domingo, 29 de maio de 2011

Ah esses domingos que me tocam a alma...

Ah esses domingos que me tocam a alma. Onde desço para passear com meus cães e vejo coisas que ninguém vê. Vejo o pai andando de bicicleta com o filho, e lembro de quando aprendi a me equilibrar com meu velho. Todo e qualquer desequilíbrio de hoje é culpa da falta de amadurecimento (Todos os pais deveriam ensinar os filhos a andar de bicicleta...). Ah esses domingos que me tocam a alma. Caminho na rua como quem caminha no céu. Em casa o almoço pronto, e meu irmão come granola com mel (Uma rima forçada para um domingo livre!). Hoje me sinto tão pronto que escrevo poemas sobre caminhar. Sigo na rua. E que ninguém me siga. Eu Ígor sigo sem hora para voltar. Ah esses domingos que me tocam a alma. Roubo uma rosa roxa na rua para minha rainha. Mais uma graça alcançada, diz minha mãe, devota de Santa Teresinha. Ah esses domingos que me tocam a alma. Vou correr na beira-mar, antes do pôr-do-sol; antes da noite; e antes de amanhã. Hoje é todo sempre e eu vejo coisas que ninguém vê. Ah esses domingos que me tocam a alma...



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

Mais

Mais um dia
sem nada.
Mais uma noite
com tudo.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ludo

Mudar faz bem.
Mudar pra quem?
Muda o trilho, o curso, o trem.
Mudar alguém.
Mudar ninguém.
Mudar o que vai ou mudar o que vem?
Mudar é além
...
e muito além disso
eu não mudo.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

02:46

Meu passo
leve como o aço
tem uma razão
noturna
impaciente
e devagar
- caminho na praia e não chego no mar -
passa o passo a divagar
no meu cansaço físico
no meu mormaço lírico
e comando sozinho meu império empírico
onde tudo que existe
é caminhada.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Aquele garoto de óculos

Sempre que vejo um email
de crianças desaparecidas
sinto que eu também desapareci
há muito tempo atrás.

Aquele garoto de óculos
foi um dia para a escola
e até hoje não voltou.

Que saudade
dos dias
que não tinha obrigação nenhuma
de voltar pra casa.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

terça-feira, 24 de maio de 2011

Hospital de Olhos Leiria de Andrade

Para meu irmão Thiago Andrade.

Ninguém sabe
o que é esse sentir
que ninguém sente.

Sinto e não minto
e não uso cinto;
logo o que aperta
é o peito.

Cada calafrio
que atravessa o juízo
se cala no vazio
de corredores cheios.

Esperar nunca foi
meu forte.
Só penso na morte
enquanto a maldita senha 77
não é chamada.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

sábado, 21 de maio de 2011

Das Talitas passadas

A vida dele
é um sorteio.
Um dia o frio
do pé na bunda.
No outro o calor
de qualquer seio.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

É isso

Existem os que dormem
e sonham
e os que sonham
em acordar.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

Sonhei e acordei (dos sonhos com zumbis)

Aquela criatura
de pele branca
e alma impura
pensa que sabe
de algo e postura
mas amargura
toda sua sujeira
toda cara dura
na falta de senso
cabeça sem cura
o monstro sofrido
o muito bandido
o mundo perdido
na sua cintura.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Diazinho

O dia foi legal.
Por que me sinto mal?

O conformismo
caminha
no sentido contrário
da poesia.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Enfim trinta

Escrevo na simplicidade
desta hora morta.
Um poema abre a porta
e me deseja felicidade.

Feliz idade
é a do nascimento.
De lá pra cá
a graça está
em criar o caminho.

Quem segue sozinho me entende.
Quem segue acompanhado e contente
me entende também.

O tempo passa
e não pára
mas este poema
não morre.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

Releio-me

Com quase trinta
e quase nada
sinto que tenho
um quase tudo.

O mundo
faz mais sentido
quando mudo.

Tudo
está em mim.

Muito embora
o povo lá fora
se mate,
eu posso enxergar
muita vida antes do fim.

Antes de mim
também era assim.

Os olhos só vêem
o que o homem não sente.
É incrível constatar isso.

Ou nasci no tempo errado
ou no planeta errado.
Algo do tipo.

Mas preciso falar de outra coisa.
Eu preciso falar de outra causa.
De outra casa
que não a minha.

Eu preciso falar
que escrever é minha vida.
E que me sinto um egoísta medonho
quando vejo crianças com fome,
ou gente doente.

Eu não faço nada
ou faço muito pouco
pelos outros.
Isso é tão triste!

Enquanto tudo por aí
se cega no fundamentalismo
e na ignorância,
eu continuo perdendo tempo
com minhas bobeiras.

Passo horas estudando sobre a insulina
e tanta gente morre sem o mínimo de nutrição.

Passo um tempo estudando sobre o ciclo de Krebs
depois de um porre desnecessário
e um pequeno africano não vê água por dias.

Tem algo muito errado
com todo mundo.
A gente despreza a evolução
com ego e vaidade.
A ganância é a ilusão do homem pequeno.
Não sou moralista; sou amoral,
mas a humanidade caminha
com as pernas alheias
porque desaprendeu a saltar.

Com quase trinta
e quase nada
sinto que tenho
um quase tudo.

Um quase tudo
que quase ninguém tem.
Se estou feliz?
Claro que não.
Mas a função do poeta
é entender e retirar da tristeza
o que ainda existe de belo.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________________________

True strength

Para o amigo Felipe Lucena (O Monstro do Pântano).

O forte
não controla a força.
O forte
controla
a fraqueza alheia.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

Um poema de rima pobre

Tudo era vaidade.
Agora vazio torto.
Aquela pouca idade.
Aquele peso morto...



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

Valeu, Sidney (O Japonês)!

Hoje já é amanhã
no Japão.

Fiquei mais velho
mesmo ainda mais novo.

Concluo que o tempo
está na minha cabeça.

Parabéns pra mim!



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

Quando de meia idade, seja justo (μεσος δικαιος).

Para o amigo Victor Ramos (o Cacatua Selvagem).

Idoso
é todo ser
que nasce velho
e morre novo.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

Perto dos trinta

A vida
acaba
um pouco
e sempre
todo dia.

Toda noite
tudo é todo
e eu vivo
o nunca
na poesia.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

Olhos (ainda) fechados

Acordar é ruim
quando acordo assim.

Passo que a noite passa.

Luz do dia sem dia
luz que eu via sem graça.

Desgraça!
E ontem não pude sonhar.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

Superar é esperar

Para o amigo "Fiapo".

Para quê tanta farra?
A corda já partida
ainda te amarra.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

sábado, 7 de maio de 2011

Total

Anoitece.
Anoiteço.
À noite esqueço.
A noite esquece.

Tudo acontece
se me conheço.

Todo avesso
e qualquer prece
faz da noite
o melhor lugar para se estar.

Nunca estou onde queria.
Sempre estou onde deveria.
Tudo está além do olhar.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

Da condição atual financeira

Eu não compro rosas
nem pro dia das mães.

Eu as roubo
de qualquer jardim
em qualquer rua suja.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

Centiser

As árvores são verdes.
As árvores continuam verdes.
As árvores e o verde
é o que vejo sentado
sem ter ninguém do lado
nesta tarde tarde.

Algumas coisas não mudam
ou nunca mudarão
ou já mudaram e nunca saberemos.

As árvores.
O verde.
A tarde.
E eu.

Somos a sombra
que provocamos...



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O poema é a dúvida

Meu relógio quebrou.
Uma vida passou.
Algo em mim se partiu.

Eu não sei quem me amou.
E se o vento levou
tudo o que me feriu.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Cinza

Tudo por um fio.
O rio transborda
o olho vazio.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sorella

Sento no divã da noite
com uma agonia de gerações.

Tudo em mim agora
pesa mais que antes
pesa mais que ontem.

Fico aqui pensando
numa mulher
que tanto parece comigo
e não sei o que dizer.

(Talvez pensando
em quando ela nasceu...
Onde eu estava?
O que eu era?
...
O que sou hoje?)

Não consigo dormir
porque me sinto confuso demais
até pra sonhar.

Sinto-me sufocado
e é engraçado pensar
ou sentir
ou sei lá
que eu queria abraçá-la
antes de amanhecer.

Sinto medo desta terça-feira.
Sinto medo de não enxergar
que esta mulher precisa de mim.

Sinto tudo ao mesmo tempo
e sinto medo.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

domingo, 1 de maio de 2011

Saudosa saudade

Perto daqui.
Perto de mim.
Perto de tudo.
Longe é o que sinto.



Ígor Andrade

__________________________________________________________________