sábado, 25 de fevereiro de 2012

O estômago do tempo



Para o amigo Raphael Pousa.


Ontem
lendo o seu livro
bebi as cervejas que sobraram do carnaval.
Hoje não acordei mal.


Acordei bem
e isso é raridade.
Acordei com fome
com a mesma (e outra) fome
de sempre.


Levantei o corpo para acordar a alma
na janela - alimento do poeta míope.
Batizei tantos horizontes quando pude contar.
Todos eles têm nomes de poemas que ainda não escrevi...


Hoje é um daqueles dias em que procuro entender melhor o fenômeno da interceptação. Uma pausa no curso de minha existência para entender a existência do outro sem pausa. Um outro que admiro. E acabo percebendo que me entendo mais neste processo "dantesco".


A ofensiva e o avanço.
A ausência e o toque.
O verso e o silêncio.
O engajamento e a mudança.
A vigilância e a concentração.


Qualquer coisa qualquer coisa qualquer coisa qualquer...


O mundo dos poetas
é a percepção antes do reconhecimento.
É o esquecimento antes da denominação.
Vivemos na natureza da resistência infinita.
Morreremos em cada verso 
e ainda sim viveremos para sempre.


Só hoje percebi que meu objetivo nunca foi vencer.
Meu objetivo não é vencer, é passar pelo tempo.
Apenas e tão somente só.
É ultrapassar meus sentidos
todos eles
e sentir que no além daqui
fiquei.



Ontem
lendo o seu livro
bebi as cervejas que sobraram do carnaval.
E hoje não acordei mal.


Você é um grande amigo
que ainda desconheço.




Ígor Andrade

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2 comentários:

.raphael. disse...

Velho, faz uns 5 dias que leio isso q não sei o que falar! Só que é muito foda! E o mínimo q tenho pra falar é obrigado! Abração!

Ígor Andrade disse...

Meu herói!