terça-feira, 13 de setembro de 2011

Fones de ouvido

Meus passos fazem
o caminho.

Nas calçadas cansadas
o canto triste
como o de um passarinho
engaiolado.

Eu não tenho ninho
neste mundo
mas tenho passado
e tenho pensado
muito
em voar.

(O futuro é a asa quebrada
de quem não consegue pousar.)

Versos que me guiam
nos céus que imagino...

Uma coisa é certa:
Não morro por falta de assunto.
E também não deixo de escrever.

Escrevo mais
quando caminho.

Escrevo meu caminho
nas tardes
em que carrego a noite no plexo
sem desespero.
Muito embora a palavra desespero
me desespera.

É a espera
da palavra certa
que me agiganta.

A palavra de hoje é paciência
seja com o que for.
E eu já fui
um sujeito mais agoniado.

Eu sei que toda agonia tem lá uma sublimação do cosmos.
E é na busca de qualquer harmonia que descanso meus pensamentos...

Pensar e pesar
o que penso
sem peso.

Coeso
é o juízo dos cães
que me parecem mais humanos do que nós.

Nós...
todos próximos
mas distantes...

Sinto sede
e sinto fome
e me recomendam fé.
A humanidade é
o medo de não acreditar
em nada.

Minha vida está bagunçada
e eu não quero arrumar.
Já basta o que tenho dormido pouco.
O louco cochila
no verbo presente.

Certo é o bêbado
e seu tombo
na calçada.
Certo é o pombo
que atravessa a rua
sem consciência.

Hoje na fila do caixa
abri a caixa de Pandora
de olhos fechados...

Hoje alguém
em alguma outra fila chora
e a senhora da frente ora
com um terço na mão
para um deus esquecido.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

5 comentários:

Marcelino disse...

"Caminante no hay camino/ Se hace camino al andar" , já nos dizia Antonio Machado, grande expoente da Literatura espanhola, e o teu poema é desses que vai sendo construído à medida que a caneta vai andando no papel (ou o dedo no teclado), ao menos foi essa a impressão q tive ao lê-lo

Karla disse...

Cara, deixou-me reflexiva em frente a tela de meu computador... mui belas palavras, meu caro. Parabéns! i/

Anônimo disse...

Me deixou a pensar ao ler-te, querido. Assim é que gosto. Gosto de refletir, gosto de pensar no que li, gosto do que escreve, gosto de teus versos...sempre. Beijos.

Au revoir!

Ígor Andrade disse...

Você acertou, Marcelino.
Grande abraço!

Ígor Andrade disse...

Valeu, Karla e Natalia. Vocês possuem um olhar apurado da poesia.
Abraços!