"Quanto mais me elevo, menor fico aos olhos de quem não sabe voar." Friedrich Nietzsche
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
A tarde de sexta
A tarde de sexta
parece a noite de sábado.
E eu sempre me sentindo madrugada de domingo...
Caminho por este mundo redondo
que me deixa quadrado
na cegueira de tantos ângulos.
É tarde, e nesta tarde me sinto cedo.
Cedo este poema para a eternidade.
Eterna idade aquela que eu tinha
quando guerreava com meus bonecos de soldado.
Enfim, minha guerra continua.
As palavras são as armas de hoje.
Disparo o olhar
que é tudo que tenho
sem atingir uma alma sequer.
Aprendi a olhar sem os olhos
assim como aprendi a voar com as mãos.
Minha vida cheia de pausas
e extremidades.
Entre a caminhada sob este sol
e a vontade de voltar pra casa só
escrever é tudo que tenho.
O bar em frente ao banco
celebra o encontro
toda sexta, de senhores velhos amigos.
E eu me pergunto:
" - Até quando tanto sofrimento?"
Me irrito por pouco
e todo pouco no fim
será o muito que tenho.
Sempre serei um homem de poucos amigos.
Sempre serei um homem de amigos poucos.
As garotas da lanchonete da esquina arrumam as mesas e cadeiras na calçada.
Nunca comi uma pizza de lá.
Observo demais e absorvo de menos.
Absorto e demasiado é o tempo que penso não ter.
Ontem conversei com uma amiga
sobre a percepção.
Hoje percebo uma amiga
que conversa sobre o agora.
A confusão sou eu.
Não posso falar do amanhã
se o ontem ainda existe.
Um carro bateu numa moto.
Não teve nenhum morto.
O sinal quebrou
e o povo não tem paciência.
A ciência do meu caos é o que ninguém explica!
Meu imediatismo de hoje diz que devo
perseguir o traço
e escrever pro cansaço.
Não desejo esquecer o pouco que tenho
e hoje, a tarde de sexta é tão minha que não consigo explicar.
Ígor Andrade
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8 comentários:
Admiro quem consegue traduzir o cotidiano, alcançar nele os sentimentos, sentidos e abismos.
É coisa para bons observadores.
Se permite, acho que não é uma questão de pouca absorção, você aprendeu a filtrar o que absorve.
E que lindeza esse espaço, volto.
CLARO.
Aprecio muitíssimo a urbanidade de tua poesia.
Não sei quanto às outras almas,
mas o teu olhar atinge em cheio a minha.
Em tempos outros, foi "Tabacaria".
Hoje, são bares e lanchonetes.
E a tua genialidade me faz lembrar o grande poeta de Lisboa.
Um beijo.
Loridane, grande abraço!
Valeu, Dan. Abraço!
Talita, nem sei o que dizer...
Abração!
Nossa, perfeito! Adoro encontrar-me em tua poesia, porque é em cheio!
Beijo.
Saudade da sua poesia, Larinha...
Abração!
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