de quando era criança
e pensava ser adulto.
E fazia tempo
que não sentia isso...
Tudo era tão grandioso.
Eu era tão grandioso
mesmo pequeno.
Todo amor que tinha
e não sabia como usar
(Julgo não saber usá-lo,
até hoje!)
era imaginário demais
e me bastava.
Hoje nada me basta.
Nada me basta.
Basta.
Estou desempregado
porque quero.
A mulher que eu amo
está longe
mesmo perto
(e isso eu não quero).
Estou com fome
do que não sei cozinhar.
Preciso da casa antiga
de muro azul
e do céu que era
da cor que eu quisesse.
Antes eu conseguia sorrir
sem querer.
Tornei-me poeta desde então.
Não mais construo castelos
no quintal do meu avô
e isso me desanima.
Eu pegava limão no pé
fazia limonada
mas não bebia limonada.
Eu bebia a experiência
da vida maternal de Dona Augusta.
Já não bebo mais
a experimentação
da cozinha da vovó.
Sinto a sede
do filho que terei.
Onde cabe tanta coisa
aqui dentro
que eu não sei controlar
muito menos sei pra que serve
aqui fora?
Ígor Andrade
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2 comentários:
Muito belo. Fez-me "viajar" na minha infância. Lembranças... Parabéns!
"Antes eu conseguia sorrir sem querer. Tornei-me poeta desde então" Li este trecho e ele derrotou o possível ar melancólico que vinha senod engendrado nos versos anteriores e que foi perseguido nos versos em sequência. Achei isso muito bom: aparecer a ponta de um iceberg de esperança num Atlântico de lágrimas; o tornar-se poeta é provocar alegria em quem lê.
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