segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

De Fortaleza pra Natal (sexta-feira, 02/12/11)



Saio de casa nesta manhã
sem amanhã

e cheio de ontem.

Calculo quinhentos e tantos quilômetros
que passarei tentando imaginar
um processo de cura nesta viagem.

Cura de não sei o quê
numa distância de não sei pra onde.

Passo horas
numa estrada interminável
num calor miserável
e sinto medo do horizonte.

Sou pequeno demais...

Esqueço
por uns momentos
da minha tacofobia
mas a acrofobia não me deixa.


Hosana nas alturas!
E não me interessa o significado disso.


Eu sabia que ia ser difícil sair de casa
e também sabia que deveria me enfrentar menos.
Qualquer mais é um perigo
pra quem não sabe determinar valor.


Animais mortos na estrada.
E eu não sei o que é viver!


O homem e a estrada
sem fim.
O homem e a estrada
sem mim.
O homem e a estrada
enfim.


Quase posso tocar o céu
em algum momento.


Meus olhos são minha poesia.
Palavra quente e fria 
que ainda vai me matar.


Quantos buracos são necessários
para preencher o meu vazio na estrada?


Quantos vazios são necessários
para preencher um buraco da estrada?


Estou só o pó.


E antes de Mossoró
tenho um nó 
na garganta.


Lampião sorri no inferno.


Cidade aberta
alerta atenta
artéria aorta
transporta a carcaça morta
de um homem cansado.


Tráfego...


Circulo perdido em mim.


(Por algum motivo
lembro da música "Strawberry Fields Forever"
lembro de Lennon
e lembro dos meus cães.
A saudade de casa é uma ansiedade sem cura.
Dura por uma vida inteira de milionésimos de segundos.)


Horas de viagem
e caminhões.
Horas de viagem
e nascimentos.
Horas de viagem
e eu não chego nunca.


Agora entendo o surrealismo de Salvador Dali,
o grande salto da humanidade
e o deslocamento desnecessário.


O mato seco
seca a vista.


Pedras pedras pedras.


Sou uma pedra que nem saiu de casa ainda...






Ígor Andrade

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