sábado, 22 de outubro de 2011

Dies Saturni

Levanto e saio.
Não, calma, não saio
ainda.

O poema é longo
eu que acordei meio curto.

Sento na cama
com olhos apertados
sem meus óculos.
Leio Bukowski
depois Lennon
tentando acordar.

(Faz tempo que não bebo...)

Uma xícara de café
e preciso sair.

Não, eu não preciso sair
mas quero
talvez precise
eu vou.

Escovo os dentes
com pasta e sangue.
O dia começou.

Dia quente por sinal
e barulhento.
Bato a porta de casa
e as buzinas batem meu juízo.

Uma mulher com uma camisa que mais parecia a bandeira do Vietnã do Sul
quase foi atropelada na minha frente.
(A mim não faria falta!)
Deve ter sido culpa da bandeira.

À caminho da academia
cultivando ódio
logo de manhã cedinho.
É assim que homens imbecis agem...

Eu preciso voltar a treinar boxe.
Socar os caras pensando em alguma ex-namorada
ou em algum amigo traidor.
Sim, o pacifismo foi passear
no inferno.
Me deixem dizer o que penso!

(Eu preciso de inimigos
de mais inimigos
além de mim mesmo.)

Que dia quente!
Minha barba está muito grande!
Essa academia é um forno!

Levanto todos os pesos que posso e não me satisfaço.

Braços fortes
panturilhas fortes
abdômen forte
coração fraco
fraco fraco.

Chega de treino por hoje.
Sinto fome.
Quero voltar pra casa
pra escrever.

Eu preciso de um nome novo
para o silêncio que eu não faço.

Volto no calor absurdo
para almoçar um frango grelhado
e não sei quem o matou.



Ígor Andrade

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4 comentários:

Karla disse...

Uau! Seu mau humor lhe rendeu um belo texto!

Ígor Andrade disse...

E ainda tem gente que não entende esse mau humor, Karla.
Abraço!

Nadine Granad disse...

Haha... adorei o final!...

Um dia de fúria ;)


Beijos =)

Ígor Andrade disse...

Valeu, Nadine. Abraço!