sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um poema enjoado

Pingo no olho
colírios que me azedam a garganta
(desconfio que eu já estava azedo
antes mesmo de confiar nos colírios).
Espero o dia passar
sem ver o dia passar direito.
Vejo tudo branco
e não sinto paz.

Eu não sei onde anda minha sensibilidade,
e sinceramente, pouco me importa a cidadania
de hoje ou de domingo.

Na sexta-feira todos se divertem
ou alguns mentem pra si mesmo.
Eu apenas tento me definir
ou definir minhas verdades
sem sucesso.

A sala daqui de casa
está em reforma
e eu me deformo.
Desconstruo minhas paredes
antes de pintar.
No meu projeto só penso em janelas.

Vejo na tevê um pequeno garoto
necessitando de um transplante de medula óssea
há tanto tempo e não consegue.
Leucemia antes de tudo, é um nome feio!
Mudo de canal e vejo um bebê
que foi encontrado na Indonésia
depois de dois dias do tsunami.
Ele está vivo
e seus pais morreram.

Me sinto o sujeito mais egoísta do mundo.
Sinto todo mundo mais egoísta ainda.
Este poema pode parecer egoísta.

Eu não sei quando
tudo isso vai acabar.
Ou quando outra coisa
vai começar.
Eu acho que só sei escrever
sobre mim ou sobre meus dias
porque não espero mais nada
do tempo e do espaço.

Poesia minha de cada dia
dai-me paciência
dai-me sapiência.
Os olhos de dentro
devem enxergar melhor.



Ígor Andrade

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2 comentários:

Anônimo disse...

Ai, eu sei, eu sei como é...

Fátima Nascimento disse...

Desfecho maravilhoso. Imenso abraço.