantasia(dor)

Que a vida me traga
mais vida
e me traga
mais cor
que deflagra
sopro e suor.

Que a vida me traga
mais vida viva
mais pele ferida
e vestidos verdes
em fugas.



Ígor Andrade

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Há um poema hoje
com o nome tarde.
Há um poema
hoje à tarde
com o nome noite.
Há um poema
onde há tarde
e arde.
Há um poema tarde
e há um poema antes.



(O nome da minha tarde hoje é poema
pôr do sol sem nome
que põe no céu dilema
e põe no fim a fome.)



Ígor Andrade

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Praia quente (um poema atrasado)

Fevereiro
me ferve inteiro
meu amar em março
antes de tudo
o mar
mormaço
sorrir primeiro.

(Sou oceano adocicado
maré alta
em desespero.)

Pelo menos
passou o de menos
passou e vivemos
passou janeiro.


Ígor Andrade

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Rogério & Rogério

Nos aterros dessa vida
onde se enterram as lembranças
pedaços de tempo como herança
os dois sujeitos, sem jeito
consomem as palavras
as larvas
da mais pura admiração.

E buscam por aí
o equilíbrio
entre o não ter
e o não ser
das mudanças
e dos sorrisos.


Ígor Andrade

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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ficar bem

De onde estou
para onde quero estar
não desejo nada mais
do que mudar de idéia.


Ígor Andrade

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A cura tem nome

Para meu irmão, Thiago Andrade.


O que antes era vazio
agora não se limita.
Olhava um forte homem chorar
num mar de solitude, soluçar
e hoje ele grita.

Seu sorriso me mostra os dentes
tela branca franca infinita.
Missão: conjugar o novo amar
no mais alto grau ardente
da escala não dita.

Minha arte em sua vida imita
o elo entre o belo e o singelo
misto de cuidado e mistério.
Seu nome: Talita.


Ígor Andrade

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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Estrela do dia

Ainda é cedo
sem dor
e sem medo
perco-me em raios.

Quem dera fosse
não mais que isso
o dia todo
um brilho
do que não é tarde.


Ígor Andrade

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À deriva

Só quero navegar
e levar alguém
para sentir a brisa por aí.

Contar as luas
e nascer com o mesmo sol
sem o mesmo isso
daquilo que evito.

Só quero querer mais
e esquecer o que é de menos.

Quero o que é eterno
e o que não é, também.

Quero os desejos
desejar.

Quero mais do que já encontrei
e encontrar sempre
algo que não tenha visto.

Só quero ver
e encher
minha memória
de poesia.



Ígor Andrade

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Minhas retinas e sua dança

Atravessa a chuva na rua
a bailarina que vejo em ti
o averso, e a passada, nua
silhueta que vou perseguir.

Vem pra mim...


Ígor Andrade

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O Primeiro Beijo

Ouço o som do meu peito
é música que tem gosto
enquanto meus olhos desenham
o teu nome
e o teu rosto.


Ígor Andrade

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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Reflexão

Espelho espelho nosso
me fale da outra vida
do velho-novo homem
ou do novo-velho ócio
me conte da vaidade ferida
e da perfeição que não posso.

Espelho espelho nosso
integração ou divórcio?


Ígor Andrade

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Para cada vida

Para cada dia sem o tudo.
Mudo.

Para cada hora sem espaço.
Faço.

Para cada minuto nesse vazio.
Frio.

Para cada segundo nesse traço.
Abraço.



Ígor Andrade

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Esperança?

Tão logo espero
que essa segunda passe
como tão logo passo
sem esperar, a terça.

Enquanto durmo teu dia
e acordo tua noite
vago frio na esperança
da tua passagem.

Tão logo nada
era quente
como tão longe
era tudo.


Ígor Andrade

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Mediterrâneo

Um domingo nebuloso
da janela pra fora
guerra pela paz, faz
chora a chuva agora.

Meu domingo ocioso
da janela pra dentro
paz pela guerra, erra
perde-se o fundamento.

O domingo é passado
o domingo é pesado
sem bandeira branca
em qualquer algo pensado.

Eu queria pacificar as palavras
eu queria vida além do papel.
Enquanto as cruzes se lavram
o povo quer morte em Israel.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A moça

Vestida de mundo
de tempo e de vento
nua em pensamento.


Ígor Andrade

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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Do meu desespero capaz

Desespero não é incapacidade.
Desespero é amanhecer sem sono.
Desespero nessa minha insanidade
é o que eu espero do abandono.


Ígor Andrade

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sábado, 17 de janeiro de 2009

Do jogo (ps2- W.E.) na sala de cinema

Vive em mim
neste sábado
o espírito competitivo.
E para ser mais afirmativo
e menos arrogante
reconheço que valorizo
mais do que antes
a presença de velhos amigos.


(O jogo não mais mexe comigo,
mas as vitórias adoçam o domingo.)


Ígor Andrade

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Estrategicamente falando

Noite designada ao nada.
Contemplo meu arsenal
de sonhos.

Tenho grandes aliados
os poemas.

Minhas palavras são hoje
bombas nucleares
que explodem
e devastam.

(Nem ideologia
nem política
nem filosofia
nem linguística.)

Agora só quero
divagar
devagar
pelo que eu tanto queria
minha paz
nas lutas comigo mesmo
guerra fria.


Ígor Andrade

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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Terça-feira

A tarde me arde em ânsia
sussurra a saudosa mudança
me empurra pra noite, forte
sem medo do medo, norte
destrói e distrai, distância.


Ígor Andrade

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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Do que não muda

Andei
andei
andei.

(E quis tanto
as mãos e o céu
que esqueci do corpo
num instante morto
em vão o sono e o mel.

E fiz pranto
no prato e no papel
só entendi que solto
um lamento e pronto
solidão veraneia o fel.)

Andei
andei
e andei
sem sair do lugar.


Ígor Andrade

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domingo, 11 de janeiro de 2009

Solitude

Nos momentos
que me encontro mais só
(sem encontrar o que quero)
saio de mim
sambo assim
passeio em voltas.

Me desencontro
me afronto
choro e soluço
(o que não faz de mim melhor, mas faz bem)
não sinto o meu pulso
não espero impulso
e não sei esperar .

Discursos
é... discurso
para outro que não sou eu.
E quem sou eu?
Sou o próprio curso
ou sou o inverso
do verso
que não sei ler.


Ígor Andrade

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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Voando poesia

No aeroporto
aéreo fico.
Eu admito.
Tudo que é etéreo, parto
vivo farto
porque vivo em vôos
e morro em chegadas.


Ígor Andrade

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Dois mil e nove

Para começar dois mil e nove
nada em volta se move
mas que eu me renove
e reinvente
porque por mais que eu tente
acabo por acabar com o que me envolve
sujeito bobo
sem jeito, ogro
inconsequente.

Espero tudo se inovar de vez
e pro mal que alguém me fez
desejo paz, ao invés
do bem do inferno de vocês.

Que venha dois mil e dez.


Ígor Andrade

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