com o cheiro de batata frita
lembrando duma infância despreocupada.
Vejo um deficiente tentando atravessar
a rua.
A rua
me atravessa os olhos.
Um vira-lata me encara
como gente
e me sinto um cão.
(Lembro do livro
A Metamorfose
de Kafka...
O mundo será dos insetos.
Certeza disso.)
Num poste um cartaz:
Estrela Guia traz o seu amado.
E eu tenho certeza que alguém acredita nisso.
E tudo termina na outra esquina.
Atrás da vidraça da lanchonete
dois senhores grisalhos conversam
provavelmente sobre a vida que não tiveram.
(Falo sobre a vida
e sei que no quarteirão seguinte
na praça recém-inaugurada
os pombos serão indiferentes.)
Ígor Andrade
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3 comentários:
Porra, magistral!
Uma quadra de poesia, irmão!
Às vezes nossas vidas ficam pelas esquinas, ainda bem que a poesia nos resgata, nos devolve esses trechos vividos, poesias como essa tua, parabéns!
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