terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Que não se pode terminar


A noite me estranha
e eu estranho a noite.

À noite
quando tudo é estranheza
eu saio de mim.

De fora
todo dentro
é maior que a noite.

(É preciso
algum estranhamento
para admirar uma certa normalidade.

É preciso
alguma normalidade
para admirar todo estranhamento.)

A noite sou eu
e eu sou a noite.
Somos estranhos.
Ponto.

À noite me acanho.
À noite eu apanho.
À noite me banho
de tudo que é sozinho.

Parece que adivinho
que vou ser sempre só.

A noite e eu
nos estranhamos
quase sempre
e sempre é tão pouco.



Ígor Andrade

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3 comentários:

Nadine Granad disse...

O Belo e o Grotesco em versos filosóficos e duais...

Adorei!
... Nunca se está só assim-assado!

Beijos =)

Fátima Nascimento disse...

À noite a poesia adentra e vocês se acompanham.

Marcelino disse...

"De fora todo dentro é maior que a noite/É preciso algum estranhamento para admirar uma certa normalidade": eis um diálogo afinado com a canção de Caetano Veloso ("De perto ninguém é normal")