terça-feira, 30 de novembro de 2010

O universo é a casca do nós

Para o Dr. Rafael Dias Marques.

Cada olho meu
é um universo nosso
que seu conhecimento cuida.

Às vezes me pego pensando
em como o senhor enxerga
os olhos dos seus pacientes.

E ser paciente
é algo do médico
que me apressa.

Esse tipo de conversa
que hoje tivemos é
a mais pura filosofia oftalmológica.

Por que o senhor não pensou
em ser cardiologista?
Respondo:
- A razão do peito
trai os olhos
da alma.

A medicina e a poesia
nesta terça
nesta tarde
foram passear
no breve tempo do cosmos
e encontraram a harmonia
das artes.

(Agora eu soube que
pelo menos vemos
o universo tão elegante
quanto o poder da recuperação
desta vida mortal
e única.

Eterna era a criança
de seis anos de idade
que o senhor consultou
pela primeira vez.)



Ígor Andrade

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dissimulação (um poema atrasado)

As madames
no alto do Cristo Redentor
se apequenam
na redenção dos pecados
rezando pela paz.

Acabada a missa
voltam para casa
e contribuem para a violência
mais uma vez.



Ígor Andrade

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Antes de qualquer coisa, procure no dicionário.

O pior tráfico
não é o de drogas.
É o de informação.



Ígor Andrade

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domingo, 28 de novembro de 2010

Troca de elite (o próximo filme)

O capitão Nascimento
pede aposentadoria.
Ele também desistiu!



Ígor Andrade

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Manchete de domingo

A guerra do Rio
engana a miséria
do meu Nordeste.



Ígor Andrade

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sábado, 27 de novembro de 2010

Władysław Szpilman

A vida
o tempo leva.
A morte
na memória vinda...

Pensei muito
pouso sempre
penso ainda.

Szpilman
o polaco
tão eu
tão ninguém
morreu fraco.

Mas veio amanhecer
meu maior sentido
adormecido.

Sorri e chorei
morri e voltei.
Seu piano toca no medo
desconhecido.



Ígor Andrade


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Poemaduro

Sincretismo
na noite de sexta.
Minha poesia anda besta?



Ígor Andrade

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Carboximetilcelulose sódica 0.5%


Lacrimeja, olho, lacrimeja.
Porque o que a minha alma almeja
não tem fim.

Enquanto meu olho não cura
o meu dia mal dura
e tento afastar todos de mim.

Lacrimeja, olho, lacrimeja.
Que minha poesia toca o que quero.

Lacrimeja, olho, a lágrima que seja.
Embaça em mim a peleja
mas transpareça aquilo que espero.



Ígor Andrade

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Da insatisfação

O poeta
deve olhar para a sua poesia
com os olhos dos outros.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Extenuante

Se algo for humano
esse algo é relativo.
Ser humano é cansativo.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Revolucionário

Quem conserva tudo
não conversa nada
consigo mesmo.



Ígor Andrade

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Ecce homo

Descanso a poesia
no meu peito.

O barulho da rua
contra o silêncio perfeito.

Hoje um adjetivo perdido
de um predicado sofrido
encontra o sujeito:
infeliz.

De nihilo nihil.

Nada vem do nada
nem a minha amada
que costumava ser tudo
um outro todo mundo
e quase me escapou por um triz.

Há noites que são assim.
Me escapam as palavras
mas eu não fujo de mim.

Hoje a mulher que eu amo
e minha poesia
descansa no meu peito
e sou muito suspeito
para despertá-las.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lo spirito santo

O espírito santo
é a minha amada.
Ou a tenho em meu canto
ou não amo mais nada.



Ígor Andrade

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Dolore

Quando
minha mente sofre
o meu corpo sente...



Ígor Andrade

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Brucia La Terra

Algo me aperta o peito
e me rouba a palavra.

Eu não sei o que é.

Lembro do pai
que poderia ter tido.
Ou da mãe
que sonhava em me ter.

Agora tenho uma saudade
sem nome
e o corpo quente
de inquietação.

Minha casa não tem portões
e um pequeno pássaro me visita
sempre pelas manhãs
na minha janela fechada.

Eu preciso respirar
como a criança
que havia em mim.

Eu preciso contar pra alguém
que cansei de sofrer
pelo que não existe.



Ígor Andrade


domingo, 21 de novembro de 2010

Fantasmas sonâmbulos

As pessoas passam na rua
na manhã de domingo.
As pessoas passam aqui dentro
na manhã de domingo.
As pessoas que passam não existem
na manhã de domingo.



Ígor Andrade

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Você também sente?

Há uma lágrima presa
num olho hoje
que não é meu.



Ígor Andrade

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Buon giorno

Um bom dia para alguém
que assim como eu
queria um outro dia.

O dia mal começou.
A noite mal acabou.
E eu encontro a poesia...

Poesia
que vejo em tudo
até em quem me faz mal.

Mais um domingo
mais um domingo dormindo
sonhando com o começo
adormecido em cada final.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O anagrama máximo

Ame
o
poema.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Revisitando os jardins de minha amada (um anagrama)

O amor
é o aroma
que mora
na sua flor.



Ígor Andrade

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Fala, véi!

Hoje conversei com meu pai
como há tempos não conversava.

Longos minutos intermináveis.
Intermináveis minutos longos.

(Nunca um celular foi tão útil pra mim!)

Hoje me senti tanto filho quanto pai
e algo novo me ocorreu:
Hoje conversei comigo mesmo
e fazia tempo que esperava por isso.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Meio Drummond

Ainda prefiro
uma meia verdade
que a inteira mentira
de um amor útil
que não me serve.



Ígor Andrade

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Eu torço Argentina

Olho no lance!
A bola não entra
e não tenho um romance.



Ígor Andrade

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Desequilíbrio

Escrevo poemas bobos
pela madrugada.
Numa mão não tenho tudo
e na outra tenho nada.



Ígor Andrade

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Ninar

São quatro da manhã.

E da janela da cozinha
vejo no prédio vizinho
uma moça com um bebê
nos braços.

Ele chora alto
e muito
e não pára.

Esta cena me agonia.

De certa forma
sou este bebê
agora
só que sem mãe.

Não sei se é fome
se é medo
ou se é a ignorância
sobre a vida.

Mas tanto eu, como o bebê
não conseguimos dormir
e não sabemos muito bem
o que fazer.



Ígor Andrade

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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Maçã verde (uma metonímia pobre)

Só por hoje
eu te esqueço.
Enquanto tu amadurece
eu amadureço.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tudo é

Tudo que você diz
é.

Tudo que você fez
foi.

Tudo que é
somos.



Ígor Andrade

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Talking cure

Confidencio meus desejos
pro espelho.
Meu pudor está vermelho.



Ígor Andrade

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Amanhecente

Me observo
de longe
bem longe
tão longe
que mal me enxergo
e aí me envergo
com o tempo
que cobre e descobre
a vida.

Eu não lamento mais
a pouca visão
que tenho
que tinha
que tira
de mim o óbvio.

Amanheço
de vez em quando
enxergando tudo
e fico mudo
perante o amanhã-ser.



Ígor Andrade

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sábado, 13 de novembro de 2010

Preâmbulo

O ineditismo nascente

de um dia comum
me traz pra superfície
que é um outro céu
de poema nenhum.



Ígor Andrade

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Afasia

Estou eu aqui de novo
tentando enxergar o novo
algo que venha antes
antes da galinha e do ovo
antes de tudo.

A sombra
a voz
o medo
o mundo.

Agora e aqui
estou só
com um vulto
tentando enxergar o oculto
num cansaço só
de tanto pensar
que dá dó...

Sei lá!
O mundo de cá
de dentro
é o pior
e o eu só
parece não ter fim.

Todo bendito dia que nasce
morre antes
bem antes de mim.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O verde amadurece

Me sinto mais homem
não por falar o que penso
mas por silenciar tudo
o que espero.



Ígor Andrade

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Conjecturando

Alguém me espia
no começo do dia.
És tu, poesia?



Ígor Andrade

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O absurdo

Algo mais
que esta tarde
eu preciso.

Preciso do não-preciso
e precisar me perturba.

Expandir minha consciência
além da ilusão qualquer
que crio no fim do dia
é a poesia salvadora.

Eu quero o grito da virgem
rasgando o silêncio cansado.

Algo maior que o barulho
do martelo na rua
ou algo menor
que a poeira da minha sala
vazia.

Vomito a tarde toda
neste mal-estar fatigante
e já é noite
mas era noite
antes do fim da tarde.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Às sete

Todos acordam.
Todos saem.
Todos sou eu
querendo ficar
dormir
e ser outro.



Ígor Andrade

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Um olho aberto e o outro fechado

Acordar estranho
o abrir dos olhos estranho
o dualismo do mundo estranho
o niilismo que é minha vida
também estranho
o sentir tudo estranho
sem saber pra quê.

Me pego pensando
no não-apego das coisas
nas doenças incuráveis
nas noites mal dormidas
nas mulheres que não tive
e não sei por quê.



Ígor Andrade

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Conjuntivite Papilar Gigante

Não há nada
nesta manhã de hoje
que eu não seja.

Sou ainda
a noite de ontem
o nada de ontem
o amanhecer de olhos apertados
a interminável dor de cabeça
a impaciente peleja.

Não há nada
nesta manhã de hoje
que eu não seja.



Ígor Andrade

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Medo de dormir

Este quarto tão grande
esta cama tão grande
o sonho de hoje
(que ainda terei)
tão grande
e a vontade tão grande
de escrever neste vazio...

Como é difícil ser poeta!

E depois
o acordar sacrificante
e o eu tão pequeno
ainda sozinho.

Como é fácil ser poeta!



Ígor Andrade

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sábado, 6 de novembro de 2010

O dia não terminou

Me encontro
quando te encontro
nesta e em outras
madrugadas.

Minha amada
desarmada
menina mimada
na minha mente.

Penso em você
como uma semente
e minha poesia floresce.

O que amo não esqueço
e quem ama nunca esquece
que o outro amadurece
dentro de nós.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Shoshin

Eu preciso meditar mais.
Estou à caminho da guerra
entretanto me sinto em paz.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Alive

Lá vem o dia
anedonia
o que eu quero hoje
ontem não queria.

Aí está a graça
de amanhecer
e amolecer
uma madrugada dura.



Ígor Andrade

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