terça-feira, 16 de outubro de 2012

E hoje ainda tinha dentista


Numa xícara de café
encontra-se pesadelos.
Portas que se fecham
no escuro do dia.

Desenho um plano empresarial
pra enganar meu filho
que ainda não nasceu.
O que cresceu na madrugada
sumiu.

O infinito da janela
é um quadro que não sei pintar.
A suadeira nas mãos
que não controlo.

Ao nada invejo a insensibilidade
dos bancos das praças.
Muita história e muito frio.

Meu mundo é um esboço apagado.
Peso no dorso de um homem afogado
na superfície das coisas.

Confesso que tenho medo
do sono da tarde.


Ígor Andrade

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2 comentários:

Marcelino disse...

A penúltima estrofe é tão bonita que merece comentário à parte: para um mundo ser um esboço apagado, ele deve ser um constante devir, uma contínua construção que vc planeja e, insatisfeito (por almejar o ideal), apaga, mas não termina nem destroi, porquanto haja ainda a esperança.
Para um mundo ser um peso nas costas de um afogado, ele deve doer o tempo todo, ser uma cruz, algo do qual não seja fácil fugir, há que se carregar: ele é nossa cria.

Ígor Andrade disse...

Valeu, mestre!