sábado, 30 de janeiro de 2010

Sinceramente (este poema pode mudar)

Eu preciso de terapia.
Não sei se tudo está estranho
ou se eu logo estranho tudo.
Contemplo um tempo
que não existe
lendo um poema velho
perdido
sem graça.

Eu preciso de terapia
de terra fria
e vento quente.
Qualquer pessoa mente
e quanto mais alguém se aproxima de mim
mais me distancio.

Eu preciso de terapia
para me enganar
para enganar
para deixar de ver a vida passar
passando na vida
vendo o que deixo de fazer.

Eu preciso de terapia
de ajuda
de gente desconhecida
de busca
de silêncio nos olhos.

Eu preciso de terapia
de ter cuidado
e ser cuidado.
Uma causa nova
não seria mau
não seria mesmo
e eu não seria o mesmo.

Eu preciso de terapia
de mais poemas
e outro dia
de encontros
e confrontos.

Tudo hoje está calmo demais
parado demais
vazio demais
e eu não preciso de terapia.

Eu não preciso de terapia.

Eu não preciso de terapia.



Ígor Andrade

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Hipoglicemia

Ir pro maldito sono
tremendo
suando frio a fome
temendo
a falta da mulher doce
no dia.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ubiquidade

Neste todo céu alaranjado
com um tempo de folhas paradas
no calor do que é memória
esquecendo o que é mentira
gozando no quarto úmido escuro
uivando em cima de cada muro
me torno um bicho na fertilidade
cruzando com a teimosia plena.

Vivo para cada mulher que é uma só
a mesma que antes seria a de depois
na dança de corpos suados quando
ouço violinos que cortam o silêncio
e carrego uma tempestade no peito
violentando a alma de um sujeito
que persegue o sonho do dia seguinte
para tentar não enlouquecer
na ausência de dormir em paz.



Ígor Andrade

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domingo, 24 de janeiro de 2010

Anestesia

Qual o sentido da sensibilidade?

Qualquer poema
que escreva esta noite
não vai descrever
esta epifania
(que nem é minha).



Ígor Andrade

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Vencer

Entre você
e a solidão
escolho a criação.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Minhas sete vidas

Na casa branca
no meio do escuro
escrevo, em cima do muro.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sou filho, seu filho.

Para minha mãe Rejane Maria e Dona Eunice (uma outra mãe que a vida me deu).

A tarde parece calma
a cabeça parece agitada.
Penso em mil direções
carrego no peito o peso de mil gerações.

Lá longe
os sinos de uma igreja
tocando
tocando
tocando...
O sono de um lampejo
tocando nas lembranças infantis.

(Eu não gosto de igrejas,
mas gosto de quem eu era!)

Onde está minha mãe agora?
Venta frio
e aqui faz calor.
Às vezes a casa vazia me mata de dor.

(Daqui não vejo a praia e sinto fome
aqui eu sou alguém e tenho nome...)

O vento fala comigo
...
Insegurança no ventre
não tenho amigos
fora deste quarto
dentro de outro mundo
eu comigo
perigo.

Os sinos continuam tocando...
- Mãe?
- Mãe!
- Não quero deixar este pânico me adoecer,
preciso sair e crescer.
- Mãe, diz pra mim
que nasci de um grande amor
que tudo vai passar
antes de anoitecer
como um abraço que muda de cor.

Sinto medo
e preciso ser seu filho
outra vez.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Digno

Eu reconheço
quando lembro de você
me esqueço.



Ígor Andrade

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Escuso

Espero o sol na janela
sem você na minha cama.
Este silêncio de quem ama...



Ígor Andrade

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Armila

Meu pensamento
cruza este infinito entre nós
e é tão pouco.

De longe
você parece mais perto
de certo, hoje, te encontrei em mim.



Ígor Andrade

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Um em dois

Te quero pra ontem
como se querer
fosse hoje
meu único amanhã.



Ígor Andrade

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Vista grossa

Para os poucos amigos (religiosos ou não, virtuais ou reais).


A verdade não é dura.
A verdade dura.
A verdade cura.
A verdade é pura.
A verdade é apenas a verdade.
Por isso mentimos.

(Para os outros
e nós mesmos.)



Ígor Andrade

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Me leio

Eu crio
porque não creio
e tudo que veio
em minha direção
com falta de ar
mas inspiração
é um meio
de conceber vida.



Ígor Andrade

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Nem sei se é bom

Sofro de intensidade
de tudo que é forte
e que falta me implodir.

Expandir
é o maior sofrimento necessário.

Sofrer da amplitude
no caráter mais extenso
da loucura vasta
sem razão de ser
é evitar que eu padeça
neste inferno de paraíso
que sobrevivo.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

De manhã

Alimentar meus olhos
com a lembrança de ontem
faz de hoje um agradável amanhã.



Ígor Andrade

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O mundo era uma imagem

Não olho mais
meus retratos antigos.
Tenho uma impressão
que todos aqueles sorrisos
não eram meus.

Eu me vejo
mais estranho do que pareço
e não esqueço
toda aquela inconstância
do ser que eu era
para o que deveria ser.

Não olho mais
meus retratos antigos.
Eles parecem reprovar
tudo que deixo de fazer
hoje em dia.

Eu estou ficando mais jovem.
Velho eu era quando pequeno
era sábio e muito mais sereno
e acreditava numa vida melhor.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Stop Crying Your Heart Out (Oasis)

Hold on!


Segure-se!
Segura-me!
Seguros somos
noturnos como
a segura esperança.



#

Don't be scared

Não tenha medo
ou tenha todos.

Qualquer perigo é passageiro.

O temor nos mantém
acordados
e ainda sim
podemos sonhar.



#

You'll never change what's been and gone

Você nunca mudará o que aconteceu e passou.
Você nunca mudará o que aconteceu.
Você nunca mudará.
Você nunca.
Você.



#

'Cause all of the stars Are fading away

Porque todas as estrelas estão desaparecendo
quando fechamos os olhos
e esquecemos dos novos caminhos.
Preocupar-se é desnecessário
e só faz o coração chorar.



Ígor Andrade



quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

No banco de trás

Para o amigo-irmão Magela e Roberta.


O que dizer sobre dez anos juntos?
O que amar de diferente num mesmo amor?
O que somos aos olhos de nossa filha?
O que seremos quando ela crescer?

Nossa vida é este carro veloz
que passa diante do mundo
e nem notamos quando ele pára.

Nossa filha foi a maior criação
a melhor mágica
a mais leve canção.
Compor o futuro com seus sorrisos
é o caminho mais sincero
que se deve seguir.

E o que fazer quando tudo fica quieto?
A arte também é silêncio!
A arte é morte em vida!
Fazer arte é se fazer humano...

O que fazer quando não se quer fazer nada?
Viver, assim mesmo
parece o mais sensato.
Aprendo...

A magia desta relação
mãos dadas
e cada um com sua solidão
é discordar sempre
progredir em despertar
emergir a cada dia
acordar.

O que fazer?
O que fazemos?
Renascemos todos os dias
nos olhos de Ingrid.

Este pode não ser o melhor mundo
pra ela
mas é o único mundo
da gente
que devemos amar.



Ígor Andrade

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Deserto, de certo.

Meu silêncio
é um Saara
com fome e sede
e calor na cara.



Ígor Andrade

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Destroço

O remorso
me pesa o dorso.
Não consigo caminhar
sem espaço
e passo
apertadas horas assim.

Me dói o pescoço
tanto esforço
tanto esboço
mas percebo:
minha maior obra-de-arte
é errar.



Ígor Andrade

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domingo, 10 de janeiro de 2010

Por isso (por isso escrevo)

Minha cama está quieta demais
talvez por isso, às vezes, fujo da paz.

Quem me dera uma dama de vermelho...

Quero hoje
e preciso
da mulher mais louca
(e de espelhos).

Sinto o cheiro
e o gosto.
Desejo a vulva
os seios
e a boca.

Meu corpo solitário
briga com uma saudade
e teima em não dormir.

Minha cama deveria pegar fogo
e eu explodir.



Ígor Andrade

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Matemática básica (a constatação)

Quando dois corpos
prometem não se deixar
duas vidas
acabam no mesmo caminho.

Um dois quase um
dois um quase sozinho.



Ígor Andrade

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Não cheguei

Estou de volta
nesta volta
que faz parte de outra ida
uma parte nova de alguma partida.

Não olho mais pro além
de lá pra cá
o caminho é adiante.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Onde a distância não é nada

Minha poesia
me aproxima
do que não existe...



Ígor Andrade

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Na areia

Para Mario Quintana.


Meu poema de hoje
é uma garrafa de náufrago
encontrada na praia deserta
por uma mulher qualquer.

Uma folha velha
que suportou o tempo perdido.
Nela estava escrito:
Preciso de paz!



Ígor Andrade

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Que se dane

Sou um poeta
estou louco
não se engane.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Chove em mim

(Pecém, 03/01/2010)

Sou cada gota dessa chuva
que molha minha alma
e lava meu ser.

Compreender!
É esta a palavra que procuro.

Antes nublado que escuro.

O dia me parece ótimo
e o banho me faz pensar.

- Como eu amo este lugar...



Ígor Andrade

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Antes só

(Pecém, 02/01/2010)

Dia dois
parece o mesmo
de ontem.

O povo besta ainda comemora
e esquece tudo que prometeu
antes.

Tento não enlouquecer
(sozinho)
não prometo nada
(sozinho)
penso sem parar
(sozinho)
vivo o hoje
e basta.



Ígor Andrade

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Algum encontro

(Pecém, 01/01/2010)

Nem champanhe
nem uvas
nem sete ondas.
Superstição é para os fracos
e nem visto branco...

Escrevo poesia
como porcaria
penso em qualquer dia
e vejo mais verdade nisso.



Ígor Andrade

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Virada na rede

(Pecém, 31/12/2009, virando o ano)

Explosões no espaço
meu peito quieto
o povo ansioso
eu adormecendo
outro ano
o mesmo desengano.



Ígor Andrade

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Sono lento

(Pecém, 31/12/2009)


Neste céu de minhas angústias
fogos de artifícios não sao nada
só me irritam os ouvidos.

(Procuro alguma estrela
para flertar enlouquecidamente.)

Contagem regressiva.
(Mas para quê mesmo?)

Lua cheia
prata
nenhum plano em mente
me sinto pirata.
Pratos na mesa
não sinto fome.
O ano vai virar
qualquer amor vai mudar
ou me mudar
e eu vou dormir
antes
bem antes.



Ígor Andrade

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