quinta-feira, 19 de julho de 2012

Parafraseando Erich von Däniken



Indefinidos vultos de gigantes abobalhados.
Sussurros circulando pelo ar frio.
Irreconhecíveis macróbios 
comodamente sentados no chão
carregando fardos onerosos
apoiados em bustos vazios.
Sombra de coqueiros 
que assombram qualquer fruto.
Vozes que nada dizem.
Tudo estruturado demais.
Tudo estranho de menos.
Nada como antes.
Imaginação de imaginar finitudes.
Tempo sem noção de tempo.
Passo que alcança o espaço.
Inteligência sideral etérea.
Semelhantes e diferentes
deuses de uma tarde
que não passa.




Ígor Andrade

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terça-feira, 17 de julho de 2012

Quecé e Quecê



Silencioso, o sujeito observa. Um gato branco atravessa a rua escura. Tudo muda. E pode amanhecer logo. Antes que tudo se perca numa janela empoeirada, o olho encontra a folha, a mão encontra a espada. A arte salva a madrugada. E mais nada: guerra. Azul é a cor da palavra: terra. Algo pequeno lavra a teoria minimalista. O corpo nu é grande. Roupa suja se lava em casa, alheia. Coisa feia é não entender o que se veste. Visto o verso, e qualquer idéia que me agrade eu transformo num avesso infinito. Um olhar sem fins. Eu em mim, e no outro. Pouco do que se olha já é muito. Muito do que se pensa cai no esquecimento. Lamento esquizofrênico. Um dia a dia depois de noites. Ninguém dorme até sonhar direito. Causa sem efeito. Pausa no inconsciente. O caminho é longo para quem tem pernas curtas. O gato branco se foi, mas o muro ficou. 




Ígor Andrade

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sábado, 14 de julho de 2012

Rabisco



A busca
ofusca.
Não pisque!




Ígor Andrade

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Everything's gonna be alright



A madrugada plena.
A madrugada é plana
e plano.
A madrugada é o pano
que a mulher costura
em silêncio.
A madrugada pena
e eu bato pino.
Horas em que o fino 
da vida
é pensar numa morte
que não morre.
A madrugada corre
e eu corro.
Não morro.
A madrugada socorre
quem sem socorro
sabe escrever.




Ígor Andrade

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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dezoito andares



Cinco mulheres e eu
no elevador.


Eleva a dor de quem quer silêncio.
E leva a dor para o andar de sempre.


Cinco mulheres.
Cinco sapatos diferentes.
Cinco perfumes diferentes.
Cinco cores de cabelos diferentes.
Tudo muito diferente
dentro do elevador.


Duas conversam sobre filhos.
Talvez a comédia
de ser mãe.


Outras duas conversam sobre a correria do dia a dia.
A rotina reta de suas vidas tortas.
Talvez a tragédia do que é
estar vivo.


A mulher perto do espelho
cala.
Talvez fale consigo mesma.


Onde estou eu
nesta eternidade tão breve?


Só sei que vou pra academia
com a coragem de um moribundo.
Abunda um não sei o quê
neste meu vazio.


Cinco mulheres e eu
no elevador.
Seis vidas que irão acabar.
Seis mortes que serão esquecidas.


Tudo passa tão rápido.
Até o elevador.


Cinco mulheres e eu.
Todos tão diferentes.
Seis seres humanos
tão iguais.




Ígor Andrade

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sexta-feira, 6 de julho de 2012

Anamnese


Paro num instante da madrugada
e não entendo minha vida.
Assim como também não entendo quem não vive.

Hoje, agora, neste minuto
eu já passei.
É complicado ser.
E somos.

A soma some
se o santo não sente.
Pelo menos a rua vazia e eu.
Ambos sentimos muito.
Tudo.

Nada.
Se eu tivesse existido
antes
mesmo assim
só depois me salvaria.

De quê?
De quem?
De qual assunto estou falando?

Ter que existir é como a solidão; ninguém entende.


Ígor Andrade

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terça-feira, 3 de julho de 2012

Dormi na trincheira



Terça-feira enjoada.
Muita gente na rua
poucos cães em casa.
Eu alongo minha coluna
na esperança de algo ir
pro lugar certo.
Meu estômago vazio.
Minha cama me chama.
O parto perto
antes da morte.
Eu poderia ser mais forte.
Ela poderia ser qualquer coisa.
Ninguém entende de liberdade 
poética.
Apenas três latas de cerveja na geladeira.
Alguns miseráveis vão acabar num manicômio.
Eu não começo uma dieta tão cedo.
Minha mãe tem medo
de voltar a andar.
Antes de qualquer coisa
o ócio.
Vou fazer minha barba.
Hoje não tem revolução.




Ígor Andrade

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O predicado anda



O sujeito segue convicto de não poder encontrar o caminho da vida.
O sujeito segue convicto de não poder encontrar o caminho.
O sujeito segue convicto de não poder encontrar.
O sujeito segue convicto de não poder.
O sujeito segue convicto de não.
O sujeito segue convicto.
O sujeito segue.
O sujeito
parado.




Ígor Andrade

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segunda-feira, 2 de julho de 2012

2012 e um desabafo



Nesta época, eu prefiro evitar todo tipo de bondade declarada. Mais nada. E antes de tudo, se eu posso evitar, também prefiro dizer que não devo tolerar mais, qualquer forma de fundamentalismo, qualquer ismo a esmo. Por aí tem muito disso e muito mesmo. O diferente vive longe e cedo, de quem é tarde e perto. Desperto o (pre)juízo sem jeito. Dispenso o peito que não se abre. Hoje, e tão somente hoje, é preciso, e eu preciso, compreender o mal. Um animal que sou, tão humano e tão profano. O peso de um piano de chumbo me pesa a alma. A calma não quer conversar. Eu sofro da biologia das coisas, e vamos combinar que as ciências biológicas são poéticas demais. Lógica é verso fantasma. E a bíblia nada me diz. Assim como nada me dizem: o alcorão, o torá, o bhagavad gita, e todos os outros. "Drummond é meu pastor e nada me faltará." Quintana, Einstein, Sagan, Pessoa e tantos outros também. Ninguém entende minhas ironias. Vivemos num tempo que insiste em regressar pro medieval. Não merecemos todo o avanço científico e tecnológico. Nossos relógios se confundem com os ponteiros. Não sabemos ao certo o que somos e porque estamos aqui. O criacionista não se conforma com suas teorias. O evolucionista se deprime. Não acordei maniqueu, nem ateu, mas sou teu, Rafaela. Aquarela que nasceu pronta. A ponta do iceberg que afundou o titanic. O chilique do capitão. Um mendigo que atravessa na contramão, de sua fome. Desconfio de qualquer eloquência, seja ela qual for, sobre o que for. Fora o jocoso que enfrenta o manhoso. Agradável possível profundo de minhas epifanias. A suavidade das manhãs costumavam me encantar. Nunca existiu salvação!




Ígor Andrade

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