domingo, 31 de maio de 2009

Não outro

O domingo me empurra
para o mesmo
e eu mesmo
não sou o mesmo.
Não sei o que é esse mesmo
senão um domingo diferente
mas com a mesma cara
da minha mesmice qualquer.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Meu mar

A madrugada
pisca pra mim.

Lua cheia
de eu vazio.
Pesco um fim.


Ígor Andrade

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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mata dor


Acordo...
com o olhar calmo
de um assassino.

Estou frio
como o tempo molhado
e rio.

O sol, que eu cego, não vi
já se foi
com o meu calor.

A rua vazia provoca
cores no escuro
dentro de mim.

Parece que estou morto
sobre a terra que vai acabar.
Ou acabou.

Espero que a calma permaneça
mas, acima de tudo
que algo nasça e cresça
e que eu não mate ninguém.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Senso íntimo


Me desculpo com a razão
sempre que entardeço.

Triste não é viver
nem saber que se morre
a cada hora.
Triste e longe
é ter a consciência
que meus sonhos
também anoitecem.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vinte e oito


Desejo pra mim...

Mais paciência no ser
enquanto o quando não vem.
Menos um mundo e menos ter
meio passo de sentir um quem.

Mais beleza e leitura
riscos e sorrisos
fins e inícios
leveza e altura.

Mais percepção no que é à toa
e alguma momentânea surdez.
Vida minha que não anda, voa
flutua lisa em um certo talvez.

Mais sabedoria na tristeza
e ignorância na felicidade.
Amar, o mar.
O mar, amar.
Simplicidade.

Mais
unir
versos
nos detalhes e nas diferenças.
Punir
o que não peço.
Discutir todas as descrenças.

O peso do nada que já tenho
apenas no tudo mais, viver
poesia e consequência
pó do dia, consciência
por uma noite, crescer.




Ígor Andrade

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terça-feira, 12 de maio de 2009

Despedida


Perdi tanta coisa
por deixar a porta aberta
mas existe uma janela
entre tudo
e uma descoberta.

A partir de hoje
no ontem que some
deixei de ser gente
deixei de ser homem
me tornei um poeta.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Alicerces

Lá fora
o barulho da obra de uma construção
o silêncio de uma obra desconstruindo
aqui dentro.



Ígor Andrade

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domingo, 3 de maio de 2009

Dor mente

Não sinto
o gosto
de nada.

Garganta seca
língua inflamada.

Sinto
um cinto
me apertar.

Asfixiado
só penso em deitar.

Paladar para amar
não tenho
ou é dormência apurada.

Para cada dez mulheres
deste infeliz mundo
uma é desalmada.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dia do trabalho

Dia do trabalho
ninguém trabalha
nem eu
nem dia nenhum.

O conjunto de atividades, produtivas, criativas ou lucrativas, que exerço, determinam um fim que não quero atingir.



Ígor Andrade

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Não trabalho nem no sono

Depois de dormir o dia todo
acordo (às sete da noite)
não mais dia
com a mente inquieta
com muita raiva de não sei quem
e triste com alguma coisa.
Será um daqueles dias
(ou fim do mesmo)
que vou me entupir
de açúcar
e café
digerindo poesia
vomitando impaciência.




Ígor Andrade

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