terça-feira, 20 de setembro de 2011

Lobos de Whitman

Para o amigo Luiz Libório (um irmão mais novo, às vezes mais velho, que a vida me deu).

Meu camarada
fico eu aqui lendo seus poemas
e por um breve momento
desisto do futuro trágico da humanidade.

Autofágico
eu me sinto
às vezes
com este desejo de extinguir a raça humana
só pro mundo seguir daí
em silêncio.

Um momento breve
e que o tempo leve
minhas palavras ignorantes
ignoradas
e ignoráveis
muitas vezes por mim mesmo.

(Prometo não ser superficial
neste poema.)

Nós mesmos
seremos nossos lobos.
Que a matilha nos acompanhe
ou não.

Sujeitos malvados
vivem mais com seus
predicados inconformados de solidão.

Tudo vai nessa vida.
Nós também vamos
e eles também vão.

Por enquanto ficamos
com as vozes de hoje
que mais nos aporrinham
do que acalentam.

Meu camarada
prodígio pródigo
sem propósito
na poesia liberta.

Prosopopéia dos telhados sujos e esquecidos.
Prosonímia da noite em claro.
Próspero em tanta propriedade.

Meu camarada!
No fundo sabemos
que somos os sujeitos do outro lado da rua
torcendo pro miserável bater o carro na bendita baliza interminável.

Somos as calçadas imundas
em que as moças passam
e os vestidos voam.

Ah meu amigo
de tão longe
e de poesia tão perto...

Nós, os poetas
comemos o coração
ainda quente
das caça morta
antes mesmo de escrever o primeiro verso.

Somos o inverso
ou o universo
de sei lá o quê.

Meu camarada
conte comigo em qualquer caminhada
até a hora da morte e além.

Mas antes lembre-se:
Os poetas são predadores
do tempo
e buscam violentamente
um segundo de paz.

Aqui jaz
um poema pelo qual me orgulho de ter feito.



Ígor Andrade

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2 comentários:

Luiz Libório disse...

Não sei o que dizer. E quando o poeta não sabe o que dizer é porque tem muito pra contar. Obrigado, Herói!

"Que a matilha nos acompanhe/ ou não". (:

http://luizliborioalves.blogspot.com/2011/09/li-com-o-melhor-sorriso-que-tenho.html

Ígor Andrade disse...

Abração, irmão!