Não consigo dormir.
Não consigo dormir.
Não consigo.
Meu peito carrega uma manada galopando desgovernada pro sul.
Apolo sem colo treme no solo da solidão...
O pânico é o irmão
e é também a cara
do antes de amanhecer.
Engasgo com um poema com gosto de sal.
Estou mal
mas passa.
Devassa devassa devassa
madrugada.
Não consigo dormir.
E não consigo esquecer.
Eu me sinto abandonado.
(Mas por quem?)
E sei que é triste aceitar isso.
Não consigo dormir.
E sinto saudade de quem nem conheci direito.
Meu peito.
Meu peito
meu.
Algo se perdeu
em alguma filosofia
de quem se acha.
Nada agora se encaixa
na metafísica desse silêncio.
A borboleta que bate asas em Tóquio
e toda a loucura da teoria do caos.
O cão
chorando no quintal do vizinho.
Escrevo sozinho.
Escrevo sozinho.
Escrevo sozinho.
O canto adiantado do primeiro passarinho.
Eu não entendo mais nada.
Eu nunca entendi nada.
Eu.
Algo se perdeu
em mim
e parecia nós
e parecia um laço.
Disfarço dor com verso
e sem cor o verbo
conjuga todo tempo errado.
Não entendo de palíndromo
e não consigo dormir.
Ígor Andrade
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5 comentários:
Coração numeroso.
Só dorme quem boia. Quem nada afoga no mar da agonia.
Ainda bem que quando a gente não consegue seguir isso (porque às vezes é impossível, rs) surge o barco chamado Letra e nele a gente descansa do esforço inútil :)
Belo poema!!
Bjs,
Como um peito que é seu pode se derreter por uma dor que vem do outro? que ele se apossa assim, do nada e nos deixa sem rumo? Anatomia toda errada.
Beijo!
"Disfarço dor com verso". E disfarçou muito bem! Gostei dos versos, Igor. Parabéns. Bjs ;)
Caro Igor,
De tanto fantasiar de versos nossas dores, nossa poesia virou um circo de horrores... como dói...
Beijos, apareça... VERA CELMS
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