quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Poema viagem


O trem de hoje passa calado
e vazio.
Carrego comigo o frio
dos meus avós que vieram do interior do Ceará.
("O que será que será"
que eu quis dizer?)
Escrevo brisas sinceras.
As eras não alteram o romantismo.
Este poema há de ser uma cruz
ou um alívio
ou um dilúvio.
Saudade da infância que me sofre.
O tempo: uma ilusão.
O cosmos devora qualquer dúvida, qualquer dívida e qualquer dádiva.
Fui comer sem fome e cuspi aflição.
Afeição
e isolamento.
Lamento não ter mais idade.
Ninguém me entende
nem eu.
Nasci agora.
Não me acostumo com gravatas
e meu repouso maior talvez seja o cansaço físico.
Tenho sido a vergonha da família.
Não estudei direito, medicina ou arquitetura.
Literatura é útero.
O pensamento é estômago.
Estou magro.
E quero beber cerveja.
Que assim seja um bom desabafo.


Ígor Andrade

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2 comentários:

Marcelino disse...

Ô menino, tu andas escrevendo muito sobre bebida, cerveja - eu sei da diferença entre o eu lírico e o poeta, o escritor, o homem, mas como uma das marcas de teu fazer poético é a subjetividade, aí vai um conselho de um cara de 43 anos com um histórico cruel de bebida: qualquer dia desses faz uns exames de ácido úrico, amilase e lipase (pâncreas), mas se não quiseres... pare um póema sobre isso pra teus leitores.

Ígor Andrade disse...

O vício é mesmo uma desgraça, meu amigo.