quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A cura

Para o amigo Fabio Rocha.


A poesia
me mantém vivo
até quando morro aos pouquinhos.
Me mantém lúcido
e me sintoniza com o tempo.

Estou de pé
decidindo para que horizonte
seguir.

Que o sol continue nascendo
ou se pondo
e que os mosquitos
não me roubem o silêncio.



Ígor Andrade

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Porque sério não posso

Busco o sorriso
que antes era só meu
e nosso.



Ígor Andrade

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Quanto de mim?

Quanto de mim
espera uma lógica de tudo
e se faz em pensamento
a ótica de um mundo
em que o mais absurdo sofrimento
me faz sorrir?



Ígor Andrade

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Sem ar, eu me engano.

A madrugada sorri
com as piadas que escutei.

Esqueci do dinheiro
que não tenho.
Esqueci dos problemas
que são muitos.
Esqueci até que esquecer faz bem
(depende do que se esquece).

Com a vista cansada
a costela quebrada
e um leve sorriso
tentarei dormir.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Olhando com outros olhos

Os outros são felizes
e eu mal
sou.



Ígor Andrade

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A ressaca

A ressaca do mar
não é pior que a minha.
A minha ressaca é o fim.

Me choco com as ondas
do mal-estar
de mal estar
acordado
num estado decadente
de inconstância agitada.

A ressaca do mar
não é pior que a minha.
Mas o mar é forte
e eu não.

A ressaca do mar
não é pior que a minha.
Mas amar o que tenho
sem juízo algum
também me dói a cabeça.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Há muitos

Há outro de mim
distante
que não sou...



Ígor Andrade

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Do abuso

Madrugada vazia
casa vazia
quarto vazio
cabeça vazia
saco cheio.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Queda livre

Chão ficando perto
o vão do medo forte
na mão o olho certo
diz não pra minha morte.



Ígor Andrade

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Defeito

Tentei e não deu certo
de certo
não tentei direito.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

^Asas^

A manhã
canta suave
o amor.
Sou a ave
e a cor
do que não será
amanhã.



Ígor Andrade

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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ou o poeta

O ogro pede socorro
vendo o balé dos pássaros
ao amanhecer.
Me conhecer
porque saudade é ser
e sou
a falta agora
de uma amiga do interior.

Volta e dança pra mim...



Ígor Andrade

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Teria

A noite me olha
de canto
e eu sem encanto algum
fecho os olhos
pro sonho de hoje
que sei que ainda teria.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O porre

Minha mente relampeja
troveja verdades e mente.

Lembro de tudo, mas quero esquecer.

Tempestuoso é o dia seguinte
que segue em dor de cabeça
e eu sem paciência.

Procuro uma ciência que me tire
desse vício.
Nunca mais eu bebo
pelo menos hoje
(só por hoje?).



Ígor Andrade

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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dura(dor)

O que nasce
dessa minha loucura silenciosa
só tem sentido
no barulho da sanidade alheia.

O que nasce
e cresce
não morre.



Ígor Andrade

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De(s)contentamento

Leio muito e escrevo pouco
mas quando leio pouco, escrevo muito.
Ler e escrever, muito ou pouco
me salva.

Tudo me incomoda
quando algo me acomoda.
A insatisfação não é desgosto
é minha melhor percepção gustativa.

O gosto do café amargo
o rosto magro da fome
uma qualquer coisa
que me agonia e não tem nome.

Meu quarto desfila
um branco nas paredes
e é insuportável.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ali

Longe de onde estou
me sinto mais perto
de ser
o que sou
e o que fui
aqui.



Ígor Andrade

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domingo, 13 de setembro de 2009

Sonho libidinoso (recorrente)

Roubaram o meu juízo
enquanto eu dormia.
Levaram minha sanidade
que eu não tinha.

Louco e cheio de predicados
o sujeito confuso
com a libido nas alturas
abre os olhos (verdes)
que não os pertence
e aprende
a enxergar
um desejo de possuir outro corpo
através de uma ladra
que insiste em roubar
a normalidade
todos os dias.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Faz sol na rua

Faz sol na rua.

Mas chove aqui dentro.
O céu, meu teto
e o vento.
Eu tento.
E a lembrança nua e crua.

Vejo o cinza
e o que precede
a tempestade.
Melhor idade
maior saudade.

Todo problema que é meu
eu posso resolver
independente do clima.

Olho pra fora
e está tudo claro.

Faz sol na rua.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Meu Pecém

Aqui
vivo descalço
e não tenho medo do sol
(nem de tempo algum).
Cada passo meu
nesse calor
me leva além
dos sorrisos que não vi.
Aqui
caminho com os olhos
de toda criança nativa
que mal sabe falar.
Aqui
me calo
pra ver a vida passar.



Ígor Andrade

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Praia alguma

Em que praia
eu perdi meu mar?



Ígor Andrade

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Salvação

Amar o mar
na perdição
de toda a terra.



Ígor Andrade

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Praia minha

Beira leve
um oceano.
Outro ano
que tudo leva
e nada traz.

Minha vida é
uma onda interminável.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Juízo (a)final

Ressurreição é comédia
viver em vida é o que importa
não na média medíocre torta
mas na cômica tragédia.



Ígor Andrade

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Desista você

Até que tudo pare
ou acabe
eu não caibo
e não paro
em mim.

Sou nós
em movimento
incansável indiscutível iminente inconstante
nesta estrada invisível e sofrida.



Ígor Andrade

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