sábado, 29 de janeiro de 2011

Dínamo

Viste?
O que te veste
é ser-te.



Ígor Andrade

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Epítome

Procuro a paz
procuro o passo
procuro no espaço
procuro por mim.

Procuro sempre
o caminho entre
o nada e o enfim.



Ígor Andrade

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35 minutos

(03/01/2011)

Caminho na praia
caminho com minha mãe
caminho por nós
caminho na nossa própria imensidão.

Às vezes me sinto tão bem...
Às vezes sinto uma impressão
de que caminhar me faz
um homem melhor.

Aqui tudo se transforma
e tudo me transforma
neste tudo aqui.

Aqui é onde todo azul se encontra.
Até onde posso enxergar
o azul do céu
toca no azul do mar.

Caminho na beleza rara
do breve momento.
Caminho aqui e agora
sem sofrimento.

Caminho na praia
com minha mãe.
Caminho com as mãos na areia
e os olhos no horizonte.

E isso é tudo.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Universal

Para Cesar Millan.

A energia
é a mais bela palavra
não dita.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Conquista

Querer o sim
é suportar
o não.



Ígor Andrade

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Gaiola invisível

Ser livre
é não estar preso
à liberdade.



Ígor Andrade

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tears

Madrugo o frio
no meu cansaço.
Não sou feito de aço
e sei muito bem:
que as coisas que eu sinto
que as coisas que eu minto
ainda vão me matar.

Madrugo um frio poema
hoje salgado
hoje sofrido
um frio poema sentido
insosso e ardido
com o gosto de mar.



Ígor Andrade

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Saudade

(03/01/2011)

Saudade
é aquela idade
uma identidade
do que não somos
quando lembramos
do que não temos.

Saudade
é quando queremos
é quando percebemos
algo do outro
ou tudo do outro
em nós.



Ígor Andrade

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Rainy (confused)

Percebo a noite.

Olhos fechados.
Céu fechado.

Não penso
e nem procuro
a lua.
Deixo que ela me olhe
de longe.

Fico eu
comigo
sozinho.

Me sinto mais perto
estando mais perto
talvez menos certo
de mim.

Percebo a noite.

Um sentido mais simples.
Um sentido mais amplo.
Um sentido em silêncio.

Noite fria
noite escura.

Percebo que sou a noite
sempre que não sei
o que sentir
ou o que dizer.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A minha calçada

(03/01/2011)

Olho para as pessoas
daqui da minha calçada.

E daqui da minha calçada
já olhei tanta gente...

As pessoas desta praia
incontáveis identidades livres
vivem adormecidas.

(E quem não vive?
O sonambulismo é um estado
geral e comum
do mundo.
Vivemos num transe;
seguimos o caminho
que somos empurrados.)

Não me parece
que essas pessoas
tenham alguma preocupação.
Mas devem ter.

Olhar o mar.
Conversar com o vizinho.
Plantar frutas para depois comer.
Cuidar de cachorros vira-latas.
(Os vira-latas mais despreocupados
que eu já vi.)
Enfim...
Se preocupar com isso
é de perder o juízo, não é?

Olho para as faces bronzeadas
dessas pessoas
e me vejo tão inútil.

(O sol da capital
já não me queima mais.)

(Sinto tanta coisa neste momento
que mal sei explicar.)

Olho para o rosto
de cada um que passa
me desejando boa tarde
e me vejo neles.

Pessoas sem sonhos absurdos...

Sinto uma impressão forte
que o povo daqui
só vive porque nasceu.

(No fim das contas
viver é esperar a morte
mesmo.)

Olho o povo passando
nesta tarde
que é mais bonita
do que a tarde da cidade.
Dou boa tarde
e entro pra escrever.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Prisioneiro

A tarde me estranha
quando chove lá fora
aqui dentro minha poesia arranha
a parede gelada
de pouca vergonha
a porta fechada
eu quero ir embora.



Ígor Andrade

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Do meu achismo do meu budismo

A vida
é uma linha reta
em círculos.



Ígor Andrade

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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Intermitente

Para Vinicius de Moraes.

Leio Vinicius
e me sinto pleno.
Posso imaginar uma canção
e me sinto piano.

(Deixar de me sentir pesado
tem de ser meu novo plano.)

Vinicius de Moraes
grande mestre
que me testa
em seus poemas
em seu patriotismo.

Por que poetas morrem?
Por que poemas correm?
Por que, Vinicius?

Vejo sua poesia
como um milagre
como uma noite que cai.
Vejo sua poesia
como o nascer do dia
vejo meu pai.

Vinicius
sujeito homem
totem aedo.
Sua poesia era espanto
e pro meu espanto
estou sem medo.



Ígor Andrade

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domingo, 16 de janeiro de 2011

Talita me sorriu na porta da cozinha

Achei uns rabiscos
de um poema feito para Talita.

Pequena frase
que martela meu juízo:
"Talita me sorriu
na porta da cozinha;
Talita engomava
a camisa do meu irmão."

Hoje procuro Talita
na cozinha vazia
nas lágrimas de meu irmão.

Separados
se separaram
separação.

Talita escolheu outro caminho
segue sozinha com seus conflitos.

Talita segue...

Talita segue?
Não, Talita está parada
antes mesmo da largada.
Talita parou surpreendentemente
antes de entrar na igreja.

Que assim seja
que seja assim.

O amor é enfim
o começo
e o crescimento
e chega ao berço
do fim.

Acabou.

Talita naquele dia passava.
Talita naquele dia amava.
Talita hoje passou
como a primavera.

Folhas secas
que o vento se encarrega
de levar.



Ígor Andrade

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sábado, 15 de janeiro de 2011

E agora, irmão?

Para meu irmão Thiago Andrade.

E agora, irmão?
Qual o próximo passo?
Devo lhe dizer o que penso
e você esquece o que faço.

(Somos diferentes demais.
Somos parecidos demais.
Somos o mesmo
cansaço.)

Se você passar por essa
eu prometo
eu também passo.

Então levanta-te
me dê sua mão
que te dou um abraço.

Irmão mais velho é pra isso.
Eu caio por você
e nos escombros, eu disfarço.

Eu sou seu escudo.
Lembra?
E por ti, mudo o mundo.
Apertemos o laço.

Prefiro sofrer a te ver sofrer.
Prefiro morrer a te ver morrer.
E agora, irmão?
Qual o próximo passo?

Se está difícil de entender o amor,
eu explico;
o poeta é acostumado com dor
e hoje meu peito é de aço.



Ígor Andrade

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2011

(01/01/2011)

À medida que eu refletia
em silêncio,
a harmonia de tudo
a beleza do mundo
mergulhava barulhosa
no dia depois de amanhã.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Todo começo do ano

(01/01/2011)

Todo começo do ano
é o tempo da mentira.
Se diz e não se faz
e se faz o que não se diz.

Dizer e fazer
são mundos distantes
e mentir é o hábito do viver.

Todo começo do ano
me viro do avesso
tento me encontrar
me equilibrar
mas me perco e me esqueço
não necessariamente nesta ordem.

Todo começo do ano
o povo se enche
de promessa
toma um porre
corre pra praia
corre
pula onda
e desconversa.

Eu quero o silêncio
da calma
e esse povo sem alma
quer barulho
quer pressa.

Todo começo do ano
eu sempre procuro
ficar no escuro
e começar pelo fim.
Pois é...
sou assim
vivo ao contrário
e não fiz promessa nenhuma
pra este ano.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Todo fim do ano

(31/12/2010)

Todo fim do ano
a mesma coisa.

Todo fim que amo
a mesma coisa.

Todo fim
tudo em mim
e tudo fora.

Todo fim do ano
é a aurora
que não consigo entender.

Todo fim do ano
tem uma vida passada
que não vivi
e que nem vou viver.

Todo fim do ano
todo mundo esquece de tudo
todo tudo esquece do mundo
tudo doido
tudo alegre demais
sei lá...

Todo fim do ano
tem fogos no céu
tem sempre algum sujeito
chato
tem fogos no céu
e outro sujeito
chato.
Todo fim do ano
basicamente é isso:
um sujeito chato
cheio de alegria que nem é dele
e tem fogos no céu.

Todo fim do ano
tem fogos no céu
e um frio no meu peito.



Ígor Andrade

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A estrada

(31/12/2010)

Estou no caminho
e penso no caminho
sem saber do caminho.

Eu não caminho
no carro.

Ver o verde
do mato
até chegar no azul
do céu.

Todo fim do ano é cruel.
É isso.

No caminho de casa
como um pombo sem asa
me deixo ir.

Me deixo ir
indo
de bico solto.

Hoje canto um canto
que não me pertence.
E este canto me vence
antes do tempo
antes da curva
antes do vento.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Eu chuvoso

Hoje à tarde
hoje é frio
hoje é tarde
hoje eu frio.

(A tarde é covarde
e o frio arde
desafio...)

Hoje hoje
antes tarde
mesmo frio
do que nunca.



Ígor Andrade

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