sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O poema também voa

Ontem fui no aeroporto
e me ocorreu
que não preciso de asas
mas as quero.

(Não voei
e não vi voar.
E sei que o chão me incomoda.)

Quando me sinto
perto do solo
passo a odiar
quem está perto.

(Eu sei, eu não sou esperto
mas sou sonhador.)

Há quem diga
que preciso
da mulher e do céu;
e eu teimo em entender.
Quem precisa de aviões?
Os aviões foram criados por poetas.

Ontem
no aeroporto
me lembrei
que tudo é partida
e nunca chegada.
Nunca sei bem o que sentir por lá.
Nunca sei bem o que é partida.

Ontem faltou energia
e o calor era absurdo.
Quem sabe escrevi este poema
de mau humor.

Só sei que o aeroporto me faz mal
decididamente.
Mas no domingo eu volto lá.

(Pelo menos os três livros de Nietzsche
me custaram pouco
na pechincha da livraria.)



Ígor Andrade

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Um comentário:

Manuel Pintor disse...

Há palavras que são asas
Quando os poetas se lêem