que mal passou
e nem passa?
Um homem parado
na janela
disfarça
a vida.
Domingo é isso:
falta de compromisso.
Dia bobo de missa.
O povo pede
pra qualquer deus:
preguiça.
Coragem mesmo pra pensar
só poucos têm...
As aventuras de Robson Crusoé
enfrentando o ócio de Matusalém.
Hoje só a palavra do náufrago me interessa.
Não tenho calma
nem tampouco pressa.
O retrocesso da raça...
Cadê minha compressa?
Meu ombro dói.
E tudo neste domingo foi
cinza
como os corpos carbonizados em Pompéia.
(Vesúvio veste-se de carrasco
e acaba com a graça dos sorrisos levianos.)
Levei décadas para perceber
que domingo é o melhor dia
pelo menos pra mim.
Como um leão banido do bando
procuro sombra e comida
agora sozinho
e não reclamo.
E todo mundo segue seguindo.
É a vida.
Há uma semana atrás
uma data pra se pensar:
dia nove de outubro.
Dia em que nasceu Lennon
e morreu Guevara.
Mas deixa pra lá.
Ninguém sabe do que estou falando.
Viver no desatino da palavra
é o que quero.
E eu só espero
o próximo verso.
Diante de todo absurdo
este domingo está em mim.
Ígor Andrade
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4 comentários:
Um domingo com Guevara, Lennon, Robison Crusoé e um leão banido do bando é um domingo delicioso, poético. Nada de preguiça, nada de indolência: pensa na desolação do leão, na coragem do Che,na amor pela vida do personagem ilhado, na arte de Lennon, junta tudo e vive assim todos os dias da semana.
Doideira, não é?
Abração, meu amigo!
Um domingo para encontrar (-se).
Sempre, Rebeca.
Abraço!
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