quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A lente 3

O dia continua quente
mas ele nunca sente.
O dia sou eu carente.



Ígor Andrade

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A lente 2

O dia ainda é quente
mas o dia ainda não sente.
O dia é uma semente.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A lente

O dia é quente
mas o dia não sente.
O dia mente.



Ígor Andrade

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domingo, 26 de dezembro de 2010

Transgressão imputável

Quando um poeta pensa em suicídio
ele pensa em homicídio.

Matar alguém que vive em seus versos
não parece um crime assim tão grave.



Ígor Andrade

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No sense (dream poem)

O pôr do sol mal passou
e eu mal passei.

Ainda passamos
como os dias.

As lembranças daquela tarde
tocaram no amarelo e laranja
de um vermelho coração.

A Terra vista do aterro
outra vez me apequenou.

Sou uma rocha perdida no mar.

Eu afundo
afundo
afundo
e no fundo
ainda sou o mesmo.

Sentir o que se sente
do mesmo jeito
daquele dia
é grandioso.

Estou cansado
e preciso dormir.

Estou pesado.
Eu afundo
afundo
fundo.



Ígor Andrade

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Educando

Uma noite
de poemas ruins
ensina mais
que um dia
sem poesia.



Ígor Andrade

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Infância

A razão das coisas
está
na nossa ignorância.



Ígor Andrade

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Horas tentando entender...

Horas tentando entender
a coisa verdadeira
que não parece verdade.

Horas tentando entender
o incompreensível
do que não me pertence.

Horas tentando entender
o que é a chegada
antes mesmo da partida.

Horas tentando entender
o outro
que parece comigo.

Horas tentando entender
o frio ártico na barriga
antes do abraço.

Horas tentando entender
as horas
que não entendo.

Horas tentando entender
o porquê
de um poema inacabado...



Ígor Andrade

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sábado, 25 de dezembro de 2010

A coisa e eu

Se não vemos as coisas
como são
e vemos as coisas
como somos
tenho a impressão
de que tão pequenos nos tornamos
que perder a visão sobre tudo
é uma questão de tempo.

(E questão de tempo
é um desespero
que não ajuda.)



Ígor Andrade

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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Auto-conhecimento alheio

Domine
o seu eu
no outro.



Ígor Andrade

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Poema-irônico-estranho

Uma coisa engraçada
me passou na madrugada.

Uma hora
tudo
outra hora
nada.

Mas estou vivo
e os outros não.

Os outros morrem
toda noite.



Ígor Andrade

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Que não se pode terminar


A noite me estranha
e eu estranho a noite.

À noite
quando tudo é estranheza
eu saio de mim.

De fora
todo dentro
é maior que a noite.

(É preciso
algum estranhamento
para admirar uma certa normalidade.

É preciso
alguma normalidade
para admirar todo estranhamento.)

A noite sou eu
e eu sou a noite.
Somos estranhos.
Ponto.

À noite me acanho.
À noite eu apanho.
À noite me banho
de tudo que é sozinho.

Parece que adivinho
que vou ser sempre só.

A noite e eu
nos estranhamos
quase sempre
e sempre é tão pouco.



Ígor Andrade

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sábado, 18 de dezembro de 2010

29

Nunca tive outra idade
senão
a da poesia.



Ígor Andrade

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O não ir (meu baú)

Me sinto como um lar
de poemas perdidos
que chegam
de algum lugar
esquecido
e me fazem
esquecer de mim.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sexta-feira

Eu próprio sei
o quanto meu caminhar é suave.

A topada perdida na esquina
o vôo longe da ave.

Eu sei e eu sou
a chave
da porta trancada.
O boi sumido da manada.
O escurecer e a alvorada.

Eu próprio sei
o quanto meu caminhar é suave.

A fome e o mal-estar que restou.
A nuvem, o navio, a nave.
A bola na trave
da partida que nem começou.

Eu próprio sei
o quanto meu caminhar é suave
o quanto meu caminhar é suave
o quanto meu caminhar é suave.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Como sempre

Quase outro ano
chegando
e eu indo
e antes que
este ano acabe
eu me acabo
e não sei porquê.



Ígor Andrade

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Poema-qualquer

Perto da meia-noite
meio que um vazio vem.

O meio da noite
é o pior do dia.
O meio da noite
é o resto do dia.

Sei lá...

Perto da meia-noite
estou tão distante
quanto vazio.

(Por que afasto todos de mim?)

Meia-noite quase
um meio de me medir
quase
e por pouco não enlouqueço.
Ou de certo esqueço
o que é indiscernível.

Aceito
e me entendo
com toda solidão que carrego
mas não nego
que em momentos assim
sinto um medo inexplicável
do que julgo indefinível.



Ígor Andrade

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Converse com seu médico

Culpa e auto-crítica
excessivas
são doenças de poeta.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Thiago Andrade

Para meu irmão.

Você é o melhor cara que conheço.
Você tem a cara de alguém que conheço.
Você é o cara
e em você me reconheço.

Você é o cara
que quando o tempo pára
faz tudo caminhar.

Você é o cara
peça rara
e faz o tempo parar.

Você é companheiro
no meu caminho.
Você é o caminho.
E eu sozinho
estou com você
até morrer.

Eu sou o cara que escreve.
Nós somos a palavra e o silêncio.
Você é o cara que lê.



Ígor Andrade


Pequena nota: Felicidades hoje e sempre, meu parceiro!
Minha poesia é o único presente que posso te dar, por enquanto.
Eu te amo, cara!

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Diagnóstico

Se um dia eu perder minha visão
nunca esquecerei
que minha poesia
sempre estará comigo.

Troco a razão das coisas
pela magia das palavras.

Fico sem enxergar
mas não largo meus sonhos.



Ígor Andrade

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A forma do dia

A ansiedade me maltrata.
Me morde e me sopra.
Me molda e me mata.



Ígor Andrade

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Ahora o nunca

Daqui a pouco
largo o pouco
e tento o muito.

(Penso no muito
como qualquer pouco
que não tenho.)

Daqui a pouco
tento mais uma vez
tento o muito
mais uma vez.

(Daqui há pouco
daqui o pouco
daqui é pouco
daqui a pouco.)

Daqui a pouco
fico é louco
sem muito
e nem pouco
rouco
de tanto gritar
e ninguém ouvir.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cefaléia

Reforma em casa.
Reforma em mim.
E eu sem dormir...



Ígor Andrade

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Três pontos

Minha poesia está confusa.
O dia foi curto
e a noite me usa.



Ígor Andrade

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domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu passarinho

Aquela estranha sensação
de solidão
de domingo vazio
de um sol na mão
quando escrevo.

De sentir calor
e frio.
De ser confusão
no domingo vazio.

Procuro um poema
leve
que me leve
como um beijo
um lampejo.

No domingo vazio
eu preciso sempre
ser mais forte.

Pássaros no meu estômago
voando sem norte.
Morte.



Ígor Andrade

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Cristal

Numa noite que seja
um pequeno alívio vem
com alguma cerveja.



Ígor Andrade

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sábado, 4 de dezembro de 2010

Too late

Nada mais
a ser feito.

Hoje anoiteço
com um cansaço de gerações
e uma frieza no peito.

Nada mais.
Tudo menos:
eu.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Self as known

Para chegar no fundo
de si mesmo
antes observe bem
a superfície do outro.



Ígor Andrade

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Da existência pura

Madrugada calada.
Madrugo distante.
Madrugo e mais nada.



Ígor Andrade

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

O universo é a casca do nós

Para o Dr. Rafael Dias Marques.

Cada olho meu
é um universo nosso
que seu conhecimento cuida.

Às vezes me pego pensando
em como o senhor enxerga
os olhos dos seus pacientes.

E ser paciente
é algo do médico
que me apressa.

Esse tipo de conversa
que hoje tivemos é
a mais pura filosofia oftalmológica.

Por que o senhor não pensou
em ser cardiologista?
Respondo:
- A razão do peito
trai os olhos
da alma.

A medicina e a poesia
nesta terça
nesta tarde
foram passear
no breve tempo do cosmos
e encontraram a harmonia
das artes.

(Agora eu soube que
pelo menos vemos
o universo tão elegante
quanto o poder da recuperação
desta vida mortal
e única.

Eterna era a criança
de seis anos de idade
que o senhor consultou
pela primeira vez.)



Ígor Andrade

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dissimulação (um poema atrasado)

As madames
no alto do Cristo Redentor
se apequenam
na redenção dos pecados
rezando pela paz.

Acabada a missa
voltam para casa
e contribuem para a violência
mais uma vez.



Ígor Andrade

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Antes de qualquer coisa, procure no dicionário.

O pior tráfico
não é o de drogas.
É o de informação.



Ígor Andrade

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domingo, 28 de novembro de 2010

Troca de elite (o próximo filme)

O capitão Nascimento
pede aposentadoria.
Ele também desistiu!



Ígor Andrade

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Manchete de domingo

A guerra do Rio
engana a miséria
do meu Nordeste.



Ígor Andrade

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sábado, 27 de novembro de 2010

Władysław Szpilman

A vida
o tempo leva.
A morte
na memória vinda...

Pensei muito
pouso sempre
penso ainda.

Szpilman
o polaco
tão eu
tão ninguém
morreu fraco.

Mas veio amanhecer
meu maior sentido
adormecido.

Sorri e chorei
morri e voltei.
Seu piano toca no medo
desconhecido.



Ígor Andrade


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Poemaduro

Sincretismo
na noite de sexta.
Minha poesia anda besta?



Ígor Andrade

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Carboximetilcelulose sódica 0.5%


Lacrimeja, olho, lacrimeja.
Porque o que a minha alma almeja
não tem fim.

Enquanto meu olho não cura
o meu dia mal dura
e tento afastar todos de mim.

Lacrimeja, olho, lacrimeja.
Que minha poesia toca o que quero.

Lacrimeja, olho, a lágrima que seja.
Embaça em mim a peleja
mas transpareça aquilo que espero.



Ígor Andrade

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Da insatisfação

O poeta
deve olhar para a sua poesia
com os olhos dos outros.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Extenuante

Se algo for humano
esse algo é relativo.
Ser humano é cansativo.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Revolucionário

Quem conserva tudo
não conversa nada
consigo mesmo.



Ígor Andrade

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Ecce homo

Descanso a poesia
no meu peito.

O barulho da rua
contra o silêncio perfeito.

Hoje um adjetivo perdido
de um predicado sofrido
encontra o sujeito:
infeliz.

De nihilo nihil.

Nada vem do nada
nem a minha amada
que costumava ser tudo
um outro todo mundo
e quase me escapou por um triz.

Há noites que são assim.
Me escapam as palavras
mas eu não fujo de mim.

Hoje a mulher que eu amo
e minha poesia
descansa no meu peito
e sou muito suspeito
para despertá-las.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lo spirito santo

O espírito santo
é a minha amada.
Ou a tenho em meu canto
ou não amo mais nada.



Ígor Andrade

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Dolore

Quando
minha mente sofre
o meu corpo sente...



Ígor Andrade

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Brucia La Terra

Algo me aperta o peito
e me rouba a palavra.

Eu não sei o que é.

Lembro do pai
que poderia ter tido.
Ou da mãe
que sonhava em me ter.

Agora tenho uma saudade
sem nome
e o corpo quente
de inquietação.

Minha casa não tem portões
e um pequeno pássaro me visita
sempre pelas manhãs
na minha janela fechada.

Eu preciso respirar
como a criança
que havia em mim.

Eu preciso contar pra alguém
que cansei de sofrer
pelo que não existe.



Ígor Andrade


domingo, 21 de novembro de 2010

Fantasmas sonâmbulos

As pessoas passam na rua
na manhã de domingo.
As pessoas passam aqui dentro
na manhã de domingo.
As pessoas que passam não existem
na manhã de domingo.



Ígor Andrade

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Você também sente?

Há uma lágrima presa
num olho hoje
que não é meu.



Ígor Andrade

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Buon giorno

Um bom dia para alguém
que assim como eu
queria um outro dia.

O dia mal começou.
A noite mal acabou.
E eu encontro a poesia...

Poesia
que vejo em tudo
até em quem me faz mal.

Mais um domingo
mais um domingo dormindo
sonhando com o começo
adormecido em cada final.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O anagrama máximo

Ame
o
poema.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Revisitando os jardins de minha amada (um anagrama)

O amor
é o aroma
que mora
na sua flor.



Ígor Andrade

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Fala, véi!

Hoje conversei com meu pai
como há tempos não conversava.

Longos minutos intermináveis.
Intermináveis minutos longos.

(Nunca um celular foi tão útil pra mim!)

Hoje me senti tanto filho quanto pai
e algo novo me ocorreu:
Hoje conversei comigo mesmo
e fazia tempo que esperava por isso.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Meio Drummond

Ainda prefiro
uma meia verdade
que a inteira mentira
de um amor útil
que não me serve.



Ígor Andrade

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Eu torço Argentina

Olho no lance!
A bola não entra
e não tenho um romance.



Ígor Andrade

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Desequilíbrio

Escrevo poemas bobos
pela madrugada.
Numa mão não tenho tudo
e na outra tenho nada.



Ígor Andrade

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Ninar

São quatro da manhã.

E da janela da cozinha
vejo no prédio vizinho
uma moça com um bebê
nos braços.

Ele chora alto
e muito
e não pára.

Esta cena me agonia.

De certa forma
sou este bebê
agora
só que sem mãe.

Não sei se é fome
se é medo
ou se é a ignorância
sobre a vida.

Mas tanto eu, como o bebê
não conseguimos dormir
e não sabemos muito bem
o que fazer.



Ígor Andrade

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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Maçã verde (uma metonímia pobre)

Só por hoje
eu te esqueço.
Enquanto tu amadurece
eu amadureço.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tudo é

Tudo que você diz
é.

Tudo que você fez
foi.

Tudo que é
somos.



Ígor Andrade

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Talking cure

Confidencio meus desejos
pro espelho.
Meu pudor está vermelho.



Ígor Andrade

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Amanhecente

Me observo
de longe
bem longe
tão longe
que mal me enxergo
e aí me envergo
com o tempo
que cobre e descobre
a vida.

Eu não lamento mais
a pouca visão
que tenho
que tinha
que tira
de mim o óbvio.

Amanheço
de vez em quando
enxergando tudo
e fico mudo
perante o amanhã-ser.



Ígor Andrade

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sábado, 13 de novembro de 2010

Preâmbulo

O ineditismo nascente

de um dia comum
me traz pra superfície
que é um outro céu
de poema nenhum.



Ígor Andrade

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Afasia

Estou eu aqui de novo
tentando enxergar o novo
algo que venha antes
antes da galinha e do ovo
antes de tudo.

A sombra
a voz
o medo
o mundo.

Agora e aqui
estou só
com um vulto
tentando enxergar o oculto
num cansaço só
de tanto pensar
que dá dó...

Sei lá!
O mundo de cá
de dentro
é o pior
e o eu só
parece não ter fim.

Todo bendito dia que nasce
morre antes
bem antes de mim.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O verde amadurece

Me sinto mais homem
não por falar o que penso
mas por silenciar tudo
o que espero.



Ígor Andrade

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Conjecturando

Alguém me espia
no começo do dia.
És tu, poesia?



Ígor Andrade

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O absurdo

Algo mais
que esta tarde
eu preciso.

Preciso do não-preciso
e precisar me perturba.

Expandir minha consciência
além da ilusão qualquer
que crio no fim do dia
é a poesia salvadora.

Eu quero o grito da virgem
rasgando o silêncio cansado.

Algo maior que o barulho
do martelo na rua
ou algo menor
que a poeira da minha sala
vazia.

Vomito a tarde toda
neste mal-estar fatigante
e já é noite
mas era noite
antes do fim da tarde.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Às sete

Todos acordam.
Todos saem.
Todos sou eu
querendo ficar
dormir
e ser outro.



Ígor Andrade

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Um olho aberto e o outro fechado

Acordar estranho
o abrir dos olhos estranho
o dualismo do mundo estranho
o niilismo que é minha vida
também estranho
o sentir tudo estranho
sem saber pra quê.

Me pego pensando
no não-apego das coisas
nas doenças incuráveis
nas noites mal dormidas
nas mulheres que não tive
e não sei por quê.



Ígor Andrade

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Conjuntivite Papilar Gigante

Não há nada
nesta manhã de hoje
que eu não seja.

Sou ainda
a noite de ontem
o nada de ontem
o amanhecer de olhos apertados
a interminável dor de cabeça
a impaciente peleja.

Não há nada
nesta manhã de hoje
que eu não seja.



Ígor Andrade

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Medo de dormir

Este quarto tão grande
esta cama tão grande
o sonho de hoje
(que ainda terei)
tão grande
e a vontade tão grande
de escrever neste vazio...

Como é difícil ser poeta!

E depois
o acordar sacrificante
e o eu tão pequeno
ainda sozinho.

Como é fácil ser poeta!



Ígor Andrade

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sábado, 6 de novembro de 2010

O dia não terminou

Me encontro
quando te encontro
nesta e em outras
madrugadas.

Minha amada
desarmada
menina mimada
na minha mente.

Penso em você
como uma semente
e minha poesia floresce.

O que amo não esqueço
e quem ama nunca esquece
que o outro amadurece
dentro de nós.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Shoshin

Eu preciso meditar mais.
Estou à caminho da guerra
entretanto me sinto em paz.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Alive

Lá vem o dia
anedonia
o que eu quero hoje
ontem não queria.

Aí está a graça
de amanhecer
e amolecer
uma madrugada dura.



Ígor Andrade

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domingo, 31 de outubro de 2010

Dil(e)ma (um poema desnecessário)

O país em vermelho
se prepara
para o próximo passo:

O abismo
o retrocesso
o escapismo
o descompasso.

Qualquer um eleito
seria o mesmo
daria no mesmo.
Tudo farinha do mesmo saco
é a minha impressão.

Como a maioria dos brasileiros
tenho o direito desde já
de não acreditar em mais ninguém.

Tenho direito de ser extremista
pelo menos em meus poemas
(sem sentido).

Não acredito na democracia
e nunca acreditei, aliás.

Eu penso que
escrever sobre a democracia
seria um poema impossível.


Ígor Andrade

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Celso

Eu não te conheço
e nunca te vi
mas me disseram
que você é um sujeito bom
um sujeito bom
de jeito calmo
um sujeito bom
tranquilo como o céu
deste fim de tarde
(Céuso).

Não sei porque este poema é seu
mas hoje me deu
uma vontade de ser Celso também
(carregar uma dor que não é minha
faz o entendimento do poema).
Uma vontade
de ter família
de ter cachorro
de ser médico
de ter graça.

De cuidar dos outros e esquecer de si.
De ver graça no sorriso alheio.
(Você sabe disso!)

É, Celso...
a graça da vida
não está na cura
está na superação.

Super ação
é acordar todo dia
querendo viver
querendo ver
a mulher sorrindo
os filhos crescendo
e no silêncio interior
perceber nosso eu
o eu grande
satisfeito com tudo agora
sem esperar o amanhã.

O amanhã
é a manhã
de sempre
de nascimento.

O amanhã é
e tem de ser
agora.

Celso, eu não te conheço
e nunca te vi
mas me disseram
que você é um sujeito bom
um sujeito bom.



Ígor Andrade

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