sexta-feira, 6 de março de 2009

Espelho

Estou só
de estar e ser só
e não tenho ninguém.
Não tenho muitos amigos
e os poucos que sobram não são lúcidos
(isso me incomoda).

Tudo nesse quarto é sem razão
enquanto eu, sem sentido.
Meus bolsos estão vazios
e as gavetas cheias de coisas inúteis.
Acho que falta outra janela aqui.

Preciso praticar o verbo acontecer
aliás, preciso de mais verbos
menos adjetivos
e alguns parênteses.
Preciso não ter que precisar.
É isso!

Meu reflexo vai embaçando
e aumentando o espaço.
Sou um intervalo temporal
de passos.
Estou mais só estando comigo
e ainda
não sei pra onde vou.



Ígor Andrade

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7 comentários:

Camilla Andrade disse...

Nenhum adjetivo teria sentido...e nem o próprio verbo teria conjugação, se não houvesse a razão MAIOR do sentido, q só o meu pronome pessoal,sabe conjugar; em SEGUNDA PESSOA.

Sem espelho não há reflexo
Sem reflexo, não há o concreto.
E sem o concreto, do que adiantaria a estrutura?

Mais um dentre os muitos mundos q há em ti poeta.

Meus aplausos, silenciosos, a vc.

Barbarella disse...

você não está de todo só, estamos sempre por aqui, te seguindo, te esperando.. :)

bjos

Beatriz disse...

Todo poeta na hora de escrever o poema está só. E é bom que esteja. Só assim sai um poemaço destes

Marcelino disse...

Belo texto, meu caro. A prova de q vc escreve textos longos e curtos com a mesma perfeição.

Sandra Costa disse...

que belo!
'preciso de outra janela aqui'

evasão?
suicídio?
recomeço?
extravase?

aplausos, poeta. você conseguiu me deixar em dúvida! se não é esse o melhor bônus...

Anônimo disse...

(...)
O espelho me situa, sempre, e traz a única companhia que me cabe. Assim, não há solidão melhor: quando encontro-me e sou inteira.

Lindo poema!
O meu beijo de sempre.

Fabio Rocha disse...

Ígor, nossa! Achei sua obra prima, meu amigo de letras e vazios! Abração