domingo, 31 de julho de 2011

Gray

Aqui dentro
chove
lá fora.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Esperanza

A madrugada
só muda
o imudável.



Ígor Andrade

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quarta-feira, 27 de julho de 2011

O móvel do papai

Para Sofia Andrade.

Monto o móvel
como se fosse
um quebra-cabeça.
Tudo muito devagar.
Do meu jeito.

Meço, marco e furo
buracos na consciência das tábuas.

Todo (des)compensado
é o meu juízo
em qualquer processo de montagem.

Conforme monto este móvel
monto um monte de poemas
na minha cabeça.

O parafuso pára o fuso
entre chaves de fenda
martelos e alicates
neste plano cartesiano
de encaixes.

Construção é construção
seja ela onde for.

Poetizo a vida
em qualquer estrutura
ou sistema.

Daqui uns dias
o móvel no canto do quarto
ainda me lembrará o berço de Sofia
que só montarei depois da gravidez

A escolha da cor será minha.
Será minha?
A escolha de Sofia é nascer.

Acho que ela gostará de azul...



Ígor Andrade

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A linha do dia

Acordam alguns antes
dormem outros depois
eu sonho entre o agora.

Sou qualquer hora
que cochila na poesia.



Ígor Andrade

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Ades de maçã

Luz da manhã
olho miúdo
sono graúdo
já é amanhã.

Deitar-me-ei
com o desejo
a boca
o bocejo
e o beijo.

Eu bem sei
que sonharei
hoje com vida
ao invés de morte.



Ígor Andrade

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terça-feira, 26 de julho de 2011

Poesia ortodôntica

Minha vida
é fazer profilaxia dentária
enquanto sujo
meus processos cognitivos.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quatro mil quilômetros


Mesmo que não seja mais
tudo que foi um dia
já é muito
ter sido o que era
(e eu não minto
eu quero mais).

Cada minuto
que os nossos sorrisos se encontraram
cada segundo
que meu olho parou no teu
cada qualquer coisa ao teu lado
é um mundo belo demais
e grandioso demais
e complexo demais
pra gente entender.

Mesmo que falte o céu
pra chegar em ti
mesmo que falte o chão
pro meu caminhar
mesmo que não seja mais
tudo aquilo que mesmo menos
era todo infinito
mesmo assim eu ainda digo
que ultrapassamos o conceito
homem e mulher
um ser e todos os sexos
o toque e a palavra
a pele e o ouvido
e serás sempre pra mim
mulher demais
intocável demais
neste poema.



Ígor Andrade

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Hora pesada

Hora pesada
pensamento perdido
vida sem sentido
constância de ilusão.

Alma minha
mar de tormentas
acomodada no tempo
e incomodada
com esta claridade...

É muita maldade
neste amanhecer
só meu.



Ígor Andrade

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domingo, 24 de julho de 2011

É tão triste

É tão triste
não ter
quem me tenha.



Ígor Andrade

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terça-feira, 19 de julho de 2011

A arte da leitura da mente

Para o amigo Adriano Oliveira (O Prof. Xavier).


Duas da manhã
e o sono não é bem-vindo.

Não aceitamos visita.
Casa desarrumada é mais sincera.
Nos falta a megera
mas nos sobra tempo.

Todo lamento
é arrumação.

Arruma isso então:
Desorganizar a poesia do pensamento
no silêncio
não é ponto de partida
é linha de chegada.

Chegamos aonde queremos
cedo ou tarde
imaginário.

Somos mentes inquietas
que não enxergam a tranquilidade
dos sorrisos perdidos na lisura.

Mente suja
e alma pura
é o segredo dos mutantes.

Não obstante
ao futuro na nossa cara
toda e qualquer madrugada nos ampara
e nos guia pela revolta
de sermos apenas isso:
um hoje prolixo sem ponto final.

Bem ou mal
o mundo é dos zumbis.

Horas mortas
de corpos vazios
que se perdem
nos relógios quebrados.

Essa história de caminhar de braços dados
é desculpa pra vagabundo se escorar em alguém.

Caminha só que tem o peito de aço
e sangra.

A vida é corte, meu amigo.
A vida é conquistar Marte.
A vida também é morte.

A vida é sempre um ano a menos
é sempre a metade do que pretendemos.

Duas da manhã
e amanhã acordaremos
com a mesma sensação
de que falta muito
pra entender tudo que é pouco.



Ígor Andrade

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sábado, 16 de julho de 2011

Sinonímia de verdade

Escrevo
para não enlouquecer
para não enriquecer
quem não merece.

Escrevo
o que não escreve
quem me esquece.

Qualquer prece
não adianta muito
na poesia.

Hoje só acredito
no papel e caneta
ou no dia
em que eu escrevo
para não enlouquecer.



Ígor Andrade

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Contra o espírito negro

A brisa
da poesia
é branca.



Ígor Andrade

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Do gênero humano

Não espero mais nada
de ti.
Não espero mais nada
de mim.
Não espero mais nada
da gente.

A gente
(que não parece gente)
mente
sempre que fala
em esperar.



Ígor Andrade

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Vazio dito

Eu e ela
aquarela
do infinito.

Eu sem ela
outra favela
e som aflito.

Eu e ela
caravela
e mar bonito.

Eu sem ela
uma janela
do inescrito.



Ígor Andrade

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A inépcia e o passo

O tempo parou
quando conheci
aquela mulher.

O tempo andou
e se eu ainda a quero
ela ainda me quer.



Ígor Andrade

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Em meio a

Entre um
e outro ninho
eu e você
cada um sozinho.

O monstro.
O monge.
O monte.
O moinho.

Movendo o momento
e todo sofrimento
de qualquer mundo
vizinho.

Entre um poema
e outro
alinho
as órbitas
das orbes solitárias
numa linha feroz.

Nas entrelinhas
entro e saio
entre nós.

O maior silêncio
do menor minuto
argumento arguto
é em absoluto
o tom da tua voz.



Ígor Andrade

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sábado, 9 de julho de 2011

Alpha Centauri

(Um poema para quem tem paciência.)


Dobro a noite
na palma da mão.
O que não entendo
eu não complico.
Simples assim.

Estou mais perto do sublime
quando as estrelas silenciam as lástimas.

Anos de silêncio em mim
se resumem em poesia calada.
Pouco se fala quando muito se escreve.

Noite pálida.
Noite cálida.
Noite sólida.

Nunca saberei
se quero mesmo
saber.

Interstícios
entre o início
e o ofício.

O trabalho mais duro
é se conhecer.

Eu não tenho fim
numa madrugada
que tudo diz.

Tenho a triste impressão
de que nada sou
porque nada realizo.
Idealizo
a idade ideal
que no passado me fez
sentimento completo.

Traduzo momentos
de solidão e existência concreta
pro aramaico falado antes de Jesus Cristo.

(Em suma: Pego uma coisa que não entendo
e tento explicar com uma coisa que o povo pensa entender.)

Longa hora.
Longo agora.
Logo agora
que eu poderia estar dormindo
e não pensando neste poema.

Perdi o sono
pro uni_verso.

Eu quero a astronomia das coisas
mas bocejo o desejo da preguiça de existir.

Insistir
em compreender
que triste não sou eu;
triste é o que existe
e não tem nome.



Ígor Andrade

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Para os poucos amigos

São poucos
os que valem
por muitos.



Ígor Andrade

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No amor toda guerra é literal

Não se pode amar
uma mulher que não sabe
usar uma vírgula.

Assim como não se pode amar
um homem que não reconhece
um ponto final.



Ígor Andrade

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segunda-feira, 4 de julho de 2011

O uivo da noite

Como um cão
eu caço
um poema leve
que me leve
neste vento breve
nesta vida de aço
que eu passo
farejando o agora
espesso e escasso
estilhaço da hora
e da existência
ou persistência
quando muito
resistência
do canino
no cansaço.



Ígor Andrade

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Há sempre

Há sempre a madrugada
entre eu e eu.

Existo
para me encontrar
no silêncio
do escuro
da madrugada.

Ou penso em tudo
ou não tenho nada.

Neste momento nada é
uma liberdade medonha
que me prende.

Há sempre um grande amor
numa noite perdida.

E me basta
o sono perdido
diário
de cada hoje.



Ígor Andrade

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Clarividente

O que eu quero
pro meu futuro
é estar presente.



Ígor Andrade

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sábado, 2 de julho de 2011

Quantos

Quantos poemas
eu preciso fazer
numa noite como esta
para entender
que numa noite como esta
eu não preciso fazer poemas?



Ígor Andrade

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Poema de criança

A madrugada
é uma flor
que se abre
sozinha.

A madrugada
não tem cor
e se tem dor
ela é minha.



Ígor Andrade

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Ponto final

Somos suspiros
da saudade
de quem tem fome.



Ígor Andrade

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Guarde isso

Tudo que tira
o sono
traz o sonho.



Ígor Andrade

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