domingo, 3 de outubro de 2010

O chão da sala

Um poema de segunda (20/09/2010).

Na falta do que fazer
(e assumo minha cara-de-pau
de desinteressado político
neste pós-operatório)
assisto o horário eleitoral
entediado
envergonhado
esquecido.

Ninguém me convence.
Ninguém fala nada do que quero ouvir.
Ninguém parece verdade.
(Nem eu.)

Fico lembrando de um amigo
que vibra
defendendo uma bandeira
uma política utópica
um lado
um candidato
um partido
(interesses ocultos
partidos no imaginário).

A impressão que tenho
é que os poucos que discutem política
nada entendem sobre o ser humano.
Mas sou um pobre ignorante
e nada posso falar
(e penso poder escrever).

Há muito
a política
deixou de ser o que é
(Será que ela já foi?)
deixou de ser
o que deveria ser
(Será que ela deveria?).

A política
assim como este poema
tem muitos parênteses.

Governar é uma ciência
que só os nobres homens
de caráter transparente
deveriam executar.

O povo
é executado diariamente
nesta ignorância infinda.

Assisto o horário eleitoral
entediado
envergonhado
esquecido
e não vejo nada
em que eu acredite.
Nada!

Sou um poeta
e tenho como função
(quando quero)
antes de tudo
deformar as visões de quem me lê
desconstruir as idéias crescidas
descrever o indescritível.

Mas os políticos
ou os candidatos
não têm função alguma.
E isso parece errado
pelo menos pra mim.



Ígor Andrade

_________________________________________________________________

6 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito!

Eu votaria em ti, me convences ;)

Fabio Rocha disse...

Perfeito. Tb sinto meio assim. E que fila lenta de andar... Pqp...

Marcantonio disse...

Tudo bem. Mas não é bem assim. A não ser que estejamos no Parnaso ou no Olimpo. E se não podem dar o pão, poetas podem também fazer parte do circo.

Abraço.

Ígor Andrade disse...

Marcantonio, eu vivo no Parnaso,e não gosto de ser palhaço. E você? Abraço!

Marcantonio disse...

Ô Igor, desculpe aí qualquer coisa, nem me leve a mal. E só fiz o comentário por se tratar de poema de natureza política. É que me incomoda estarmos assumindo uma atitude moralista (ou purista) em relação à política, colocando todos no mesmo saco, eles, os inimigos da nossa perfeitíssima e ultrajada sociedade, tão distinta de seus políticos, tão sabedora do que é correção, ética e civilidade. Leve a mal não.

Quanto a gostar de ser palhaço,eu relativizo: se for assim um pouco palhaço-Chaplin, palhaço-Jacques Tati, palhaço-Oswald, palhaço-Voltaire e alguns outros palhaços-críticos, tudo bem,
eu até gostaria, mas creio que jamais alcançarei essa graça.

Abraço.

Ígor Andrade disse...

Tranquilo, Marcantonio. Mas eu não assumi atitude alguma. Apenas nenhum miserável me convenceu de nada. Só isso. Abraço!