terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Gastrite nervosa

Meu estômago anda me incomodando.
Uma manada corre livre
machucando o solo
e a sala
que não pára
que não cala
nessa reforma de fora
que muda tudo por dentro.

Dentro.
O dia foi quente
e a noite é mal-estar.

Eu mal estou.
Eu estou mal.
Me inflama o juízo
esta inflamação do epitélio estomacal.

Ontem estava muito ruim.
Hoje eu piorei.
Amanhã não sei.
Um homem precisa de omeprazol...

Meu estômago anda me incomodando
e sinto raiva e saudade e ciúme
sinto até o perfume
da mulher que me deixou.

(Esta frase foi mais para enfeitar o poema.
Minha mulher não me deixou;
ela caminha com a manada aqui dentro.)

Só sei que sinto raiva
e meu estômago dói.
Como o soco que matou Houdini.
Toda ira aqui de Mussolini.
Qualquer busca do cundalini.
Onde raios está o meu herói?

Meu estômago anda me incomodando
e faz tempo.
Preciso tentar descansar
o estômago e a cabeça.

No quarto
meu irmão agoniado
lê a bíblia antes de dormir.
Amanhã como sempre
acordará pior.

Meu estômago anda me incomodando.
Preciso mesmo vomitar.



Ígor Andrade

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6 comentários:

Renan O. Pacheco disse...

ixi
Parece até um dia desses que eu twittei: Meu estômago está brincando de navio em tempestade.

Fátima Nascimento disse...

Então, coloca pra fora o que incomoda. E que venham versos e que saiam as angústias. Meu abraço.

Anônimo disse...

Essa reeconstrução que não pedimos.

Luiz Libório disse...

Magistral; escrevi "Soluçado" depois de te ler.

Marcelino disse...

Cara, que beleza de poema. Intenso: porque parece ter sido escrito na hora mesma da dor; e bem trabalhado, porque o poeta não se deixou arruinar só por imprecações, mas foi alem e construiu momentos belíssimos como a história da manada (e da mulher) machucando o estômago, e as referÊncias a personalidades (Houdini, Mussolini) e pessoas (o irmão agoniado). Muito bom!

Devaneios dela disse...

Aff..você não é o único.