sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dezoito andares



Cinco mulheres e eu
no elevador.


Eleva a dor de quem quer silêncio.
E leva a dor para o andar de sempre.


Cinco mulheres.
Cinco sapatos diferentes.
Cinco perfumes diferentes.
Cinco cores de cabelos diferentes.
Tudo muito diferente
dentro do elevador.


Duas conversam sobre filhos.
Talvez a comédia
de ser mãe.


Outras duas conversam sobre a correria do dia a dia.
A rotina reta de suas vidas tortas.
Talvez a tragédia do que é
estar vivo.


A mulher perto do espelho
cala.
Talvez fale consigo mesma.


Onde estou eu
nesta eternidade tão breve?


Só sei que vou pra academia
com a coragem de um moribundo.
Abunda um não sei o quê
neste meu vazio.


Cinco mulheres e eu
no elevador.
Seis vidas que irão acabar.
Seis mortes que serão esquecidas.


Tudo passa tão rápido.
Até o elevador.


Cinco mulheres e eu.
Todos tão diferentes.
Seis seres humanos
tão iguais.




Ígor Andrade

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2 comentários:

Nadine Granad disse...

Admiro como o cotidiano ganha magia sob a sua tutela!...
... Tem vida própria, mas tão vívida quando alguém sabe guiar...

Beijos =)

Marcelino disse...

Concordo com a Nadine Granad: o cotidiano fica mais poético com a tua mirada. Aquele verso "A rotina reta de suas vidas tortas" ficou lindíssimo. Uma boa sacada.