terça-feira, 23 de outubro de 2012

Toca o telefone do meu vizinho


Toca o telefone do meu vizinho.
Ninguém atende.
Ninguém entende
o que tem de atender.

O que tem de ser entendido
às vezes é esquecido
por alguma surdez.

Um pedido:
silêncio.
Parece muito.

Parece pouco:
o que peço.

Só queria ler meu livro na varanda
sem o toque de um telefone.
O nome disso é velhice.
O resto é só a tarde.

A mesma tarde que passa...

Onde estão todos, que não atendem?
Onde estou eu, que não entendo?

O toque do telefone é esperança.

Alguém quer ser atendido.
Ser entendido é outra história.


Ígor Andrade

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2 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

"O toque do telefone é esperança". Silêncio. Angústia. Alguém se lembrará de mim?

beijos,

Marcelino disse...

Boa sacada, Igor, essa do telefone do vizinho: um toque do outro lado que nos desperta boas reflexões. É, não deixa de ser, um desvencilhar-se de alguma responsabilidade: toca, mas é lá; você ouve, mas não tem deveres em relação a isso.