domingo, 17 de abril de 2011

Epifania

Tinha a calçada e o domingo nos olhos. Alheios. Era tudo que um ser precisava para sentir a paz outra vez. Tinha a mulher que amava, quieta, descansando. Tinha o que queria no sorriso do cachorro vira-lata. Tinha pouco sol, mas muita luz. Tinha poemas infinitos na cabeça arejada. Qualquer coisa que passasse na rua era bonito e engraçado. Qualquer mendigo sente a beleza sem a precisão da vaidade. Tinha o ego embaixo do pé. Tinha as mãos escrevendo no ar. Tinha o que esquecer e tinha o que lembrar. Tinha o melhor domingo da melhor semana do melhor mês do melhor ano. Tinha a calçada e o domingo nos olhos. Alheios. Tinha enfim o que sonhar acordado. "Vim, vi, venci." A última frase que martelava o juízo fazia mais sentido nesta tarde. Tinha a morte longe, ou achava que tinha, e talvez por isso via nas pedras da rua uma revelação.



Ígor Andrade

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3 comentários:

Luiz Libório disse...

Que coisa linda cara! Posso citar?

Abraço, irmão.

Ígor Andrade disse...

Pode sim, irmão. Abraço!

Marcelino disse...

"Tinha o ego embaixo do pé" Isso ficou lindo, uma revelação.