quinta-feira, 30 de abril de 2009

Media dor

Para Thiago Andrade
e Samuel Portela

Não tenho gravatas
e não falo bonito
mas ando procurando
causas
para minhas testemunhas.



Ígor Andrade

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terça-feira, 28 de abril de 2009

Quanto de hoje?

Quanto de mim
está disposto?

Quanto de mim
quer sorrir?

Quanto de tudo
não tem rosto?

Quanto de tudo
quer dormir?



Ígor Andrade

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sábado, 25 de abril de 2009

Estrada do sol poente

Estrada ruim...
Cada buraco
caía em mim
cada curva molhada
dobrava em qualquer dor.
Voltava pra esse mundo
que parece não ter fim nem fundo
voltava em um segundo
pra não faltar amor.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

O Mágico Magela

Além de magro
é forte.
Além de reclamar
tem sorte.
Além de mágico
é repentista.
Além do trágico
é humorista.



Ígor Andrade

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Sem lua

Tenho um lobo
no peito
faminto
não minto
uivando selvagem
sem dono
sem sono
de passagem
querendo morrer.



Ígor Andrade

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terça-feira, 21 de abril de 2009

Na paz irresoluta

Tento acreditar
que acredito.
Cri?


Ígor Andrade

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Poema fútil

Minha mulher não é normal
e eu sou louco.
Queremos pouco
brigamos muito
somos tudo
e não temos nada.

(off
line)

Pra que mais? Ou menos?
Isso basta
pra ela...



Ígor Andrade

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Click (o filme)

Começou a vida.

Click!
Já me enchi.

Click!
Vou pular a cena.

Click!
Estou no final.

Click!
Me arrependi.

Click!
Não tem volta.

Click!
Perdi a vida
tentando ter
perdi a vida
não sendo.



Ígor Andrade

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domingo, 19 de abril de 2009

É Fantástico!

20:53


O Fantástico vai entrar
no ar
e o imbecil vai sair
do mesmo.

Mesmo.



Ígor Andrade

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Eu-animal feroz

Sinto-me preso
(sinto-me?).
Algo selvagem quer
desgraçar outro algo
como algo por instinto
algo extinto.

Sinto-me ameaçado
(ainda me sinto?).
Como se fosse (e é)
questão de sobrevivência
sobre a vivência.

Sinto-me bicho
e sou
(além disso, sinto?)
um corpo de sentidos
faro, garras, dentes...
camuflagem!
Bem longe da racionalidade.

Sinto-me sem sentir
(sinto!)
e sou.



Ígor Andrade

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sábado, 18 de abril de 2009

Desestimulante

Hoje não tem café
hoje não tem acordar
descafeinado
voltei a deitar.


Ígor Andrade

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Poema-onde (que não está)

Queria um poema-abraço
que me deitasse na cama
que me fizesse dormir.
Eu queria...
mas ele não vem
e eu não deito
nem deixo
um poema-dor
aqui.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Vidas de Rejane


A barriga de Rejane
é vida
são vidas
vidas vivas que vivem dentro
que terão vozes
e ouvidos
e olhos
sentidos
e que trarão paz.

A barriga de Rejane
é um outro mundo
um novo mundo
que desde sempre
nasce
de um velho mundo
que ficou pra trás.

Ígor Andrade

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quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vivo (?)

Minha arte
é pensar.
O que vem depois
no papel
não é arte
é morte.



Ígor Andrade

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Este lamento é lamentável

Este mundo tem cruzes demais.
Este mundo tem deuses demais.

Estas frases têm mundo de menos.



Ígor Andrade

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terça-feira, 14 de abril de 2009

Los hermanos

Nas tacadas
de filosofia sóbria
depois de tanto
vinho tinto seco
pintamos às cegas
um quadro de noite-chuva
e brindamos
o embriagado amanhã.



Ígor Andrade

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De frente

Abril me abriu o mar
passeio no seio do tempo
atravesso um verso-lar
me despeço na praia-vento.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 9 de abril de 2009

Dos engasgos

O grito na garganta
que não sai
o frio da rua
e o que queima no peito
essas coisas que não têm sentido
e eu tenho sentido
que são causas, não efeito.



Ígor Andrade

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E sufoca... e sufoca... e sufoca...

Noite estranha
de lágrima engasgada
que é doce
mas arranha
e adentra a madrugada.
E sufoca
e tem força
e me empurra pra minha burra solidão.
E me sufoca
numa poça
golpe forte que esmurra o maior valentão.




Ígor Andrade

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quarta-feira, 8 de abril de 2009

(Des)cobrir

Algo em mim
morre de medo
e vive de
insistir
existir
é um modo que tenho
de estar sempre
cheio de algos.



Ígor Andrade

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terça-feira, 7 de abril de 2009

Opaco

Começo de semana
é chato
não meço minhas palavras
é fato
troco a parede branca
por um retrato.



Ígor Andrade

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domingo, 5 de abril de 2009

Releitura - I m e d i a t o

Incólume
quero colo.

Insatisfeito
o abraço imperfeito.

Saudoso
qualquer verbo vagaroso.



Ígor Andrade

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I m e d i a t o

Amanheci urgente
o domingo é quente
mas estou frio.
Na soma de tudo que penso
dispenso o que não for intenso
e assumo que estou arredio.

O meu ombro está dormente.
O meu bom dia está vazio.
Vazio vazio.



Ígor Andrade

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sábado, 4 de abril de 2009

Meu poema em linha reta

Meu poema em linha reta
é pôr no sol seu nome
até o infinito da fome
onde nem céu me aquieta.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Minha casa tem nome de gente

Enquanto as telas se apagam
e as teias se enrolam
as bocas secam
de sono e cansaço.

A noite vira dia
assim como eu quero
assim como eu queria.

E eu apaixonadamente
(apaixonado mente?)
acabo voltando pro mesmo lugar.
Minha casa.



Ígor Andrade

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Velha paz de um dia

Para meu pai, Plácido Andrade.



O que me é plácido
evolui solvente
contente
me dilui num encontro ácido
e ao máximo
num trânsito intransigente.

Meu mundo-sossego
não é cego
nem cedo
sou filho do medo
e do sereno menor.

Sou só
da semente ao pó
e meu pai é um Plácido
de uma guerra-enredo
de uma terra sem credo
e de nome maior.




Ígor Andrade

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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Arquétipo

Sem formas definidas
nem prazo
nem peito de ser
sou o que a maioria é e nem sabe.
Modelo de algo
que muda com o tempo
e se renova com o tato.



Ígor Andrade

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