sábado, 12 de maio de 2012

Joelho direito



Minha mãe anda desanimada
por causa do seu joelho.
Minha mãe operou o joelho
e agora não está andando.


Uma queda perto dos sessenta
te senta por uma eternidade.
Deve ser chato demais
acordar entre muletas e andador.


Anda a dor, mas não andam as pernas...
Deve ser ruim demais depender de alguém.


Minha mãe anda desanimada
agora com uma placa de não sei o quê
e dois parafusos no joelho.


Minha mãe num dia qualquer
quando tudo estiver bem
vai desanimar de novo
numa porta giratória do bradesco.


O grotesco 
da vida é articular
nossas adaptações aos nossos dias.


Minha mãe anda desanimada
mas meu joelho vai bem.
E nem de banco eu gosto!




Ígor Andrade

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Um comentário:

Marcelino disse...

Gostei muito deste texto, pelo tom de prosa, uma prosa confessional do outro, no caso, a genitora. Um texto que expressa o amor filial. Sem pieguismo. Parabéns, poeta.