quarta-feira, 26 de setembro de 2012

SketchBook


A obsessão por originalidade e normalidade há muito deixou de ser neurose - virou morte. O povo se mata o tempo todo porque não se encontra. A anta agora bebe água filtrada. Antes de mais nada, julgo uma tarefa impossível ter uma varanda aconchegante. A rouquidão da rua emburrece a casa. Eu me esforço pra morar no passo inicial das coisas, e isso nem é a fórmula certa de nada. As causas da obesidade infantil é culpa da espada da mídia. Média sem medida. Mordida do macaco raivoso. E eu sinto que às vezes ainda me ilumino. Tempos outros. Da Vinci não morreu. Em algum lugar existe um lugar silencioso: dentro de nós. Mas hoje não. Urbano, demasiado urbano. Não me dou importância; vou envelhecer na desinteligência. Só acho que as pessoas precisam fazer o que escrevem. Ou não. Criar é tão comum. Lembro do tempo em que eu pedia de natal folhas em branco, mas ganhei bonecos de guerra. Tudo é especial quando se tem para quem contar. Contei as xícaras de café e os cães de rua nesta tarde. Já esqueci a quantidade. Tenho mania de rascunhos, e nunca entendi a obrigação da redação no vestibular. Não sei muito da vida, mas eu entendo que temos momentos - aqui e ali - raros com pessoas raras. A cara da vida é esperar pelo outro. No fim, somos todos geniais quando falamos sozinhos. O resto é gordura.


Ígor Andrade

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2 comentários:

Marcelino disse...

Li ontem e resolvi relê-lo hoje para dizer o quanto eu gostei deste texto com suas citações e intertextos: fantástico.

Ígor Andrade disse...

Valeu, meu amigo!