Saio de casa nesta manhã
sem amanhã
e cheio de ontem.
Calculo quinhentos e tantos quilômetros
Calculo quinhentos e tantos quilômetros
que passarei tentando imaginar
um processo de cura nesta viagem.
Cura de não sei o quê
Cura de não sei o quê
numa distância de não sei pra onde.
Passo horas
Passo horas
numa estrada interminável
num calor miserável
e sinto medo do horizonte.
Sou pequeno demais...
Esqueço
Sou pequeno demais...
Esqueço
por uns momentos
da minha tacofobia
mas a acrofobia não me deixa.
Hosana nas alturas!
E não me interessa o significado disso.
Eu sabia que ia ser difícil sair de casa
e também sabia que deveria me enfrentar menos.
Qualquer mais é um perigo
pra quem não sabe determinar valor.
Animais mortos na estrada.
E eu não sei o que é viver!
O homem e a estrada
sem fim.
O homem e a estrada
sem mim.
O homem e a estrada
enfim.
Quase posso tocar o céu
em algum momento.
Meus olhos são minha poesia.
Palavra quente e fria
que ainda vai me matar.
Quantos buracos são necessários
para preencher o meu vazio na estrada?
Quantos vazios são necessários
para preencher um buraco da estrada?
Estou só o pó.
E antes de Mossoró
tenho um nó
na garganta.
na garganta.
Lampião sorri no inferno.
Cidade aberta
alerta atenta
artéria aorta
transporta a carcaça morta
de um homem cansado.
Tráfego...
Circulo perdido em mim.
(Por algum motivo
lembro da música "Strawberry Fields Forever"
lembro de Lennon
e lembro dos meus cães.
A saudade de casa é uma ansiedade sem cura.
Dura por uma vida inteira de milionésimos de segundos.)
Horas de viagem
e caminhões.
Horas de viagem
e nascimentos.
Horas de viagem
e eu não chego nunca.
Agora entendo o surrealismo de Salvador Dali,
o grande salto da humanidade
e o deslocamento desnecessário.
O mato seco
seca a vista.
Pedras pedras pedras.
Sou uma pedra que nem saiu de casa ainda...
Ígor Andrade
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