quarta-feira, 31 de agosto de 2011

In illo tempore ou In medio virtus

Passei algumas horas do dia
reavaliando alguns fantasmas
desta vida efêmera.

Não cheguei a lugar algum...

E nem poderia
já que a realidade não existe.

(E não me venham com suas teimosias e conceitos furados,
questionar as minhas verdades inquestionáveis.)

Existo eu
e minha poesia
no cúmulo da arrogância
que não consigo ter.

Eu me desrespeito porque não tenho coragem
para analisar palavras como: superioridade, orgulho e altivez.
E também não sei direito como estas palavras vieram parar neste poema.

Sinceramente
não sei pra que escrevo
mas sei pra quem
e às vezes
não sei pra quem
mas sei porquê.

O caos é mesmo
meu cão solitário
que cuida da casa
latindo pro vento.

Há o vento
que venta
e o ventre
com seu vazio.
Na casa tudo é quente
e na rua tudo é frio.

Ponto
e reticências
no plexo.

Ventrículo ridículo
que vive em sua ventura.
A vida não tem alma
e a solidão não tem cura.

Matéria escura
de onde viemos.

O vazio antes
e o vazio depois
das vidas.

O vazio é primordial
e é dele que me faço gente
infelizmente
e infelizmente
minto
tento
sinto
sento
no canto
sem santo
e conto
qualquer coisa que ninguém quer saber.

Escrever
deve ser
o maior medo que tenho.



Ígor Andrade

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3 comentários:

Ulisses disse...

Bom, Ígor! Tu é melhor ainda quando é sucinto.

Ulisses disse...

Bom, Ígor.

Marcelino disse...

Até larguei o dicionário de latim pra traduzir o título. Não fez falta: o texto é o máximo. Apesar de uma aparente (e só aparente) quebra no ritmo a partir do verso "Matéria escura de onde viemos", o poema é fantasticamente coeso e coerente.