sábado, 30 de abril de 2011

Axioma

Escrevo a vitória de cada entendimento
no inesquecível santo momento presente.

Qualquer grão de compreensão
deve ser cultivado ao extremo.

Teimo em navegar em mim
neste oceano perdido
sem remo.

Tremo
em cada verdade
que me mente o instante
mas solidifico todo meu ser
em tudo que vejo
mesmo de olhos fechados.



Ígor Andrade

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Parafraseando Augusto dos Anjos

Passo curtos dias a esmo.
Não me queixo mais da morte.
Nem sinto medo do corte.
Eu tenho um norte em mim mesmo.



Ígor Andrade

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Ilha e pedras

Acordo a tarde
com um susto.

No sonho
minha menina
era diferente:
não tinha pernas
só tinha busto.

Acordo à tarde
com aquela sensação
que não só eu
não consegue caminhar.

Sempre que sonho com minha menina
estamos longe de todos
e bem perto do mar.

Acordo de acordo com o sonho
e não tem acordo.

Sinto saudade do sono tranquilo
e minha menina sente falta do pôr-do-sol.
É isso!

Interpreto qualquer incômodo
pela ausência.



Ígor Andrade

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Domingo do meu Pecém (24/04/2011)

Há dias
que estou
procrastinando um poema.

Um pássaro
na beira da piscina
bica a água e perde uma pena.

Tudo que vejo
é como me sinto.

O pequeno pássaro
perdeu seu verso pro vento.

Cada poema nasce
às vezes não cresce
mas voa.

Escrever é ser
essa mutação
de olhar o que de fora
existe dentro de nós.

Entendo as mudanças
mas nem sempre é bom.
Entendo o que é bom
mas nem sempre é mudança.

Há dias
vejo um poema
se formando
e me formando
e não sei explicar
o que é esse sentir.

(Já não sei
se era este o poema
que eu queria escrever.)

Há dias
eu esperava
por este pássaro
na beira da piscina.

Acho que é isso...



Ígor Andrade

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quarta-feira, 20 de abril de 2011

57

Minha poesia nasceu
há cinquenta e sete anos
no interior do Ceará.

Foi em Ipueiras
que meus primeiros versos
se formaram.

Foi na estrada de terra
que a poeira virou poesia.

De lá pra cá
tudo é nascimento, mãe.

Parabéns!



Ígor Andrade

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terça-feira, 19 de abril de 2011

Aldeota

Esse bairro
supostamente nobre
de poucos cães
e muitos pobres
de cultura e educação
(caixa torácica sem coração)
sufoca o meu ser
com toda essa aparência.

Saibam que por aqui:
carro caro
e muito dinheiro
acompanham o egoísmo
do egoísta de ego grande
e mente pequena.

Sinto-me perfeitamente normal
em sentir pena...

(Se atropelar um carroceiro
ganha bônus no cartão de crédito!
Se xingar alguém no sinal
ganha milhas de viagem
na companhia aérea da puta que pariu!)

Confesso este retrocesso:
tem gente que não é gente.
Ponto!

O poeta pode parir um poema
atravessando o barulho da rua
mas ainda não consegue achar
uma calçada que preste para caminhar.



Ígor Andrade

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domingo, 17 de abril de 2011

Write

Escrevo por pura teimosia.
Escrevo na noite
o que esqueço do dia.



Ígor Andrade

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Epifania

Tinha a calçada e o domingo nos olhos. Alheios. Era tudo que um ser precisava para sentir a paz outra vez. Tinha a mulher que amava, quieta, descansando. Tinha o que queria no sorriso do cachorro vira-lata. Tinha pouco sol, mas muita luz. Tinha poemas infinitos na cabeça arejada. Qualquer coisa que passasse na rua era bonito e engraçado. Qualquer mendigo sente a beleza sem a precisão da vaidade. Tinha o ego embaixo do pé. Tinha as mãos escrevendo no ar. Tinha o que esquecer e tinha o que lembrar. Tinha o melhor domingo da melhor semana do melhor mês do melhor ano. Tinha a calçada e o domingo nos olhos. Alheios. Tinha enfim o que sonhar acordado. "Vim, vi, venci." A última frase que martelava o juízo fazia mais sentido nesta tarde. Tinha a morte longe, ou achava que tinha, e talvez por isso via nas pedras da rua uma revelação.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Eu me entendo (?)

Minha construção
é uma confusão
organizada.



Ígor Andrade

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Acordo rimando

Sonhei com um poema pronto.

Acordei e não lembro
de uma palavra sequer.

Acordar rimando
o que não se sabe
parece fazer algum sentido...

(Tudo que parece
desaparece.
Preste bem atenção!)

A beleza da poesia
está também no esquecimento.
- Vejo a beleza com um entendimento muito particular. -
A beleza dos versos que não lembro
me fazem procurar o invisível.

Quanta beleza há no ar que respiramos?
Já parou pra pensar nisso?

Não lembrar é manter para sempre
a poesia dentro da alma
e às vezes longe dos olhos.



Ígor Andrade

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domingo, 10 de abril de 2011

Relief

Busco o inevitável
no inaceitável
insistindo em calmaria.

Há dias que penso
que minha função de escrever
é superar
toda e qualquer coisa
que não seja noite.

Eu não sei ainda
onde descubro cada palavra
e nem sei o que dizer
antes de ouvir.

Mas sinto
que aceitar a vida
é não pensar no fim.

Desde já
sou cada começo
sem meio
e sem modo
e discordo sempre
pra acordar.



Ígor Andrade

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Obstinação excessiva

Sigo
seguindo
e a vida me segue.



Ígor Andrade

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Cuatro

Sonhei com tua voz
de novo
e tudo parece novo.

Longe de tudo.
Longe do povo.

Só nós:
eu, você e sua voz.

Sua voz
como antes
vive sorrindo.

Sonho risonho.
Sonho partindo
porque acordei.

Pelo menos
não tive pesadelo.
Pelo menos
eu te encontrei.



Ígor Andrade

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Olhos (Poemão)

Vida de poeta
é caminhar
com as mãos.



Ígor Andrade

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sábado, 9 de abril de 2011

Depressa

Até aqui
só o ali
me interessa.



Ígor Andrade

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O passado passou

Para o amigo Leo Macedo (O Soldado).

O passado passou.
Aprendamos de uma vez.
Tudo está aonde deveria estar
e não aonde queremos que esteja.

Somos pequenos demais
para querer controlar tudo e todos.

O mundo gira teimosamente
e a nossa teimosia repetidamente
acaba se tornando burrice.

(Aprendamos!)

Somos o presente
no presente
e isso é suficiente
(ou deveria ser).

Meu amigo,
o passado passou
e tinha mesmo que passar.

Passou como somos.
Passou o que sonhamos.
Passou quase tudo... enfim.

O passado passou
como passos na areia seca
que a onda leva.

Passou o passado
a trova e a treva.

Que nos sobre
alguma Eva
e a luz
e todo o silêncio
do apendizado
...



Ígor Andrade

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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Metáfora no pé

Todo dia tropeço
na mesma calçada.
Ou errei o caminho
ou acertei na pisada.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dos delírios persecutórios

Até onde eu sei
tudo ainda
não me sabe.



Ígor Andrade

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O ponto

Para Fernando Pessoa.

Agora entendo
o cansaço antecipado
dos olhos tristes e distraídos
que eu tenho.

Agora entendo
o tudo que não é
esse amanhã.

Ou se vive a navegar
ou se morre antes do mar.

Tudo é questão de tempo.
Desse tempo que passa rápido demais.

(Meu poema já passou...)

Agora entendo
ou penso que entendo
ou entendo o que penso
e basta.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quatro horas

Acordo lento.
Acordo o vento.
Acordo e sento
neste vazio
que é acordar.

Existem monstros demais
embaixo da cama.
Existe uma quimera medonha
no meu olhar.



Ígor Andrade

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Poetrix estranho

O dia quatro
me lembra
duas pessoas.



Ígor Andrade

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domingo, 3 de abril de 2011

Pelo menos uma certeza

A tarde
só é tarde
quando penso na noite.



Ígor Andrade

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Invisualidade

Ninguém vê
o que eu sinto;
nem eu.



Ígor Andrade

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Depois de sábado

E quando você vê
o domingo já chegou.

Tudo aparentemente silêncio.
Tudo escondido do lado de fora.

O domingo chegou
e vai embora
mas eu fico.

Tudo é pequeno demais
para que eu me lembre.
Tudo é grande demais
para que eu me esqueça.

Se o domingo é parado
adormeça
mas não pare no sonho.



Ígor Andrade

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sábado, 2 de abril de 2011

É(difícil)

Numa bela tarde fria
a janela aberta me dizia
que tudo eu perdia
sem perceber
sem me notar.

Perdia tempo
e esquecia o sonho.
O meu ser é enfadonho
mas eu quero voltar.

Voltar pro lugar que deixei.
Voltar pro lugar que construí.
Sentir tudo que um dia senti
e dormir em paz.

O resto jaz.
O resto é jazz.
O resto diz
que a harmonia
do sorriso perdido
deve acordar.



Ígor Andrade

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