segunda-feira, 25 de junho de 2012

Duas horas da manhã



Quase um acidente de carro.
Quase um acidente.
Quase.


Um cruzamento e duas pernas tremendo.
Pelo menos falo por mim.
Não sei do outro.
Nunca sei do outro.


Na rua da minha casa
quase um acidente.


Tão perto e tão vivo
e ainda aqui.
Quase um acidente de carro.


Nunca vai importar pra ninguém
se eu estava certo.
O errado também poderia morrer.


O homem cria o carro.
A morte cria o homem.
A vida se cria sozinha.


O que fazer quando se sobrevive?
O que fazem os outros quando nós morremos?


Um sinal verde
um barulho alto de freio 
e trinta e um anos passando
pela calçada.



Quase um acidente de carro.
Quase um acidente.
Quase.


Um copo d'água gelada
e um poema pra amenizar a euforia.
Quase fui, mas minha poesia fica.


Amem ou amém!




Ígor Andrade

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2 comentários:

Anônimo disse...

Devemos nos suportar e nos mantermos vivos para continuar a receber do amor do outro, mas jamais seremos salvos pelo amor que o outro nos tem. Pelo menos não dentro de um carro, às duas da manhã, longe de quem nos ama, próximos do fim.

A morte existe o tempo todo. Mas a gente sempre se assusta naquela hora, que é só a consumação de todas as horas.

Sua poesia fica.
E você também ficou.

Façamos bom uso disso.

Talita Prates disse...

Morte não conhece certo e errado. De fato.

Cuide-se, por favor.

Pra mim, poesia não é maior que a vida.

Tá.