domingo, 28 de agosto de 2011

(Des)cansei

Habito num domingo
em que tudo é difícil
além da conta.

Eu não consigo me concentrar
em nada específico
sem especificação.

(Escrevo poemas no automático.)

Hoje
dormi pouco
comi pouco
pensei pouco
mas ainda sinto muito.

Tudo parece distante demais.
Tenho braços curtos
e olhos longos.

E agora?

O Bukowski de meu ser
reclama a ressaca
da madrugada bebida
em solidão.

Domingo enfim
é o dia em que troco a roupa de cama
pra deitar sozinho vendo tevê.

Domingo me vejo
mais velho.



Ígor Andrade

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2 comentários:

Luiz Libório disse...

Li, muito provavelmente do próprio Bukowski, que o domingo mata mais homens que a guerra.

Anônimo disse...

Domingo, domingo, domingo. Que de um em um se transforma em vários; e vários não importa. Basta-me apenas um que um seja o suficiente para o tédio do massacre do viver acontecer.

Incrível o poder intuitivo. Quando se aproxima muito de um tema por pura introspecção, o exterior se aproxima em represália. As músicas Domingo, de Titãs e também a Domingo, da Maria Betânia têm me acompanhado na minha vontade de sumir e me distanciar do domingo que guarda o dia de descanso passado e o dia de dificuldade seguinte, e ele próprio que não passa. E não à toa, encontro o seu texto; como estava dizendo, o exterior se aproxima da intuição.

Entreguei-me ao vinho, ele, que só ele pra calar a dor de se ter o tédio e a loucura do domingo à luz da lucidez. Logo, entreguei-me também à Winehouse, Titãs, Cazuza, Cássia Eller, ao sol escaldante invadindo minha sala e ao Roland Barthes, com "a morte do autor".

Domingo não passa. Envelhece.