domingo, 20 de novembro de 2011

Quatro horas da manhã

Quatro horas da manhã.
Não consigo dormir.
Não consigo dormir.
Não consigo.

Meu peito carrega uma manada galopando desgovernada pro sul.

Apolo sem colo treme no solo da solidão...

O pânico é o irmão
e é também a cara
do antes de amanhecer.

Engasgo com um poema com gosto de sal.
Estou mal
mas passa.

Devassa devassa devassa
madrugada.

Não consigo dormir.
E não consigo esquecer.
Eu me sinto abandonado.
(Mas por quem?)
E sei que é triste aceitar isso.

Não consigo dormir.
E sinto saudade de quem nem conheci direito.

Meu peito.
Meu peito
meu.

Algo se perdeu
em alguma filosofia
de quem se acha.

Nada agora se encaixa
na metafísica desse silêncio.

A borboleta que bate asas em Tóquio
e toda a loucura da teoria do caos.

O cão
chorando no quintal do vizinho.

Escrevo sozinho.
Escrevo sozinho.
Escrevo sozinho.

O canto adiantado do primeiro passarinho.

Eu não entendo mais nada.
Eu nunca entendi nada.
Eu.

Algo se perdeu
em mim
e parecia nós
e parecia um laço.

Disfarço dor com verso
e sem cor o verbo
conjuga todo tempo errado.

Não entendo de palíndromo
e não consigo dormir.



Ígor Andrade

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5 comentários:

Luiz Libório disse...

Coração numeroso.

Rebeca dos Anjos disse...

Só dorme quem boia. Quem nada afoga no mar da agonia.

Ainda bem que quando a gente não consegue seguir isso (porque às vezes é impossível, rs) surge o barco chamado Letra e nele a gente descansa do esforço inútil :)

Belo poema!!

Bjs,

Nanda disse...

Como um peito que é seu pode se derreter por uma dor que vem do outro? que ele se apossa assim, do nada e nos deixa sem rumo? Anatomia toda errada.


Beijo!

Anônimo disse...

"Disfarço dor com verso". E disfarçou muito bem! Gostei dos versos, Igor. Parabéns. Bjs ;)

Vera Celms disse...

Caro Igor,
De tanto fantasiar de versos nossas dores, nossa poesia virou um circo de horrores... como dói...
Beijos, apareça... VERA CELMS