(03/01/2011)
Olho para as pessoas
daqui da minha calçada.
E daqui da minha calçada
já olhei tanta gente...
As pessoas desta praia
incontáveis identidades livres
vivem adormecidas.
(E quem não vive?
O sonambulismo é um estado
geral e comum
do mundo.
Vivemos num transe;
seguimos o caminho
que somos empurrados.)
Não me parece
que essas pessoas
tenham alguma preocupação.
Mas devem ter.
Olhar o mar.
Conversar com o vizinho.
Plantar frutas para depois comer.
Cuidar de cachorros vira-latas.
(Os vira-latas mais despreocupados
que eu já vi.)
Enfim...
Se preocupar com isso
é de perder o juízo, não é?
Olho para as faces bronzeadas
dessas pessoas
e me vejo tão inútil.
(O sol da capital
já não me queima mais.)
(Sinto tanta coisa neste momento
que mal sei explicar.)
Olho para o rosto
de cada um que passa
me desejando boa tarde
e me vejo neles.
Pessoas sem sonhos absurdos...
Sinto uma impressão forte
que o povo daqui
só vive porque nasceu.
(No fim das contas
viver é esperar a morte
mesmo.)
Olho o povo passando
nesta tarde
que é mais bonita
do que a tarde da cidade.
Dou boa tarde
e entro pra escrever.
Ígor Andrade
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