sábado, 9 de julho de 2011

Alpha Centauri

(Um poema para quem tem paciência.)


Dobro a noite
na palma da mão.
O que não entendo
eu não complico.
Simples assim.

Estou mais perto do sublime
quando as estrelas silenciam as lástimas.

Anos de silêncio em mim
se resumem em poesia calada.
Pouco se fala quando muito se escreve.

Noite pálida.
Noite cálida.
Noite sólida.

Nunca saberei
se quero mesmo
saber.

Interstícios
entre o início
e o ofício.

O trabalho mais duro
é se conhecer.

Eu não tenho fim
numa madrugada
que tudo diz.

Tenho a triste impressão
de que nada sou
porque nada realizo.
Idealizo
a idade ideal
que no passado me fez
sentimento completo.

Traduzo momentos
de solidão e existência concreta
pro aramaico falado antes de Jesus Cristo.

(Em suma: Pego uma coisa que não entendo
e tento explicar com uma coisa que o povo pensa entender.)

Longa hora.
Longo agora.
Logo agora
que eu poderia estar dormindo
e não pensando neste poema.

Perdi o sono
pro uni_verso.

Eu quero a astronomia das coisas
mas bocejo o desejo da preguiça de existir.

Insistir
em compreender
que triste não sou eu;
triste é o que existe
e não tem nome.



Ígor Andrade

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7 comentários:

Raquel Amarante disse...

Adorei Igor... Matando a saudade de seus textos... Esta poesia ficou genial.. Bjo querido.

Anônimo disse...

Não precisei de paciência, só precisei silenciar isso que me atormenta. Seu poema, meu alento.

Nadine Granad disse...

Maravilha de poema filosófico... ou poema - pedra filosofal...!
Transforma!


Beijos =)

Ígor Andrade disse...

Valeu, meninas... abraços!

Anônimo disse...

Magnífico. Escreves muito bem. Preencheu minh'alma. Já sou sua fã. Meus parabéns, querido. Beijos. Au revoir.

Ígor Andrade disse...

Obrigado, Natalia.
Abraço!

Marcelino disse...

Os que se debruçam sobre as estrelas para admirá-las e os que mergulham no aramaico para entendê-lo não precisam de paciência, o amor ao ofício da conta da demora; o mesmo vale para poemas como este, que descomplicam o sentimento.