"Quanto mais me elevo, menor fico aos olhos de quem não sabe voar." Friedrich Nietzsche
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Duas horas da manhã
Quase um acidente de carro.
Quase um acidente.
Quase.
Um cruzamento e duas pernas tremendo.
Pelo menos falo por mim.
Não sei do outro.
Nunca sei do outro.
Na rua da minha casa
quase um acidente.
Tão perto e tão vivo
e ainda aqui.
Quase um acidente de carro.
Nunca vai importar pra ninguém
se eu estava certo.
O errado também poderia morrer.
O homem cria o carro.
A morte cria o homem.
A vida se cria sozinha.
O que fazer quando se sobrevive?
O que fazem os outros quando nós morremos?
Um sinal verde
um barulho alto de freio
e trinta e um anos passando
pela calçada.
Quase um acidente de carro.
Quase um acidente.
Quase.
Um copo d'água gelada
e um poema pra amenizar a euforia.
Quase fui, mas minha poesia fica.
Amem ou amém!
Ígor Andrade
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2 comentários:
Devemos nos suportar e nos mantermos vivos para continuar a receber do amor do outro, mas jamais seremos salvos pelo amor que o outro nos tem. Pelo menos não dentro de um carro, às duas da manhã, longe de quem nos ama, próximos do fim.
A morte existe o tempo todo. Mas a gente sempre se assusta naquela hora, que é só a consumação de todas as horas.
Sua poesia fica.
E você também ficou.
Façamos bom uso disso.
Morte não conhece certo e errado. De fato.
Cuide-se, por favor.
Pra mim, poesia não é maior que a vida.
Tá.
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