quarta-feira, 13 de junho de 2012

Confissões 1



Para Santo Agostinho.


Os anos passam como sempre.
Só que tudo diferente.
Caminho com a mente 
no agora
e não minto pra hora
sobre o tempo.


Sobra tempo
e sobra fome.
Falta um nome
pra minha dor.


Vou fazer jejum de poesia
e quem sabe eu durmo um pouco.
O louco dorme pra não acordar 
porque os olhos não abrem.
O entendimento da cegueira
ainda que eterno.
O ser humano é um inverno 
silencioso.
Sonho.


É muito enfadonho 
não entender o céu.
Medo medonho 
de não crescer.
Adoecer 
enquanto criança
e morrer 
como um adulto patético.
Como não pensar nisso tudo?


Como não passar pelo dia de hoje
e não pensar no incansável?


E o que dizer sobre o invencível?


A inércia de um santo.
Canto "do alto de um vale"
que nada vale
pra quem não tem fé.


O ócio de um poeta.
Carrega no peito uma seta
que aponta pro inexistente.


A pobreza e a beleza.
Rico é quem nunca se olhou no espelho.


A sabedoria e a preguiça.
Agora sei que a preguiça é um prego sem cobiça
e sem cabimento.
Cabe em qualquer (pre)juízo um martelo
sem premissa
pra quem tem sofrimento.


Não vejo Deus no universo.
E nem vejo o universo em Deus.


Unir o verso na elegância da retórica
e admirar o desnecessário.
A verdade nunca existiu.
Engano a inteligência
que eu não tenho
com minha miopia de outra vida.


Na curvatura da madrugada...
o que entender sobre a existência?


Minha maior penitência
é entender os que não me entendem.



Os anos passam como sempre.
Só que tudo diferente.




Ígor Andrade

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