segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Da saudade descoberta

Ando sentindo falta
de quando era criança
e pensava ser adulto.

E fazia tempo
que não sentia isso...

Tudo era tão grandioso.
Eu era tão grandioso
mesmo pequeno.

Todo amor que tinha
e não sabia como usar
(Julgo não saber usá-lo,
até hoje!)
era imaginário demais
e me bastava.

Hoje nada me basta.
Nada me basta.
Basta.

Estou desempregado
porque quero.
A mulher que eu amo
está longe
mesmo perto
(e isso eu não quero).
Estou com fome
do que não sei cozinhar.

Preciso da casa antiga
de muro azul
e do céu que era
da cor que eu quisesse.

Antes eu conseguia sorrir
sem querer.
Tornei-me poeta desde então.

Não mais construo castelos
no quintal do meu avô
e isso me desanima.

Eu pegava limão no pé
fazia limonada
mas não bebia limonada.
Eu bebia a experiência
da vida maternal de Dona Augusta.

Já não bebo mais
a experimentação
da cozinha da vovó.

Sinto a sede
do filho que terei.

Onde cabe tanta coisa
aqui dentro
que eu não sei controlar
muito menos sei pra que serve
aqui fora?



Ígor Andrade

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2 comentários:

Fátima Nascimento disse...

Muito belo. Fez-me "viajar" na minha infância. Lembranças... Parabéns!

Marcelino disse...

"Antes eu conseguia sorrir sem querer. Tornei-me poeta desde então" Li este trecho e ele derrotou o possível ar melancólico que vinha senod engendrado nos versos anteriores e que foi perseguido nos versos em sequência. Achei isso muito bom: aparecer a ponta de um iceberg de esperança num Atlântico de lágrimas; o tornar-se poeta é provocar alegria em quem lê.