domingo, 16 de outubro de 2011

Dies solis

E este domingo nublado
que mal passou
e nem passa?

Um homem parado
na janela
disfarça
a vida.

Domingo é isso:
falta de compromisso.

Dia bobo de missa.
O povo pede
pra qualquer deus:
preguiça.

Coragem mesmo pra pensar
só poucos têm...

As aventuras de Robson Crusoé
enfrentando o ócio de Matusalém.

Hoje só a palavra do náufrago me interessa.
Não tenho calma
nem tampouco pressa.

O retrocesso da raça...

Cadê minha compressa?

Meu ombro dói.

E tudo neste domingo foi
cinza
como os corpos carbonizados em Pompéia.

(Vesúvio veste-se de carrasco
e acaba com a graça dos sorrisos levianos.)

Levei décadas para perceber
que domingo é o melhor dia
pelo menos pra mim.

Como um leão banido do bando
procuro sombra e comida
agora sozinho
e não reclamo.

E todo mundo segue seguindo.
É a vida.

Há uma semana atrás
uma data pra se pensar:
dia nove de outubro.
Dia em que nasceu Lennon
e morreu Guevara.
Mas deixa pra lá.
Ninguém sabe do que estou falando.

Viver no desatino da palavra
é o que quero.
E eu só espero
o próximo verso.

Diante de todo absurdo
este domingo está em mim.



Ígor Andrade

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4 comentários:

Marcelino disse...

Um domingo com Guevara, Lennon, Robison Crusoé e um leão banido do bando é um domingo delicioso, poético. Nada de preguiça, nada de indolência: pensa na desolação do leão, na coragem do Che,na amor pela vida do personagem ilhado, na arte de Lennon, junta tudo e vive assim todos os dias da semana.

Ígor Andrade disse...

Doideira, não é?
Abração, meu amigo!

Rebeca dos Anjos disse...

Um domingo para encontrar (-se).

Ígor Andrade disse...

Sempre, Rebeca.

Abraço!