sendo eu mesmo o único poema em que me escrevo.
Ruas vazias ao amanhecer
enquanto o tempo passa
e eu despercebido
na ausência do silêncio
aqui dentro.
Nunca encontrei ressonância alguma
no cheiro de terra molhada
e nessa espera do calor subir.
Às vezes me vejo como uma calçada
cinza e com fendas que vão daqui ao Japão.
Procuro pés que pisem em mim com cuidado
suave como o caminhar de um rinoceronte...
O mormaço da alma
de certo é a perda de memória.
Incomoda os imbecis.
Muitos por aí falam de dor
mas não a carregam como eu.
Muitos bebem, fazem sexo ou se masturbam
e esquecem que vão morrer.
A morte é uma constante absurda
na minha fatídica existência.
(Pelo menos eu existo
ou logo penso...
Vai saber!)
Muitos por aí
vivem por acolá
enquanto eu
procuro meu aqui.
Acho que o sentido de qualquer vida
é esgotar os horizontes
tomando café
e lembrando da noite
que não tivemos.
A vida deve ser apenas um domingo
em que vou dormir sem hora pra acordar.
Ígor Andrade
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