quarta-feira, 31 de agosto de 2011

In illo tempore ou In medio virtus

Passei algumas horas do dia
reavaliando alguns fantasmas
desta vida efêmera.

Não cheguei a lugar algum...

E nem poderia
já que a realidade não existe.

(E não me venham com suas teimosias e conceitos furados,
questionar as minhas verdades inquestionáveis.)

Existo eu
e minha poesia
no cúmulo da arrogância
que não consigo ter.

Eu me desrespeito porque não tenho coragem
para analisar palavras como: superioridade, orgulho e altivez.
E também não sei direito como estas palavras vieram parar neste poema.

Sinceramente
não sei pra que escrevo
mas sei pra quem
e às vezes
não sei pra quem
mas sei porquê.

O caos é mesmo
meu cão solitário
que cuida da casa
latindo pro vento.

Há o vento
que venta
e o ventre
com seu vazio.
Na casa tudo é quente
e na rua tudo é frio.

Ponto
e reticências
no plexo.

Ventrículo ridículo
que vive em sua ventura.
A vida não tem alma
e a solidão não tem cura.

Matéria escura
de onde viemos.

O vazio antes
e o vazio depois
das vidas.

O vazio é primordial
e é dele que me faço gente
infelizmente
e infelizmente
minto
tento
sinto
sento
no canto
sem santo
e conto
qualquer coisa que ninguém quer saber.

Escrever
deve ser
o maior medo que tenho.



Ígor Andrade

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Horizonte

No fim da tarde
um poema.

No fim do poema
uma tarde.



Ígor Andrade

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Meio terça-feira

Acordo
e planejo o dia
de ontem.



Ígor Andrade

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domingo, 28 de agosto de 2011

(Des)cansei

Habito num domingo
em que tudo é difícil
além da conta.

Eu não consigo me concentrar
em nada específico
sem especificação.

(Escrevo poemas no automático.)

Hoje
dormi pouco
comi pouco
pensei pouco
mas ainda sinto muito.

Tudo parece distante demais.
Tenho braços curtos
e olhos longos.

E agora?

O Bukowski de meu ser
reclama a ressaca
da madrugada bebida
em solidão.

Domingo enfim
é o dia em que troco a roupa de cama
pra deitar sozinho vendo tevê.

Domingo me vejo
mais velho.



Ígor Andrade

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A maior verdade

Nós matamos
tudo que
amamos.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Ela...

De vez em quando calma!
De vez em quando palma.
De vez em quando alma?



Ígor Andrade

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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Chinelo novo

Hoje caminhei sem mim:
(O poema começa assim.)

Andei por aí sem o meu corpo.
Só a cabeça listando a fila de pensamentos
em cada esquina.

Na rua me perco.
Na rua me encontro.

Espécie de autopunição vespertina
essa andança.

Andar não me cansa. Fato.

Cansaço é algo que só me derruba
quando julgo o dia uma perdição,
mas o dia não se perde;
o dia apenas passa
antes dos encontros.

Eu quero e preciso
do encontro com o belo.
Este dia passa amarelo
e sem rima.

(Acho que perdi os verbos do momento
antes do poema.)

Meus passos seguem
mais críticos do que nunca.

Vejo gente na rua que me dá pena.
Gente que engorda tanto em tão pouco tempo.
Eu não quero nem de longe
ser arrogante,
mas ando enxergando gado pelas calçadas.
Pronto, falei.

Ao mesmo passo que me cobro o sentido
da minha e de qualquer existência
cobro o ouvido dos outros
que não me escuta.

(Cicuta
para os nobres
fracassados!)

Acho que a rua é boa
porque mente.

Passo atento e ouço o que dizem
os doutores sem doutorados
com gravatas alinhadas
e carros importados.

Esse povo não me diz nada.
Sou um poeta surdo
pro que não é vital.

Chega a ser engraçado,
eu sem um trocado
no bolso;
rico de verso.

Diverso
é o coração do suicida.

Chega dessa vida...

E chega de brigar com o tempo.
Eu e o tempo somos
a mesma poesia:
Um início
com meios
sem fim.

É...
hoje estou assim
sem planos
para envelhecer.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Soslaio

Amanheceu a palavra
e o mais eterno pensamento.
Não foram as horas que perdi
foram todos os momentos.

E no momento agora
o sol atrevido castiga.

A briga
da minha mente
contra o bocejo
de amanhã.

Todo dia
algo amanhece em mim
e eu sem sono
fico tentando dormir
em vão.

Meu olho
é desmentido
pela minha mão.


Ígor Andrade

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domingo, 21 de agosto de 2011

Guardo-chuva

O domingo
agoniza
em gotas
de saudade...



Ígor Andrade

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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Consabido

Amor é aquele
inteiro
que tem na outra
metade.



Ígor Andrade

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Incólume

O dia que passa
neste passo lento do cão
me ultrapassa
em qualquer passado
como aço forjado em vão.

Sou sujeito pesado
pecado confessado na marra
a cara que no muro esbarra...
De longe o menino
que na perna da mãe se agarra...

Pássaro que voa tão alto
que se joga em três dimensões.
Pássaro com tantas gaiolas
tantos galhos livres
e tantas mansões.

Liberto
é o dia longe;
aquele que não alcanço.
Monstro que se mostra monge.
Monstro que se mostra manso.

Liberto é o certo.
Corpo fechado sem alma.
Cabeça exposta sem calma.
Dia de ontem aberto.

Liberto é mesmo o certo.
Amanhã que não conheço.
Amanhã que não mereço.
Algum dia que tenho perto.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O fundamentalismo não é fundamental

Povo religioso,
não seria também o sol
a boca do estômago
de deus?



Ígor Andrade

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Flagício

É difícil
entender o silêncio
da noite.

Eu e minha incapacidade
de compreender
a escuridão.

(Exercício
diário
ou noturno:
o açoite
das palavras.)

Desassossego da fala...
Meu peito cala
e o cavalo dorme.

Eu também me calo
porque quero colo.
Apolo
e suas distâncias.

Edifício
que dorme sem sonho
mas toca o céu
em sua frieza.

Madrugada
cilício de pobre
ofício do nobre
precipício do poeta.



Ígor Andrade

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Outorgar a imutabilidade é difícil

Só por hoje
o poeta
continua o mesmo.

Os mesmos olhos
para a mesma mulher.
A mesma mulher
sem o mesmo juízo.

Poesia é prejuízo.

Dano que dana a dama.
Dama que dorme na cama.

Enquanto isso
o poeta ama
ama e ama.

O poeta é abismo
sem fundo
esperança
sem mundo.
Homem sem fé
mas fecundo.

Só por hoje
o poeta permite
ser o vagabundo
de sempre
de antes
que faz poesia
pro além
e depois.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Folastria

Perguntei a minha mãe
o que era folastria
e ela não sabia
e eu também não sei.
Não entendo de lei
nem de palavras estranhas.

Ando triste demais
mas ainda pergunto.



Ígor Andrade

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Transcoar

Transborda o peito
de solidão.
Transtorna o acaso.
Transmutação.

Nessas horas de
trânsito intenso
dentro de mim
só consigo pensar
numa xícara de café.



Ígor Andrade

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Poema esquisito

Amanhece em mim
esta brisa
e um cansado pensamento.

Estou em mil lugares:
nos calmos mares
em distantes lares
fechados os bares
e grandes colares
no pescoço da moça que atravessa a rua.

Nua
esta terça-feira
de minha cefaléia.
(Leia-se: a impossibilidade
de entender as distâncias
também causa gastrite.)

O mundo é mesmo um sujeito traumático.
O mundo anda causando tendinite
nos meus versos.

Já não escrevo o que sinto
muito menos o que quero.
Escrevo apenas o que os outros sentem
e querem
ler.
Amanheço mentiroso.

Meu maior segredo
é incognoscível
e antevejo dor
antes da folha em branco.

Estou pronto pra dormir
e sonhar.
Rimar amanhecido
com lembrança lunar.

A manhã de hoje
é uma mulher
de andar desajeitado.



Ígor Andrade

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domingo, 14 de agosto de 2011

O fio

Pai não é
o que cria.
Pai é o que afia.



Ígor Andrade

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Troco esta data por um almoço

E eis que neste feriado capitalista
onde todos se reúnem sem união
acordo buscando ainda
o pai que não me criou.

Datas comerciais
comercializam as almas
e todos continuam fingindo
felicidade.

O que mais me entristece
não é a ausência de um criador
e sim a dor que crio na presença
dessa consciência falha.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Educado é o cão

Meu processo de criação
é simples:
nasci malcriado.



Ígor Andrade

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Destoar

Desde ontem
desensino
o desabafo.

Desencontro
desse mundo
com o destino dos sonhos.



Ígor Andrade

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Algo

Eu teimo.
Ela TEMA.
Nós temos.



Ígor Andrade

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Nefasto

Certa vez perdi
alguém
e me perdi
também.

Certa vez encontrei
alguém
e me encontrei
também.

Certa vez
aprendi que
errado é
o infeliz miserável que não ama.



Ígor Andrade

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Subitâneo

De repente
me vi longe
me vi monge
e senti paz.

De repente
minha mente
vagarosamente
faz
uma guerra poética comigo mesmo
e não tem fim.



Ígor Andrade

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Fracional

Divido
o tempo
não em antes
e depois.

Divido
o tempo
entrelinhas.



Ígor Andrade

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Obstinação

Para Camilla Andrade.

Aí está frio
eu sei.

É por isso que te dou
o calor dos meus poemas.
Te dou a boca aberta
de cada verso
e o silêncio
inverso do tempo.

Uso hiatos
que me fazem bem à saúde.
Uso o desuso
do povo que não se declara.

Hoje minha poesia
está ainda mais
perto de você.

Distância é
apenas uma lacuna estratigráfica.
Escrevo seu nome
nos metros quadrados
dos meus passos redondos.

Deixai-me agora
repousar tranquilo
na sua leitura cálida...



Ígor Andrade

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Consternação

Sorriso na prisão!
Constelação!

O céu é o seu
dentro
meu...

Parede vestida
de branco.

Me espanta o espanto
do espelho.

Vermelho
o lábio da foto dela
que vejo.

Beijo
que leio sozinho.

Sábio é o passarinho
que não canta
enquanto não amanhece.



Ígor Andrade

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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Godheim

Por certo
fica
nos teus
olhos.



Ígor Andrade

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Íg(th)or

Minha poesia
é o verdadeiro
martelo de Mjolnir.



Ígor Andrade

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domingo, 7 de agosto de 2011

Desmemória

A lembrança
me faz
como sou.



Ígor Andrade

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Equinócio

São as ruas
do meu domingo
que me aproximam
de algum encontro de paz.

O que quero eu da vida?
O que faço eu da vida?
O que é a vida mesmo
quando não sou?

Sou
o que sinto
quando não tenho sono.

(Há dias
sonolento.
Dias de
sono lento.)

O dia de hoje
não é monótono.
O dia de hoje
é um átomo
que nasce e morre
sem que você perceba.

O tombo na esquina.
O pombo na calçada.
O tango na cabeça.
Dançam meus olhos sem horizonte.

Nem sempre estou bem
mesmo quando pareço
me sentir bem.

Crio raízes e as corto
quase que ao mesmo tempo.
Crio raízes em qualquer lugar
que eu caminhe.

Todas as coisas deste domingo
são conscientes.

(Me repito quando escrevo.
Todas as coisas deste domingo
são conscientes.)

Aqui vai uma curiosidade:
O meu jeito de expressar
minha poesia diária
é como olhar uma mulher
formosa
se despir
e se vestir
uns dias depois.

(Tudo muito simples!)

Só o antes e o depois
me interessa.
Agora escrevo
e basta.

E basta!
Eu quero ser
o fim deste domingo.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Minha

Saudade da gente
de quando a gente
era toda gente
e gente nenhuma no mundo
atrapalhava.



Ígor Andrade

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Eu não rezo antes de dormir. Eu escrevo.

Busco no dia
a brisa
que alivie
o que não sei explicar.

Preciso educar
os meus sentidos
com a insônia.

Eu quero dormir
de olhos abertos.
Tocar o céu incerto
sem este aperto
no peito.

Justifico a dor
quando deito.
Porque sonhar
é pouco.

Quero deitar
no colo da manhã
e ter a certeza
que apenas eu
anoiteço.

Hoje eu esqueço
e amanhã alguém esquece
que o sono só serve para nos aproximar da morte.



Ígor Andrade

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Another gray

E de vez
em branco
quando.



Ígor Andrade

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So(l)zinho

Amanheço
com esta coisa
inexata
no peito.

Meu corpo
parece um abismo.
(Se me deixar cair
caio em mim?)

Vejo o sol subir
e o desejo de acordar
descer.

Levo muito tempo
muito mesmo
para digerir a solidão.

Onde estão
as pessoas que amo
neste mundo?



Ígor Andrade

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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Still gray

Amanhece
ainda noite
toda saudade.



Ígor Andrade

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Dona

Escrevo pra ti.
Escrevo por ti.
Escrevo sem ti.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Gray continues

Mas a chuva
não molha
minha poesia.



Ígor Andrade

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Mulher

Te vejo na fila
antes do vôo.

Minha poesia
sempre será
a asa
que toca
a tua boca.



Ígor Andrade

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Aeroporto Internacional de Fortaleza - Pinto Martins

Nunca mais eu piso neste aeroporto.
Tudo aqui parece não fazer
muito sentido no meu juízo.

Familiares que se odeiam
se confraternizam.
Abraços mentirosos
mentem na cara dura.
Um velho gagá
olha o traseiro das menininhas
des-ca-ra-da-men-te.

Nunca mais eu piso neste aeroporto.

Namoradas ansiosas esperando
namorados saudosos.
Namorados desarrumados esperando
namoradas cansadas.

Cenas tristes...

Em todo lugar que olho
vejo telas.
O poeta desesperado procura
janelas.

Ipod, Ipad, Iphone, aipim.
Essas coisas não me encantam muito.

O maldito sujeito atrás de mim
escuta um maldito som
no seu maldito celular mp3.
Maldita seja a inclusão digital!

(Qualquer música que tenha
como refrão "bonde do tigrão"
é uma maldição.)

Nunca mais eu piso neste aeroporto.

Gente que passa
com mala cheia
e mente vazia
que não passa.
Talvez seja isso.

Aqui só os casais
e gente solitária
me interessa.

Contei dois homens e uma mulher
que passaram sozinhos na multidão,
um de cada vez, cada um com sua solidão.

Nunca mais eu piso neste aeroporto.
De frente pro portão de desembarque
tem uma tevê de plasma exibindo propagandas militares.
Nós só retrocedemos neste planeta.

(Propaganda de guerra
não vende paz.)

Nunca mais eu piso neste aeroporto.
Minhas mãos suadas
descansam nos bolsos
da bermuda camuflada.
Meus pés suados
descansam nos chinelos de borracha.
Meu estômago embrulha
o verbo esperar.
Minha cabeça dói.

Devo admitir
que esse negócio
de idas e vindas
me partem a poesia.

Talvez nada no mundo
me irrite tanto
ou me agonie tanto
como aeroporto
e meu pai.



Ígor Andrade

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