quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pássaros cantando no escuro


Amanhece quando
o tempo não passa.
E tudo parece o de sempre.

Muito do que muda na gente
não muda nada no outro.

Sou um bocejo teimoso
e uma tristeza qualquer.

Sinto fome
e preguiça.
E sinto preguiça
além de tudo.

Ignoro a cama
porque tenho medo de sonhar.
Ignoro a cozinha.
porque acabou o presunto.

Amanhece agora
que ainda sou noite.

Não esqueço de nada.
Nem da vida.


Ígor Andrade

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2 comentários:

Natália Nunes disse...

Esquecer é preciso.

Marcelino disse...

Muitos dos teus poemas lembram isso mesmo: pássaros cantando no escuro. Ou seja, na situação em que os olhos não divisam as cores, a audição capta a emoção; é quando a linguagem intervém e nos faz ver o que de ooutra forma não veríamos.