segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Aeroporto Internacional de Fortaleza - Pinto Martins

Nunca mais eu piso neste aeroporto.
Tudo aqui parece não fazer
muito sentido no meu juízo.

Familiares que se odeiam
se confraternizam.
Abraços mentirosos
mentem na cara dura.
Um velho gagá
olha o traseiro das menininhas
des-ca-ra-da-men-te.

Nunca mais eu piso neste aeroporto.

Namoradas ansiosas esperando
namorados saudosos.
Namorados desarrumados esperando
namoradas cansadas.

Cenas tristes...

Em todo lugar que olho
vejo telas.
O poeta desesperado procura
janelas.

Ipod, Ipad, Iphone, aipim.
Essas coisas não me encantam muito.

O maldito sujeito atrás de mim
escuta um maldito som
no seu maldito celular mp3.
Maldita seja a inclusão digital!

(Qualquer música que tenha
como refrão "bonde do tigrão"
é uma maldição.)

Nunca mais eu piso neste aeroporto.

Gente que passa
com mala cheia
e mente vazia
que não passa.
Talvez seja isso.

Aqui só os casais
e gente solitária
me interessa.

Contei dois homens e uma mulher
que passaram sozinhos na multidão,
um de cada vez, cada um com sua solidão.

Nunca mais eu piso neste aeroporto.
De frente pro portão de desembarque
tem uma tevê de plasma exibindo propagandas militares.
Nós só retrocedemos neste planeta.

(Propaganda de guerra
não vende paz.)

Nunca mais eu piso neste aeroporto.
Minhas mãos suadas
descansam nos bolsos
da bermuda camuflada.
Meus pés suados
descansam nos chinelos de borracha.
Meu estômago embrulha
o verbo esperar.
Minha cabeça dói.

Devo admitir
que esse negócio
de idas e vindas
me partem a poesia.

Talvez nada no mundo
me irrite tanto
ou me agonie tanto
como aeroporto
e meu pai.



Ígor Andrade

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3 comentários:

Anônimo disse...

A mim também...

Marcelino disse...

Cara, que poema lindo, terrivelmente lindo. quando decidires lançar um livro, este é um texto que não pode faltar. Muito bom.

Ígor Andrade disse...

Lembrarei disso,irmão. Pode deixar.
Grande abraço!