o caminho.
Nas calçadas cansadas
o canto triste
como o de um passarinho
engaiolado.
Eu não tenho ninho
neste mundo
mas tenho passado
e tenho pensado
muito
em voar.
(O futuro é a asa quebrada
de quem não consegue pousar.)
Versos que me guiam
nos céus que imagino...
Uma coisa é certa:
Não morro por falta de assunto.
E também não deixo de escrever.
Escrevo mais
quando caminho.
Escrevo meu caminho
nas tardes
em que carrego a noite no plexo
sem desespero.
Muito embora a palavra desespero
me desespera.
É a espera
da palavra certa
que me agiganta.
A palavra de hoje é paciência
seja com o que for.
E eu já fui
um sujeito mais agoniado.
Eu sei que toda agonia tem lá uma sublimação do cosmos.
E é na busca de qualquer harmonia que descanso meus pensamentos...
Pensar e pesar
o que penso
sem peso.
Coeso
é o juízo dos cães
que me parecem mais humanos do que nós.
Nós...
todos próximos
mas distantes...
Sinto sede
e sinto fome
e me recomendam fé.
A humanidade é
o medo de não acreditar
em nada.
Minha vida está bagunçada
e eu não quero arrumar.
Já basta o que tenho dormido pouco.
O louco cochila
no verbo presente.
Certo é o bêbado
e seu tombo
na calçada.
Certo é o pombo
que atravessa a rua
sem consciência.
Hoje na fila do caixa
abri a caixa de Pandora
de olhos fechados...
Hoje alguém
em alguma outra fila chora
e a senhora da frente ora
com um terço na mão
para um deus esquecido.
Ígor Andrade
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5 comentários:
"Caminante no hay camino/ Se hace camino al andar" , já nos dizia Antonio Machado, grande expoente da Literatura espanhola, e o teu poema é desses que vai sendo construído à medida que a caneta vai andando no papel (ou o dedo no teclado), ao menos foi essa a impressão q tive ao lê-lo
Cara, deixou-me reflexiva em frente a tela de meu computador... mui belas palavras, meu caro. Parabéns! i/
Me deixou a pensar ao ler-te, querido. Assim é que gosto. Gosto de refletir, gosto de pensar no que li, gosto do que escreve, gosto de teus versos...sempre. Beijos.
Au revoir!
Você acertou, Marcelino.
Grande abraço!
Valeu, Karla e Natalia. Vocês possuem um olhar apurado da poesia.
Abraços!
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